A Fé Sem Obras é Morta

Data: quinta-feira, 8 de abril de 2004

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A Fé Sem Obras é Morta Existem teólogos que propagam a "salvação pelo sangue do Cordeiro", independente de obras.

A fé no Jesus histórico garante a salvação, dizem eles.

A Bíblia protestante registra a seguinte frase:

"Havendo feito a paz pelo sangue da sua cruz (...) reconciliou consigo todas as coisas(,,,)".

Está lá em Colossenses, 1 v 20.

A tradução é de João Ferreira de Almeida.

Para princípio de conversa, a cruz não tem sangue.

Existe algo inexplicável na frase do apóstolo Paulo.

É estranho que Deus permita uma falha destas no seu "Livro"?

A resposta só pode ser uma: o Espírito Santo queria reforçar o conceito de que o "sangue" nunca passou de um símbolo.

Por "linhas tortas", Deus terminou acertando a escrita.

Se o propósito foi este - tudo bem: nossa discordância terminou.

Se o Espírito Santo inspirou a frase truncada para suscitar reflexão, o malentendido não existe mais.

Fica estabelecido entre nós, portanto, um acordo de cavalheiros:

Todas as vezes que o Evangelho fala no "sangue" redentor está expressando uma verdade simbólica.

A hora já é chegada de repensarmos antigos conceitos:

Estudiosos da Bíblia vem martelando a tecla do "sangue", colocando o "sangue" de Jesus acima do "amor" de Jesus.

É o "amor" do Cristo que nos redime, meus amigos.

Apontando "sangue da cruz", este texto tornou o simbolismo duplamente evidente.

Qualquer criança sabe que a cruz não tem sangue.

Infelizmente, muita gente materializa seus icones, para torná-los mais lucrativos.

Sendo mais palpável que o "amor", o "sangue" é mais real, e portanto mais negociável.

Por isso, na "guerra" declarada entre as religiões, o "sangue" se tornou artigo de primeira necessidade.

Aliás, a propósito desta doutrina da salvação fácil, eu encontrei palavras contundentes do jornalista Carlos Imbassahy:

"Se a graça é geral"- escreveu ele - "já não é graça, é lei".

"Se recai sobre alguém que a merece - é prêmio".

"Se é dada de graça a alguns, sem que se saiba por que é privilégio... é filhotismo..."

"Então esta graça já não tem graça nenhuma".

"Seria, sem dúvida, uma injustiça, e não pode haver injustiça na obra de Deus".

Concordamos em gênero, número e grau com este jornalista.

Chegou a hora de divulgarmos a verdade sem véu:

Sem esforço, ninguém se salvará.

Infelizmente, o "sangue" de Jesus está se tornando "patente" de marca...

..."Made in" igreja tal.

E cada vez vão surgindo mais igrejas.

Por que tantas denominações e tantos líderes disputando o mesmo troféu?

Esta pergunta nós deixamos no ar.

No Velho Testamento, os sacerdotes recolhiam o sangue dos animais, para cobrir pecados.

No tempo de Jesus a "bola da vez" era ser filho de Abraão.

Sempre a mesma coisa: salvação fácil.

João Batista brigou com estes falsos pregoeiros da redenção sem obras..

- "Raça de víboras", disse ele, "quem vos induziu a fugir da ira vindoura? Produzi frutos de arrependimento, ao invés de ficar apregoando: somos filhos de Abraão".

Lucas, 3 vv 7 e 8.

Vejam só: Para João Batista as obras tinham prioridade.

"Contentai-vos com o vosso soldo"- disse ele, reprimindo a ganância dos soldados.

Não adianta ficarmos cantando hinos, com medo do inferno.

Isto não salva ninguém.

O certo é vivermos na trilha do divino.

O Profeta do Deserto foi muito claro: primeiro demonstrações de arrependimento...

...depois... muito depois... reivindicações de prêmios.

Fórmulas não salvam...

Cerimônias não salvam...

Igrejas não salvam...

Admitindo que alguém vença o pecado, quem terá sido, afinal, o seu redentor?

A resposta se encontra no capítulo 1 do Quarto Evangelho, versículo 9:

- Aquela "luz que ilumina todo o homem" será a nossa redenção.

O nosso "Cristo Interno" nos redimirá.

O Jesus histórico desceu à terra, por um ato de amor.

Por este amor, Jesus se tornou Cristo, e agora o Cristo vive em todas as criaturas.

"Eu estarei convosco, todos os dias, até a consumação dos séculos", disse Ele.

Sofrimento e sangue, como energias negativas, não têm poder.

Sofrimento e sangue são apenas uma prova do interesse divino por nós.

A redenção é uma semente que foi plantada dentro de cada pessoa.

Se o Cristo está em nosso interior, por que nós precisaremos buscá-lo fora de nós?

Nesta altura, uma pergunta é inevitável:

- Será que também os ímpios possuem esta luz?

Como resposta, diremos que o nosso grau de progresso não está sendo julgado.

Vejam que o texto fala que a luz "ilumina todo homem".

Também o malfeitor é filho do Pai Celestial.

