Data: quinta-feira, 8 de abril de 2004
Esta suposição não é verdadeira.
Considero marcante a personalidade deste rei dos Judeus.
Agora, não posso aceitá-lo, naqueles pontos em que sua doutrina contradiz Jesus.
Em matéria conflitante, eu me torno intransigente.
Uma coisa precisa ficar bem clara: em rota de colisão, a rejeição não atinge tão somente o velho Rei.
Todas as vezes que existirem controvérsias entre escritor da Bíblia e a figura do Mestre, eu estarei sempre ao lado do Mestre.
Um exemplo: o Pentateuco Mosaico recomenda vingança - "dente por dente, olho por olho".
Jesus ensina:
"Amai aos vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem e caluniam". Mateus, 5, vv 44 e 45.
Estas duas doutrinas antagônicas estão na Bíblia.
Qual delas nós deveremos aceitar?
A recomendação de Moisés ou o ensinamento de Jesus?
De minha parte, disparado, eu fico com Jesus.
Moisés está nos degraus de baixo.
Salomão se encontra nos escalões inferiores.
Jesus, no meu ponto de vista, está no alto da pirâmide.
Todas as vezes que aparecerem doutrinas contrariando Jesus, eu não posso aceitá-las, mesmo que estejam na Bíblia.
Há uma frase do Mestre, entretanto, que parece "embolar todo o meio de campo".
É a seguinte:
"Não julgueis que vim abolir a lei e os profetas; não os vim abolir e sim levá-los à perfeição."
Mateus, 5 v 17.
Quando lemos uma frase da lei antiga, recomendando "olho por olho, dente por dente", não acreditamos que isto possa ser aperfeiçoado. Afinal, esta recomendação não se coaduna, absolutamente, com os postulados do cristianismo.
Como estabelecer vínculo entre vingança e perdão?
Como encontrar semelhança entre um tapa no rosto e um beijo no rosto?
São coisas completamente incompatíveis.
Quando Moisés recomenda: "Odiarás o teu inimigo."
E Jesus diz: "Amai aos vossos inimigos."
Ambos estão falando de coisas diferentes.
Sem qualquer dúvida, o Mestre veio abolir a vingança, que era um dos postulados da lei mosaica.
Mais lenha foi colocada na fogueira pelo próprio Jesus:
"A Lei e os profetas vigoraram até o tempo de João; desde então é anunciado o Evangelho do Reino de Deus."
Lucas, 16, v 16.
Acredito que Jesus deixou bem claro, com estas palavras, que houve um divisor de águas.
Após João Batista, os tempos se tornaram outros.
Nascera um um novo ciclo!
Muitas coisas haviam sido permitidas "por causa da dureza de coração daquela gente."
Com a eclosão do Evangelho, tais ervas daninhas tinham que ser arrancadas e lançadas ao fogo.
Não há mais lugar para ensinamentos contrários ao Sermão da Montanha.
Observem uma coisa:
Os homens já foram canibais, para pejo e desonra de todos nós, que já não somos canibais...
Hoje, nós nos alimentamos de carnes de bichos...
Amanhã, nossa espécie sentirá vergonha das refeições de seus ancestrais carnívoros.
Teremos que admitir:
Cada ciclo é um novo passo, no caminho do aperfeiçoamento.
A Bíblia é uma coleção de livros escritos por seres humanos.
Até onde vai a inspiração divina?
No meu entendimento, somos inspirados na exata proporção da nossa afinidade com Deus.
Somente Jesus gozou cem por cento desta afinidade.
Portanto, o Mestre é dentre todos o único beneficiado pela totalidade da inspiração.
Os demais colocaram o seu estilo pessoal no texto.
É inegável a influência dos elementos culturais da época.
A tradição e os costumes deixaram suas marcas.
O Apóstolo Paulo circuncidou Timóteo para agradar os judeus. "Quis Paulo, que ele" (Timóteo) "fosse em sua companhia, e, por isso circuncidou-o, por causa dos judeus daqueles lugares ".
Atos 16, v 3.
Imaginem o absurdo: um "Homem de Deus" fazendo "média".
Isto aí eu considero um verdadeiro "estelionato" por parte do apóstolo Paulo.
Só porque está na Bíblia, vocês acham que o procedimento do Apóstolo é fruto de inspiração divina?
Neste caso, vamos todos proclamar aos quatro ventos a obrigatoriedade da circuncisão...
... E teremos que retornar ao ciclo mosaico...
...renunciar ao cristianismo, e optar por Moisés como nosso Mestre.
Apesar de incansável batalhador para desvincular o
cristianismo da lei antiga, Paulo se acovardou inúmeras vezes.
Ele brigou com Pedro, criticando sua falta de coerência:
"Se tu, sendo judeu, vives como gentio, por que obrigas os gentios a viver como judeus".
Gálatas, 2 v 14.
São palavras ásperas condenando seu colega como hipócrita.
