Data: quinta-feira, 8 de abril de 2004
Imaginem vocês, se ele tivesse nascido no palácio de César?
Jesus cresceu numa aldeia obscura, sem a menor projeção.
Imaginem se ele tivesse crescido na capital do mundo?
Jesus era descendente de Davi.
Imaginem se aquele trono não estivesse subjugado a Roma?
É inegavel que o Mestre nasceu, viveu e morreu, sem o menor privilégio.
Filho dileto de Deus, sua jornada foi áspera e difícil.
"Não tinha onde reclinar a cabeça", como Ele mesmo disse.
Muitos até criticam o Pai Celestial por tê-lo mantido naquela "roda viva" de tanta miséria e de tanto sofrimento.
A morte de cruz se nos afigura como inominável crueldade.
Será que Deus não teria uma receita menos dolorosa para provar seu Filho dileto?
Em Seleções de julho de 1999, encontramos um pequeno incidente, ocorrido na região montanhosa do Nepal.
Turista de férias, aquele homem era muito forte e musculoso.
Surgiu-lhe então a figura cansada de uma nepalesa, velhinha, carregando um imenso saco de arroz.
Gentil, ele se ofereceu, para ajudá-la.
Ela agradeceu, com leve sorriso.
Ele disse:
- Não tem de quê. Eu carrego o saco de arroz. Sou mais novo...e mais forte do que você.
A velhinha desceu lentamente o pesado volume.
Sorrindo, ele foi levantar o saco, para pô-lo às costas.
Mas, enrubecido de vergonha, percebeu que não conseguia tirá-lo do chão.
Depois de algumas tentativas, sem êxito, a mulher idosa, rindo muito, pôs o saco nas costas, e seguiu seu caminho...
Só quem conhece as agruras dos trabalhadores do Nepal entende esta pequena história.
Para nós, resta apenas uma lição de que somente a vida áspera e o sacrifício enrijecerão os "músculos" do corpo e da alma.
Acredito que isto é compatível com o nosso tema.
Se o Mestre descesse ao mundo para rir e folgar, com toda a certeza não teria enrijecido seus músculos...
...e nos ensinado a fazer o mesmo.
Em Mateus, 16 vv. 21 a 23, encontramos o seguinte:
"(...) começou Jesus a mostrar aos seus discípulos, que era necessário seguir para Jerusalém, e sofrer muitas coisas dos anciãos, dos sacerdotes e dos escribas e ser morto por eles (...).
Pedro começou a repreendê-lo, dizendo-lhe: tem dó, Senhor. Isto de modo algum deve acontecer.
Mas Jesus, voltando-se para Pedro, bradou: Vá para trás, Satanás. Tu és para mim pedra de tropeço. Porque não cogitas das coisas de Deus, mas sim das coisas dos homens."
Pedro pensava na lei da vantagem.
Crucificação?... De jeito nenhum:
Pela ótica de Pedro, Jesus se obrigava a dar a volta por cima.
Teria que viver cem anos com os seus amigos. Logo agora que a vida estava tão gostosa.
Com seus poderes, o Mestre tinha condições de criar conforto e segurança para todos.
E se o trono de Davi fosse restaurado?
Que se danassem os romanos...
O Rabi Galileu tinha poderes... e poderia massacrá-los...
Como parente de Davi, ele seria guindado ao trono.
O povo colocaria a coroa na sua cabeça.
Todas estas divagações passaram pela mente interesseira do apóstolo Pedro.
Jesus captou todas aquelas imagens, e cortou, pela raiz, aqueles sonhos desvairados.
E Ele o fez com uma frase bastante enérgica:
- "Vá de retro, Satanás".
Depois de todos estes comentários, nós chegamos ao primeiro ponto concreto:
Deus e Jesus concordavam que a Cruz era o caminho certo.
Jesus não admitia sequer discutir o assunto.
Viera com aquela missão, e haveria de cumprí-la.
Aliás, os profetas antigos apontaram o martírio do Messias, com bastante clareza:
"Ele é o desprezado, o último dos homens, o Varão das Dores, experimentado nos trabalhos"
Isaias, 53 v 3
"Foi maltratado, mas não abriu sua boca, porque aceitara tudo voluntariamente."
Isaias, 53 v 7.
Fica claro, portanto, que Jesus se entregara por vontade própria aos seus flageladores.
Sabemos também que Ele tinha poder para rechaçá-los.
