Morreremos Apenas Uma Vez?

Data: quinta-feira, 8 de abril de 2004

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Recentemente, um pregador na TV acreditou ter dado um xeque-mate na reencarnação.

Uma simples frase do apóstolo Paulo...e pronto.

Estava desmoralizada, na opinião dele, uma doutrina que existia desde muitos milênios antes do nascimento de Jesus.

Todos nós, estudiosos da Bíblia, e pregadores da reencarnação, estávamos no "mato sem cachorro".

Sua voz imitava as trombetas do Apocalipse, quando leu aquele poderoso texto:

"(...) está decretado ao homem morrer uma vez, ao que segue o Juízo".

Hebreus, 9 v 27.

Seria justo que ele abrisse chance para perguntarmos:

- Decreto de quem?

Com certeza, ele teria respondido:

- Ora, só pode ser um decreto de Deus: Está na Bíblia!

Se está decretado por Deus que "morremos uma vez", agora sou eu que pergunto:

- Em que parte do mundo estarão vivendo Lázaro e o filho da Viúva de Naim?

Os dois foram ressuscitados por Jesus.

Tanto aquele rapaz quanto Lázaro já tinham esgotado sua quota de morte.

Eles não poderiam ter morrido segunda vez.

Seria violação do esquema divino, e nós sabemos que um decreto de Deus não pode ser revogado.

O Pai Eterno olhou para nós, e decretou:

Todos deverão morrer "uma vez".

Começa por aí o questionamento.

O próprio apóstolo Paulo, autor da frase, termina gerando incertezas.

Uma noite, em Tróade, ele devolveu à vida a um moço chamado Êutico, que já estava morto.

Diz o texto:

"Então conduziram o rapaz, vivo, que Paulo ressuscitara".

Atos, 20 v 12.

Se o apóstolo Paulo, ele mesmo autor de uma "ressurreição", escreveu que a "morte" nos alcança apenas uma vez, a coisa complica.

Êutico torna-se outro que está na fila das nossas dúvidas.

Estará ele vivo em algum lugar do mundo?

Se o texto diz que devemos morrer uma vez, e alguns morrem duas, algo errado está acontecendo.

De minha parte, eu laboro na premissa de que o texto vem sendo mal interpretado.

O Evangelista Mateus nos fala de ressurreições em massa:

"Abriram-se os sepulcros, e muitos corpos de justos que dormiam, ressuscitaram(...)"

`Mateus, 27 vv 52 e 53.

Vocês que acreditam que toda esta gente levantou em corpo, por favor me esclareçam:

- Estarão todos eles vivos, andando por aí?

Antes de responder, não esqueçam que o decreto divino os impede de morrer segunda vez.

Até mesmo eu, que formulei a pergunta, fico ruborizado pela extrema infantilidade da inquirição.

Como pode alguém viver dois mil anos, dentro de um corpo?

Todavia, nós nos encontramos entre a "cruz" e a "caldeirinha", porque do outro lado temos um "decreto" de Deus...

...este decreto impede uma segunda morte.

De nossa parte, que acreditamos na imortalidade do espírito, não existe controvérsia :

Estes que "levantaram dos sepulcros" e apareceram em Jerusalém são espíritos que se materializaram.

Por isso não foi preciso segundo velório...

Os corpos continuaram nas tumbas, em decomposição.

Lembramos o sábio refrão popular:

"Ninguém fica para semente".

Agora somos nós que afirmamos:

Todos os corpos realmente morrem "uma vez"... e aqui se encontra o verdadeiro sentido do decreto divino.

Desde que coloquemos de fora o espírito imortal, eu acredito na morte.

Não existe a mínima chance de imortalidade da carne.

Alhures, eu escutei uma palestra científica, onde o preletor esclareceu:

- Pessoas com cento e vinte anos estão diante de um "paredão". Esgotaram-se todas as suas chances. Não há maneira de prosseguir.

O corpo, como estrutura, se desmorona, após o centenário.

Eu gostei da palavra "paredão" que fornece a idéia de impecilho intransponível.

Ele - este corpo - morre mesmo uma única vez.

Em todo este imbróglio, ressalta-se uma raiz perversa:

A teimosia dos teólogos na eleição do corpo como parceiro eterno do espírito.

Isto gera e acumula toda a confusão.

Meus caros amigos, só o espírito é imortal.

Quando todos compreenderem esta verdade, uma parte substancial dos problemas bíblicos estarão resolvidos.

Vejam que o enigma que estamos focalizando se resolve: é o corpo que "morre" apenas uma vez.

Esta multidão de falecidos que o evangelista Mateus faz aparecer em Jerusalém são espíritos materializados.

As figuras apareceram tão perfeitas, que os videntes exclamaram: "Abriram-se os sepulcros", e Mateus, como jornalista emérito,

usou as palavras como foram pronunciadas.

De fato mesmo, aquelas figuras vieram dos mundos espirituais e não do cemitério.

Percebam como se torna bem mais fácil interpretar?

Não ocorreu "segunda morte".

A parceria corpo-espírito terminara, de fato, no instante do desencarne.

O corpo de todos eles se decompunha no túmulo.

Pensando assim, as contradições acabam.

O "decreto" citado pelo apóstolo Paulo continua de pé.

Os corpos de toda aquela gente morreram uma "única vez".

Seus espíritos, porém, continuam vivos - livres, leves e soltos, gozando a imortalidade.

Alguém poderá carregar Salomão para nosso bate papo.

"Os mortos não sabem nada"- dirão...

...estão dormindo.