E ele divulga aquilo, numa carta, para exaltação do seu zelo. A despeito desta sua "bravata", no caso da circuncisão de Timóteo, ele procedeu muito pior.
Ele cedeu, em suas convicções, tornando-se hipócrita.
Conclusão: Ninguém cresce, espiritualmente, num segundo.
Só Jesus já desceu santo e perfeito.
Deus é o dono da eternidade.
As coisas divinas, porém, são cíclicas.
Elas vão se transformando no ritmo lento do progresso.
A Bíblia não poderia escapar deste ajuste.
Ela representa, também, o nosso rosto marcado de imperfeições.
Jesus estava além do Jordão, quando foi procurado pelos fariseus, que lhe fizeram a seguinte pergunta:
"Por que mandou Moisés dar carta de divórcio e repudiar nossas mulheres?
Respondeu-lhes Jesus: Por causa da dureza de vosso coração é que Moisés vos permitiu repudiar vossas mulheres; entretanto, não foi assim desde o princípio".
Mateus, 19 vv 7 e 8.
Este pequeno texto nos favorece algumas conclusões muito importantes.
A frase "não foi assim desde o princípio" nos abre horizontes.
Ela nos sugere que existe uma lei maior, atrás dos preceitos e regulamentos humanos.
Esta lei não depende de livros, nem de pedras, nem de montanhas, nem de relâmpagos e nem de trovões...
Ela é intuitiva.
Ela dorme na consciência universal do homem.
Ela é uma lei irrevogável...eterna!
Foi desta lei que Jesus falava, quando disse:
"Não julgueis que vim abolir a Lei e os profetas. "
Embora Moisés tenha se obrigado a legislar preceitos dissonantes, ele também foi vítima da época em que viveu.
Ele se curvou diante do inevitável.
A "dureza de coração" dos seres humanos escondeu, temporariamente, a extrema bondade do Senhor Deus.
Interpretando assim, o mistério se desfaz!
Tudo se encaixa, com a precisão de um relógio.
A lei é uma só: as variantes são consequência da curva ascensional do progresso humano.
E é Jesus, sempre, com toda a sua autoridade, que simplifica e esclarece as controvérsias.
"Mestre, perguntou um fariseu. Qual é o grande mandamento da lei?
Jesus lhe disse: Amarás ao Senhor Teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento.
Este é o maior, e o primeiro mandamento.
O segundo, semelhante a este, é: amarás a teu próximo como a ti mesmo.
Destes dois mandamentos dependem toda a lei e todos os profetas.".
Mateus, 22 vv 35 a 40.
Simplificando: amar a Deus e ao próximo.
A lei universal de que falamos a pouco, portanto, é esta: amor a Deus e amor ao nosso semelhante.
Nestas poucas palavras, encontramos a síntese dos códigos, desde o princípio dos tempos.
Fora disso, tudo o que se escreveu, inclusive na Bíblia, foi provisório... para disciplinar o homem.
Todos estes códigos visaram o enquadramento do espírito dentro de razoáveis parâmetros de conduta.
No Velho Testamento, Moisés falava em vingança "olho por olho e dente por dente"
Ele teve que engolir a pílula amargosa, mesmo não sendo favorável a ela.
Ele não tinha alternativa.
Aquele povo não estava em condições de aceitar uma doutrina que pregasse o perdão.
Se ele falasse em amor, aquela gente passaria em cima dele, como um rolo compressor.
Estes dias, alguém me disse, com certa irritação:
- ÉÉÉ! mas o sábado está no Decálogo, como dia de descanso obrigatório.
Eu respondi:
- Muito bem! Todos temos que ter um dia de descanso. Faz bem para o corpo! Faz bem para a alma! Faz bem para a mente!
- Não é bem assim! - retrucou o rapaz. O sábado deve ser o único dia de descanso. Ele foi santificado por Deus...
- Desculpe, cavalheiro - respondi. Mas eu penso diferente. No meu entendimento, todos os dias são santificados por Deus. Você escolhe um e descansa. Todos os dias são santos.
Na verdade, meus amigos, debates à parte, o que Moisés pretendeu foi obrigar os seus compatriotas a descansar...e com eles os seus escravos, animais de carga, etc., etc.,etc.
Para valorizar o seu código, ele envolveu o seu lançamento com verdadeiro show, para impressionar o seu povo, teimoso e rebelde.
Era a única maneira de forçar o cumprimento da lei.
E já que falamos no sábado, vamos verificar a posição adotada por Jesus, nesta controvérsia.
Em Marcos, 2 vv.23 a 28, é descrito que os discípulos de Jesus colhiam espigas, em dia de sábado.
Os fariseus "caíram de pau" sobre eles exigindo uma posição.
Jesus respondeu calmamente:
"O sábado foi estabelecido por causa do homem, e não o homem por causa do sábado."
Marcos, 2 v 27.
Na opinião do Mestre, portanto, o homem tem precedência.
O sábado veio depois; portanto, é secundário.
O sábado não é essencial.
Vamos analisar outro texto, também bastante elucidativo.