Pedro, talvez mal intencionado, tentou precipitar os acontecimentos, e forçar Jesus a defender sua vida.
O Apóstolo cortou a orelha de Malco.
Isto poderia ter gerado uma briga generalizada.
Com esta atitude violenta, Simão Pedro imaginou apressar o começo da guerra... e o esperado triúnfo de Jesus sobre os romanos.
Os apóstolos já dividiam os cargos do reino.
Há muito tempo, eles brigavam, entre si, pelos primeiros lugares.
Enganavam-se, porém, os que apostavam no Jesus político, governando a Judéia.
Todas as ilusões de grandeza foram desfeitas.
"Disse Jesus a Simão Pedro: mete a espada na baínha. Duvidas que meu Pai não me mandaria mais de doze legiões de anjos, se eu lhe pedisse?"
Mateus, 26 vv 51 a 53.
E o Nazareno sem hesitação devolveu a orelha ao lugar.
Depois, ele caminhou, serenamente, ao encontro do Gólgota.
No caminho do calvário, ele se preocupava mais com os outros do que consigo mesmo.
" Numerosa multidão o seguia, e também mulheres, que batiam no peito e choravam.
Voltando-se para elas, Jesus lhes disse: Filhas de Jerusalém, não choreis por mim; chorai antes por vós mesmas e pelos vossos filhos".
Lucas, 23 vv 27 e 28.
Vejam vocês que nós comprovamos, pelas Escrituras, que o sacrifício era inevitável e necessário.
Em todos os mundos, o Cordeiro de Deus se revela no martírio.
"(...) do Cordeiro, que foi imolado desde o começo do mundo".
Apocalipse, 13, v 8.
Somente depois de executado é que se revela um Cristo, em qualquer planeta do Universo.
Já provamos, meus amigos, que o Messias aceitara, voluntariamente, o martírio.
Já provamos que Ele tinha poder para rechaçar seus perseguidores.
Resta-nos tão somente esclarecer o ponto principal desta controvérsia:
Será que Deus não possuía maneira menos dolorosa para promover seus filhos diletos?
Voltemos ao profeta Isaias:
"Porque ele foi cortado da terra dos viventes. Eu (Deus) o feri por causa da maldade do meu povo."
Isaias, 53 v 8.
Prestem atenção nesta frase: "Eu o feri, por causa da maldade do meu povo".
O Pai Celestial, conquanto bondade infinita, permitiu o sacrifício do justo, para apaziguar a "ira" da lei cósmica.
De tempos em tempos, Deus precisa abrir a válvula, que regula o calor das transgressões humanas.
É um imperativo de segurança planetária.
O dilúvio foi uma destas intervenções.
Outra a destruição de Sodoma e Gomorra.
Depois, o sacrifício do próprio Filho Unigênito.
Recebendo Nele, o impacto da "ira", o Nazareno desviou uma grande catástrofe, que aconteceria, com certeza.
Ele foi o pára-raio!
Depois do Cristo, ainda teremos outro ajuste com a lei maior: a grande transição planetária.
No meu tempo de criança aconteceu uma explosão aqui em Ponta Grossa: máquina movida a vapor explodiu no centro da cidade.
Mal comparando, é isto que acontece no plano espiritual: o calor das transgressões coletivas é tão forte que causa explosão. O mundo teria partido ao meio, se não houvesse intervenção das forças do bem, comandadas por Deus.
A lei é implacável!
Quando a civilização de um planeta atinge a insanidade, não existe válvula que suporte:
A explosão é inevitável.
Como Deus enxerga longe, tudo já está profetizado, tudo já está previsto.
Um dos missionários certamente já foi indicado para descarregar a bomba.
É claro que este "peregrino" vai ser imolado!
É tão claro quanto lançarmos um fósforo aceso num balde contendo gasolina.
Pode profetizar: A gasolina vai pegar fogo.
O preço da redenção é sempre o sacrifício.
Por isso os hebreus usavam pombas, ovelhas e bois no ilusório propósito de pagar pecados.
A "raça adâmica" carregou esta tênue lembrança do seu Cristo, quando expulsa do Éden.
Moisés foi apenas o revelador destas memórias.
O martírio do Cordeiro Divino em Éden estava presente na estrutura genética daquela raça.
Alguém "vivaldino" sugeriu:
- Se o sacrifício é inevitável, estão aí os animais para serem degolados em nosso lugar.