A alma dorme junto com eles na cova, completarão os adeptos de Salomão.

Eles morreram... e só acordarão no Juízo Final.

Esta idéia da parceria entre corpo e espírito até no sepulcro só pode ter nascido no cérebro senil de Salomão.

Que me perdoem os que consideram a Bíblia "infalível".

O próprio idioma hebraico consagra uma palavra - keber - para designar cemitério e outra - sheol - para nominar a morada das almas.

Todas as dúvidas se desfazem, quando vemos Elias e Moisés, no alto do monte, ao lado de Jesus.

Eles haviam morrido há séculos...e estavam ali.

Apresentaram-se tão vivos que o apóstolo Pedro se ofereceu para erguer três tendas onde se abrigassem.

E não me digam que Elias subiu ao Céu em corpo...

...que ele não morreu...

...tentando justificar esta aparição.

Neste ponto, o Evangelho é claríssimo:

"Ninguém subiu ao Céu, a não ser aquele que desceu do Céu, a saber - o Filho do Homem".

Palavras de Jesus em João, 3 v 13.

Dos habitantes da Terra, somente o Nazareno, portanto, alcançara o "Sétimo Céu".

Nenhum outro personagem evoluíra o suficiente para alcançar este último estágio.

Palavras do próprio Jesus: só ele frequentara o "quartel general" de Deus.

Se a Bíblia omitiu o "desencarne" de Elias, isto não prova que ele foi para o Céu...

...Só Jesus esteve lá.

Aliás, aqui nós deparamos mais uma "furada" destes catedráticos:

Eles se apegam ao texto de Paulo: "Está decretado ao homem morrer uma vez".

Eles se apegam a uma ilusão de suas mentes: Elias não morreu.

Afinal, senhores teólogos, este decreto vale mesmo, ou serve apenas para acomodar o interesse de vocês?

Pelo amor de Deus, minha gente, eu não consigo engolir tantas contradições.

Textos isolados não bastam.

É necessário interpretá-los no conjunto.

A Bíblia não é "um" texto.

A Bíblia é um conjunto de muitos livros.

Aliás, a propósito, eu tenho mais um questionamento:

Vocês dizem que a vida é única...

...e a morte é única...

...e depois dela vem o Juízo.

Que isto é decreto irrevogável de Deus...

Vou citar um texto de Paulo, que coloca mais lenha na fogueira: "Porquanto, o Senhor mesmo descerá dos Céus, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro.

Depois nós, os vivos, seremos arrebatados juntamente com eles". I Tessalonicensses, 4 vv 16 e 17.

Contrariando o decreto, o texto fala de gente que será surpreendida, encarnada, no dia do Juízo...

...e que serão julgadas sem passar pela morte.

E daí, meus caros catedráticos, como explicar?

Paulo diz que estará "vivo" no dia do Juízo Final.

Portanto, mais uma vez, o decreto ficou devendo resultados: alguns passarão vivos para a Nova Jerusalém.

Aliás, aqui temos outro enigma, que será resolvido tão somente pela reencarnação:

O apóstolo Paulo disse que estaria "vivo", mas ele já desencarnou há dois mil anos...

...e o Juízo Final ainda não ocorreu.

Conclusão: Paulo profetizou falsamente ou estará reencarnado por ocasião do Juízo Final?

Não existe outra alternativa.

Percebam que em sua carta, Paulo fala dos "mortos em Cristo"...

...e, em seguida, se inclui entre os "vivos".

"(...) depois nós, os vivos, (...) escreveu o apóstolo.

Portanto, se alguns milênios depois, ele estará vivo, com toda a certeza ele profetizou que estaria reencarnado.

Sem algemas, é mais fácil interpretar Bíblia.

O grande problema é seguir trilhas sinuosas, para acomodar interesses.

Quando estamos a serviço de grupos, poderemos nos tornar mercenários.

Logo em seguida surge a cadeira rendosa e confortável.

E, por último, o ideal bate asas...e vai embora.

Ficamos a "ver navios", quando acompanhamos o pensamento do "cacique", sem passá-lo pelo crivo do nosso critério.

Se está decretado ao homem "morrer uma vez" e alguns morrem duas...

...e outros não morrem nenhuma vez...

Alguma coisa está profundamente duvidosa!

Precisaremos investigar, analisando a frase do apóstolo, desprezando pacotes fechados que tentam nos impingir.

Foi o que eu fiz...e acabei entendendo o verdadeiro sentido da parábola:

Eu me chamo Getúlio Mulinari Machado, com carteira de identidade, CPF, e impressões digitais únicas em todo o mundo.

Pode existir alguém parecido comigo; igual não encontrarei uma única criatura.

Esta minha personalidade (espírito + corpo) é que morre no momento do meu desencarne.

Quando eu desencarnar, estarei desligado de todas as manias e bens que desfrutei.

Realmente, portanto, a parceria corpo + espírito estará desfeita.

Quando eu reencarnar - alhures - o farei sob novas influências, novo corpo e possivelmente nova família.

O patriarca Jó define isto com clareza:

"Mudarás o seu rosto e o farás sair".

Jó, 14 v 20.

O Getúlio Mulinari Machado será apenas uma lembrança.

Foi isto que o apóstolo Paulo ensinou.

A personalidade do vivente morre uma vez.

O espírito vai para julgamento e avaliação, nas colonias espirituais, e serão definidos os rumos de seu futuro aprendizado.

Quando chegar o Juízo Final, todos os espíritos serão reunidos, para o julgamento definitivo daquele ciclo.

Louvado seja Deus.


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