Data: quinta-feira, 8 de abril de 2004
"Porque Eu sou o Senhor Teu Deus, o Deus forte e zeloso, que castiga a iniqüidade dos pais nos filhos, até a terceira e quarta geração, daqueles que me aborrecem". Êxodo 2O, v 5.
Como pode alguém ser punido pelo pecado de outro?
Mesmo que seja meu pai, eu não acho justo assumir seu erro. Alguém poderá objetar:
- Foi o próprio Deus quem pronunciou estas palavras. Quem é você, mísero mortal, para questioná-las?
- Na verdade, o que eu desejo é explicar o imbróglio.
Para isto, eu usarei as próprias páginas da Bíblia.
No livro de Ezequiel, encontramos uma opinião diferente:
"O filho não levará a iniqüidade do pai, nem o pai a iniqüidade do filho. A justiça do justo será sobre ele. A impiedade do ímpio cairá sobre sua cabeça". Ezequiel, 18 v 20.
Cada um receberá, portanto, segundo suas obras, se atentarmos para o livro de Ezequiel.
O contrário acontecerá se nós obedecermos à letra o livro Êxodo de Moisés.
Partida empatada em zero a zero.
Seria até melhor nós usarmos a palavra EMPACADA.
Partida empacada em zero a zero.
Há uma contradição flagrante, entre Moisés e Ezequiel.
Saibam, amigos, que os dois têm razão: Moisés e Ezequiel.
Bastará analisarmos a Bíblia, na sua inteireza.
Bastará acrescentarmos ingrediente misterioso: qual será?
Ele aparece no livro de Jeremias:
"Naqueles dias, não dirão mais: os pais comeram uvas verdes e os dentes dos filhos se embotaram. Cada um morrerá pela sua própria iniqüidade" Jeremias, 31, vv 29 e 30.
As palavras chaves são estas: "Naqueles dias".
Percebam que o Profeta aponta o futuro: "naqueles dias".
"Naqueles dias" surgiria nova visão das coisas.
Ingrediente misterioso simplificaria tudo.
Para nós, este ingrediente misterioso é a reencarnação.
A reencarnação é a chave que abre mais esta porta.
Jeová castigava a iniqüidade dos pais, nos filhos, porque os espíritos dos pais renasceriam nos corpos dos seus descendentes.
O pai de hoje poderá reencarnar como bisneto dele mesmo.
Portanto, não há injustiça.
É o próprio espírito que comete pecado quem recebe o corretivo... noutro corpo.
Ezequiel e Moisés já podem fumar o cachimbo da paz.
Os dois se encontram na mesma trilha.
Realmente, nos textos acima, a contradição só existe até o momento em que aplicamos a fórmula mágica da reencarnação.
Sem reencarnação, as Escrituras são contraditórias.
É impossível interpretá-las.
Continuando, deparamos outro "mistério", que só se explica com múltiplas vidas na carne:
"Em verdade vos digo: não passará esta geração, sem que todas estas coisas aconteçam". Mateus, 24, v 34.
O Mestre se referia à grande tribulação do juízo final.
Sem reencarnação as palavras do Mestre soariam falsas.
Ele estaria mentindo para nós.
Afinal, quantas gerações já passaram, nestes dois mil anos, e ainda não houve ocorrência do Juízo Final.
Agora, com reencarnação tudo fica perfeitamente claro.
Muitos que vivem no século vinte e um foram testemunhas oculares da crucificação, e ainda estão por aqui.
A geração de Jesus continua vivendo, no corpo ou fora dele.
Hoje bisavôs, amanhã bisnetos, na roda incessante das reencarnações.
A sequência das nossas vidas é inexorável.
"Em verdade vos digo: não sairás dali, enquanto não pagares o último ceitil". Mateus, 5 v 26.
As palavras de Jesus são claras: a roda viva continuará até pagarmos, individualmente, os nossos pecados.
Por isso, a nossa geração continuará reunida até o Juízo Final.
Sem reencarnação, não adianta quebrarmos a cabeça.
Ninguém consegue interpretar Bíblia.
Para remendar o tecido rasgado, os teólogos inventaram a doutrina do pecado original...
...e terminaram complicando.
Esta doutrina faz parte do catecismo de algumas igrejas cristãs.
Eles dizem que nós somos herdeiros do pecado de Adão e Eva.
O livro de Jó é evocado para fundamentar esta teoria.
"Quem pode fazer puro, ao que foi concebido de imunda semente?" Jó, 14 v 4.
A versão dos setenta traduz assim:
"Quem há que seja isento de mácula? Ninguém, ainda mesmo uma criança de um dia". Jó, 14 v 4.