"Mestre, (perguntou o moço rico) que devo fazer para alcançar a vida eterna? E Jesus lhe respondeu: se queres entrar na vida, guarda os mandamentos.
Quais? - perguntou o rapaz. "
E Jesus respondeu: "Não matarás, não adulterarás, não furtarás, não dirás falso testemunho, honra teu pai e tua mãe, e amarás ao teu próximo como a ti mesmo."
Mateus, 10, vv 16 a 19.
De propósito, o Mestre deixou de citar a guarda do sábado. Isto é evidência de que ele não a considerava essencial.
Muitas curas foram realizadas por Jesus, em dia de sábado, e, em todas elas, os fariseus se alvoroçaram contra o Mestre.
Eu nem vou citá-las, pois não as considero importantes.
Afinal, mesmo que alguém admita o sábado como lei, o bom senso desobriga proibições em se tratando de socorro.
Precisaríamos ser muito fanáticos para exigir a cessação de todas as atividades.
Agora existe uma cura de Jesus que é diferente.
Ela mostra que o Nazareno não se encontrava com a menor disposição de acatar o descanso sabático.
Antes, pelo contrário, aquele preceito não tinha lugar em suas cogitações.
Encontramos a narrativa em João, 5, vv 5 a 13.
É aquela famosa cura de um paralítico, no tanque de Betesda.
Ele estava doente, há trinta e oito anos.
Jesus aproximou-se dele, em dia de sábado "e lhe disse: levanta-te, toma o teu leito, e anda!"
"Imediatamente, o homem se viu curado, e tomando sua cama, seguiu caminho."
João, 5, vv 8 e 9.
Observem que ele foi curado antes de transportar a cama.
O transporte nada tem a ver com a cura, e aquele gesto fraterno de Jesus não dependia daquele carreto insólito.
O paralítico já era um homem sadio, quando exercutou o trabalho de carregar sua cama, em dia de sábado.
Jesus o fez trabalhar, em dia de sábado, para mostrar que o Cristão nada tem a ver com os preceitos de Moisés.
Os judeus avançaram, furiosos, em cima do felizardo, gritando:
"Hoje é sábado, e não te é lícito carregar o leito.
Ao que ele lhes respondeu: O mesmo que me curou, me disse: Toma o teu leito e anda!"
João, 5 vv 10 e 11.
Afinal, uma pessoa que tem poder para dizer a outra, que se arrastava no chão: toma o leito e anda... deveria ter muito mais autoridade do que aqueles "reverendos enciumados".
Esta pessoa, com toda a certeza, conhecia muito de sábado... e de outras coisas mais...
Este texto, meus amigos, é um verdadeiro chega p`ra lá nesta exigência da guarda do sábado.
O paralítico não precisava levar a cama nas costas.
Poderia carregar aquele "traste" no dia seguinte.
Já estava curado.
O certo seria comemorar.
Nós percebemos alguma coisa divertida, nesta atitude de Jesus.
Ele parecia gozar da cara séria dos seus adversários, brigando por causa do sábado.
O propósito do Mestre só pode ter sido este: provocar os fariseus, em seus exageros doutrinários...
...Levá-los ao ridículo.
O Nazareno deve ter se divertido bastante, naquele dia.
Atrás de uma coluna, na Porta das Ovelhas, Ele deve ter apreciado, imensamente, a resposta que o paralítico lhes deu:
"O mesmo que me curou, me disse: toma o teu leito e anda!"
Valia a pena ver os fariseus inteiramente perturbados.
O desafio atingiu todos os seus propósitos.
Um sorriso enorme se espalhou pelo rosto do Mestre.
Ele estava feliz!
Mas os fariseus não estavam felizes, não!
Pelo contrário encontravam-se "fulos da vida".
Diz o versículo 18, deste cap. 5 de João, que eles, a partir daí, redobraram esforços para matá-lo, por que ele "violava o sábado".
Além de tudo, Jesus ainda deixara claro, que Deus não precisava de descanso, contrariando a narrativa da Criação.
"Meu Pai trabalha sempre, e eu não cesso de trabalhar."
João, 5 v 17.
Aquele dia, para Jesus, fora completo.
Aliás, até mesmo no Velho testamento, em que o descanso sabático era lei, já existia uma resistência aos fanáticos.
"O incenso é para mim abominação. Neomênia e SÁBADO e outras festividades não sofrerei. Os vossos ajuntamentos são iníquos. A minha alma aborrece as vossas calendas e as vossas solenidades. Estou cansado de as sofrer."
Isaias, 1 vv 13 e 14.
Antes de Jesus descer à terra, Deus já não suportava aquele monte de sábados e solenidades hipócritas, que os fariseus realizavam.
Pelo menos é isto que o texto de Isaias deixa claro.
Vivemos um novo ciclo, onde Jesus reformulou todos os conceitos.
Cristianismo é outro mundo!
"Não adianta colocar remendo novo em pano velho".
Louvado seja Deus.