Se todos saímos das mãos de Deus, nós somos seus filhos.

Ninguém esqueça que a semente do carvalho possui todas as características da árvore que um dia se erguerá.

A semente não chega a ser uma árvore, mas, potencialmente, o mapa está dentro dela.

O espermatozóide antecipa a forma do corpo humano.

Todos nós, meus amigos, somos embriões de anjos...

A luz divina é patrimônio de todos, sem exceção, seja muçulmano, católico ou espírita.

Deus sabe que a semente será árvore...

...que o espermatozóide será um ser humano...

E que todos nós, um dia, seremos anjos.

O próprio Jesus apontou criaturas imperfeitas do seu tempo, dizendo-lhes: "Sois deuses!"

Palavras do Grande Mestre em João, 10 v 34.

Apesar disto, há quem diga:

Só os que aceitam Jesus se tornam "filhos de Deus"?

Na verdade, um pequeno texto alimenta esta polêmica:

"A todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus".

João, 1 v 12.

Este tem sido um "prato cheio" para defesa de grupos fechados, que discriminam os demais.

É aquela velha teoria: Ou aceitas a igreja, ou morrerás "pagão".

- Os daqui são filhos de Deus, dizem eles.

Quem estiver do outro lado não passa de "criatura".

Os daqui são inspirados pelo Espírito Santo...

Aqueloutros recebem o demônio.

Nada presta na casa de oração do outro lado da rua...

Orgulho e preconceito fazem estragos, nesta vergonhosa disputa pelo enriquecimento do "cofre" das religiões.

O Salmo 82 v 6, todavia, não endossa esta discriminação vergonhosa.

Palavras do próprio Deus: "Eu disse: Vós sois deuses, e todos vós sois filhos do Altíssimo". Salmo 82 v 6.

Jesus ainda não nascera, para que o aceitassem, e o Salmista já apontava:

- "Todos vós sois filhos do Altíssimo".

Aqui cabe uma explicação:

Estará o Evangelho em conflito com o Livro dos Salmos?

Afinal, para se tornar "filho", o Evangelista escreveu que é preciso "receber" Jesus?

O texto fala que o "Cristo" nos concede este "poder", e ao mesmo tempo determina condições para seu exercício.

Em nosso entendimento, o exercício do direito é opcional.

Não esqueçamos das palavras do apóstolo Paulo:

"(...) onde está o Espírito do Senhor, aí existe liberdade".

II Coríntios, 3 v 17.

Receber o Cristo significa, portanto, reconhecer a sua presença em nosso interior...

...e isto não depende nem de sacerdotes nem de igrejas...

É uma opção totalmente pessoal.

O poder é uma força mágica e o seu exercício é uma disposição de nossa vontade.

O ateu não reconhece a paternidade divina, porque nega Deus.

O Pai Criador não discute...

...Respeita o seu livre arbítrio.

Nem por isso ele deixa de ser filho de Deus.

De repente, o ateu despertará e reconhecerá sua filiação...

Isto será "receber"Jesus.

Esta interpretação afasta o aparente preconceito contido no Quarto Evangelho e confirma o Salmista:

"(...) todos vós sois filhos do Altíssimo". Salmo 82 v 6.

Isto eu chamo interpretação universalista da Bíblia.

Estes dias, eu li um adesivo com a frase: "O sangue de Jesus Cristo nos purifica de todo o pecado".

Na forma com está, esta frase parece isentar o pecador de qualquer esforço.

Este é o propósito dos seus divulgadores.

Segundo eles, a salvação é de graça...

Jesus já morreu na cruz...e pronto!

A promissória da dívida foi saldada.

Para nós, entretanto, que laboramos em termos de uma Bíblia integral, a coisa não é bem assim.

Eles só usaram uma parte do versículo.

O texto completo expressa outra coisa:

"Se andarmos na luz, como Ele" ( Deus) "está na luz, mantemos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus Cristo nos purifica de todo o pecado". I João, 1, v 7.

Exposto por inteiro, o pensamento do Evangelista é outro:

Se você é um iluminado, para você o sacrifício e o "sangue" de Jesus não foram vãos.

As reencarnações só existem para pecadores como eu.

Quem andar na "luz" estará na trilha certa.

"Eis que depressa virei"- diz Jesus, no Apocalipse, "e meu galardão anda comigo, para recompensar a cada um segundo suas obras".

Palavras de Jesus, em Apocalipse, 22 v 12.

Existe outra frase de Paulo bastante polêmica.

Ele diz que a "salvação não vem pelas obras, para que ninguém se glorie".

O texto completo é o seguinte: "Pela graça sois salvos, mediante a fé, e isto não vem de vós: é dom de Deus. Não vem pelas obras, para que ninguém se glorie". Efésios, 2 vv 8 e 9.

Paulo tem razão:

Mesmo depois de inúmeras reencarnações, é a "graça" de Deus que nos salva...e a fé é o caminho para esta graça.

Eu não vejo conflito entre Paulo e a reencarnação.

Se encarnássemos uma única vez, como dizem os teólogos, a graça nos salvaria.