Os animais "pagavam o pato" - como diz o "povão".
É verdade que alguns povos adotavam até mesmo sacrifícios humanos.
São lembranças vagas de outras vidas, em outros planetas, onde as ossadas dos mártires atestavam a busca do perdão divino.
Se Jesus descesse à terra, hoje, ninguém tenha duvida:
Os fariseus e escribas o colocariam na cadeira elétrica. Uma coisa é verdadeira: Ele não atingiria os trinta e três anos.
Os sacerdotes não suportariam sua pregação.
Neste momento, outra interrogação deverá estar bailando na cabeça de vocês:
- Afinal, Jesus desceu à terra apenas para desarmar uma bomba?
- Sim! Jesus veio para desarmar uma bomba-relógio.
Ele é o redentor coletivo da raça humana.
A sua missão não se resumia nisto, porém.
Seria muito pouco para um Cristo.
Ele veio, também, nos apontar o caminho.
"Eu sou o caminho, a verdade e a vida..."
Aqui se explica por que Jesus teve uma vida tão pobre.
Se tivesse nascido em berço de ouro, e vivesse em palácios, ele seria um caminho apenas para os ricos e poderosos.
Nos passos do calvário, ele se fez esperança para milhões e milhões de párias, que estendem suas mãos em busca de socorro.
Desceu aos pequeninos, para que os pequeninos pudessem alcançar Deus.
Ensinou-lhes verdades simples e claras.
Caminhou com eles pelas estradas empoeiradas da Palestina, ombreando e servindo a todos.
"O maior tem que ser o menor..." - dizia sempre.
"Vinde a mim todos os que andais sobrecarregados e aflitos, e eu vos aliviarei e encontrareis descanso para as vossas almas".
O sacrifício e a morte valorizaram sua doutrina.
"Se o grão de trigo não morrer ficará a sós consigo, mas se morrer produzirá muito fruto."
Para germinar, a semente terá que morrer.
Para crescimento do Evangelho, era indispensável adubar a terra com seu sangue.
Se Jesus vivesse cem anos, a sua imagem estaria pulverizada, entre milhares de profetas que o mundo conheceu.
O drama da sua morte prematura foi o pano de fundo que o projetou.
"Assim como Moisés levantou a serpente no deserto, assim, importa que o Filho do Homem seja levantado, para que todo aquele que crê seja salvo, e tenha a vida eterna."
Elevado na Cruz, Ele se tornou um Cristo.
Jesus se tornou a suprema referência.
Do alto da montanha das bem-aventuranças, Ele nos aponta as vantagens da justiça e do amor.
Aqui precisamos esclarecer uma coisa de forma definitiva:
O "Varão das Dores" é o penúltimo ato!
O Cristo ressuscitado é o último!
Para nós, a paixão é uma página virada.
O nosso Cristo já desceu da Cruz, glorificado por Deus.
A intervenção salvadora foi consumada, definitivamente, no domingo de páscoa.
O nosso Jesus, o Jesus do terceiro milênio, é o grande vitorioso, o Rei Imortal dos Séculos....
Os dois discípulos da estrada de Emaus foram portadores desta grande verdade.
O Mestre ressuscitado se aproximou deles, e eles não o reconheceram.
Contaram-lhe sobre a morte do Justo, que ocorrera, em Jerusalém, há três dias.
Um deles, Cleofas, o mais falante, discorreu sobre a crueldade dos sacerdotes .
Nenhum deles acalentava esperanças.
Morrera o sonho do Messias libertador.
Não restava mais nada.
Foi aqui que o Mestre os interrompeu, dizendo-lhes:
"Ó néscios e tardos de coração, para crer em tudo o que os profetas disseram.
Porventura não convinha que o Cristo padecesse estas coisas, para entrar na sua glória?"
Lucas, 24 vv 25 e 26
Silêncio, meus amigos; silêncio, por favor!
Analisemos, exclusivamente, esta palavra - glória.
"Entrar na sua glória".
Nesta frase encontramos toda força da mágica.
Um grande sacrifício para uma grande recompensa.
A última página é um hino de amor:
- Jesus ressuscitou!
A própria Cruz já não é sinal de sofrimento e de fracasso.
A trave da Cruz, que descansava, na horizontalidade da terra, foi erguida para a verticalidade do Céu.
Louvado seja Deus.