Se vivêssemos apenas uma vez, eu consideraria esta doutrina uma excrescência.
É espantoso que tal idéia tenha seguidores.
Carregar a culpa do meu pai carnal já é dose para elefante.
Esta de carregar a culpa de Adão e Eva, porém, é de lascar.
É totalmente fora de lógica.
Isto só se resolve admitindo reencarnação.
Uma criança de um dia carrega, em seu espírito, o carma negativo de muitos séculos e milênios.
Com reencarnação, felizmente, a Bíblia se torna muito clara.
Meditem, por favor, sobre estas palavras:
"Quem há que seja isento de mácula? Ninguém, ainda mesmo uma criança de um dia".
Se não houvesse reencarnação haveria doutrina mais injusta?
Imputar pecado a uma criança que acabou de nascer só é possível se aceitarmos que ela traz bagagens de outras vidas.
Todos os mistérios da Bíblia se esclarecem pela reencarnação.
Deixando de lado esta teoria do pecado original, e aceitando múltiplas vidas na carne, tudo fica mais fácil.
Voltamos a crer num Deus justo...
...justo e misericordioso, porque concede outras oportunidades de salvação aos pecadores.
Voltando ao profeta Jeremias vocês terão mais uma prova.
"A mim me veio a palavra do Senhor, dizendo:
Antes que eu te formasse no ventre materno te conheci, e antes que saísses de tua mãe, te consagrei e te constituí profeta".
Jeremias, 1 vv 4 e 5.
Se a vida fosse única, como Deus poderia avaliar a têmpera de Jeremias, antes da concepção?
Admitindo outras vidas, tudo se torna coerente.
Jeremias vivera, em outros corpos, e Deus seguira seus passos.
Jeremias fora consagrado profeta porque mostrara capacidade.
Uma criança de um dia pode ser mais velha que seu bisavô.
Uma criança de um dia pode ter experiência de milênios.
Uma criança de um dia pode carregar sementes revolucionárias capazes de abalar o mundo.
Deus acompanha cada uma das suas criaturas.
Ele sabe até que ponto pode confiar em nós.
Nesta altura, alguém poderá dizer que Jeremias foi santificado.
Deus o teria libertado do pecado original.
Por favor, não vamos tornar a emenda pior que o soneto.
Um dos atributos de Deus é o espírito de justiça.
Não vamos denegrir a divindade, principalmente neste aspecto tão importante do seu relacionamento conosco.
Lembremos palavras do apóstolo Paulo:
"...porque Deus não faz acepção de pessoas..."
Colossenses, 3 v 25.
Concordamos com o apóstolo Paulo.
Deus não pode fazer acepção de pessoas, simplesmente porque Ele é justo.
Se não fosse justo, não seria Deus.
Imaginem só uma corrida de competição entre diversos atletas.
Antes da largada, o diretor apareceria, distribuindo ordens.
- Você correrá com um saco de batatas às costas.
- Fulano, tire o tênis e calce um tamanco.
- Beltrano, você terá que amarrar uma bola de ferro, no joelho.
É claro que os corredores prejudicados iriam protestar.
Não seria justa esta competição.
Isto se aplica também ao campo do espírito.
Deus não pode proteger alguns em detrimento de outros.
Quando Ele criou nossos espíritos, éramos semelhantes a um papel em branco.
Ninguém é maior!
Ninguém é menor!
Ao longo de múltiplas existências, todavia, vamos escrevendo neste papel em branco a nossa história pessoal.
- Anjos ou demônios? A escolha é nossa.
Todos nós somos livres para escolher os caminhos de ascenção ou de queda.
Não há privilégios!
O livre arbítrio é uma lei que funciona.
Percebam, meus amigos, como procede o pai do filho pródigo.
O moço o encarou, sem rodeios:
- Dai-me o quinhão dos bens que me toca.
O pai não discutiu.
Entregou todos os seus haveres.
O rapaz, inexperiente, prepara as malas.
Apesar de profundamente desgostoso, o pai não o deteve.
Tinha forças para prendê-lo em casa, mas não usou estas forças.
Respeitou a liberdade do filho.
Deus, nosso Criador, procede da mesma forma.
Ele respeita o nosso arbítrio, e libera nosso passaporte.
Como aquele pai da parábola, o Pai Celestial permanece no alto da torre, vigiando os caminhos...
A esperança pela nossa volta nunca morre no coração do Pai Eterno.
Violentar os seus filhos, porém, está completamente fora das suas cogitações.
O Pai Celestial deixa, ao filho pródigo, a responsabilidade de retornar com suas próprias pernas.