Muito bem!

Reencarnando inúmeras vezes, a mesma graça, em última análise, nos dará a "carta de alforria".

Se o Criador não usasse de misericórdia, ao primeiro crime hediondo e Ele nos teria destruído.

Se continuamos aqui é porque Deus tem sido paciente.

Pela graça de Deus, nós não fomos condenados à prisão perpétua, já no primeiro crime..

Agora, vamos analisar estas palavras - "não vem pelas obras, para que ninguém se glorie".

Elementar, meu caro Watson: Ele falava do volume das obras.

O banqueiro poderia se gloriar de ser mais caridoso que o bancário, porque o banqueiro tem mais recursos.

Ele compraria o "Céu" com seus dólares.

Exaltando a esmola da viúva, Jesus definiu esta situação.

"Verdadeiramente, esta mulher deu mais do que os outros".

E ela dera apenas dois centavos.

O apóstolo Paulo explicou a mesma coisa: Não é volume das obras que pesa na balança: é a qualidade.

Aliás, em matéria de obras, o apóstolo Tiago nos oferece a maior de todas as lições:

"A fé sem obras é morta", escreveu ele.

Você acha que alguém pode "torcer" tanta clareza?

É verdade! A Bíblia nos proporciona muitas licões da relevância das obras, mas o apóstolo Tiago é o maior dentre os seus defensores. Foi ele quem disse: "Mostra-me a tua fé sem obras, e eu pelas obras te mostrarei a minha fé.

Tu acreditas que há um Deus? Muito bem! Mas até os demônios acreditam nisto".

Tiago, 2 vv 18 e 19.

Os espíritos malignos que Jesus expulsava gritavam:

"Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo".

Apesar desta confissão, tais espíritos continuavam malignos.

Ninguém se iluda: confessar o Jesus histórico não salva.

É necessário muito mais do que isto: Todos nós deveremos ser artífices da nossa própria salvação.

"Olha que já estás curado", disse Jesus ao paralítico de Betesda. "Não peques mais, para que não te aconteça coisa pior".

João, 5 v 14.

O próprio Jesus que fizera o paralítico andar o advertiu: "Não peques mais para que não te aconteça coisa pior".

Fica claro que o paralítico não foi "vacinado", para "dormir em berço esplêndido", sem esforço pessoal.

Agora, depois de curado, a continuidade da benção estava em suas mãos: ele não poderia "deixar cair a peteca".

Reincidir no mesmo pecado significaria o retorno da doença, ainda mais perniciosa.

Movido pela compaixão, Jesus o livrara daquele mal perverso.

Agora, ele teria de caminhar com suas próprias pernas.

"Não peques mais, para que não te aconteça coisa pior".

Em nossos tempos, o cristão "bate no peito" três vezes, grita Senhor...Senhor duas vezes, e pronto: Já merece o Céu.

Ele já exige "a posse da benção".

Os cristãos modernos já não mais suplicam proteção...

Estão sendo ensinados a exigir a "posse da bênção", como se Deus fosse um servo.

O que terá acontecido para que tanta gente entre nesta de "salvação fácil"?

Talvez seja comodismo...

A maioria prefere receber tudo mastigadinho...e até digerido...

...E o resultado tem sido lucrativo para muita gente, que usa Jesus no estandarte.

É inegável que o "dom gratuito" de Deus está sendo negociado.

Para vender seu "peixe", um pregador nosso conhecido usava palavras do profeta Isaias:

"Se os vossos pecados forem como a escarlate, eles se tornarão brancos como a neve.

Se forem vermelhos como carmezim, se tornarão alvos como a lã", dizia ele, baseado em Isaias, capítulo 1 v 18.

Sem esforço nenhum, os pecados mudariam de cor...

Fiz uma sugestão ao estudioso da Bíblia: Por favor, amigo, antes do versículo 18, leia também os versículos 16 e 17.

Ele caíu das nuvens.

O trecho nada continha de gratuidade.

O texto de Isaias é um convite ao trabalho de edificação pessoal e de socorro em favor do nosso próximo.

É no trabalho fraterno que nós conseguiremos modificar as cores dos nossos pecados.

O texto é muito claro:

"Lavai-vos, purificai-vos, tirai a maldade de vossos atos de frente dos meus olhos: cessai de fazer o mal".

"Aprendei a fazer o bem; atendei a justiça, repreendei o opressor. Defendei a causa das viúvas e dos órfãos".

Isaias, capítulo 1 vv 16 e 17.

Esta é a única maneira que conhecemos para o nosso crescimento espiritual.

No versículo seguinte aparece o prêmio:

"(...) ainda que os vossos pecados sejam como a escarlate, eles se tornarão brancos como a neve; ainda que sejam vermelhos como carmezim ficarão alvos como a lã". Isaias, 1 v 18.

Isto coincide, em gênero e número, com a nossa pregação.

Não existem fórmulas secretas ou cerimônias mágicas para que eu me livre de completar meu trabalho.

Aquilo "que o homem semear", com certeza "ele colherá".

"Cada um receberá segundo suas obras".

Louvado seja Deus.


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