Jesus e o Batismo

Data: domingo, 18 de abril de 2004

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"Por esse tempo, dirigiu-se Jesus da Galiléia para o Jordão, afim de que João o batizasse.
Este, porém, o dissuadia, dizendo: Eu sou quem deve ser batizado por ti, e tu vens a mim?
(...) Jesus lhe disse: Deixa, por enquanto, porque nos convém cumprir aquilo que é justo"
.
Mateus, 3, vv 13 a 15.
Para silenciar as vozes discordantes, os teólogos apontam o batismo de Jesus como fórmula indiscutível:
Se o próprio Mestre foi batizado, como negar a obrigatoriedade da cerimônia?
Quem lê o texto com atenção, todavia, percebe o caráter provisório daquele batismo:
"Deixa, por enquanto, porque assim nos convém cumprir tudo o que é justo..."
Estas palavras de Jesus são conclusivas:
"Deixa, por enquanto(...)"
Se aquela cerimônia representasse algo definitivo, o Mestre não a teria configurado como provisória.
Aquele "...por enquanto..." limitou o ato como conveniente, tirando dele, porém, o caráter definitivo.
O Mestre simplesmente registrou a fronteira entre dois ciclos.
João Batista batia meia noite, no relógio do tempo.
A madrugada escura e o nascer do sol já pertenceriam a Jesus.
O Galileu acabava de tomar o leme da embarcação.
Um novo ciclo nascia.
"A lei e os profetas vigoraram até João" (Batista); "desde este tempo vem sendo anunciado o Evangelho do Reino de Deus".
Palavras de Jesus, em Lucas, 16 v 16.
Jesus não queria menosprezar seus antepassados.
Assim, Ele lhes ofereceu aquela "colher de chá".
Aquele "deixa, por enquanto" - tem esta conotação.
Uma coisa tinha que ficar bem clara:
O degrau era outro, mas a escada continuava.
A mesma escada: o mesmo Deus!
Mudara apenas a visão da realidade espiritual: o novo degrau encontrava-se em lugar mais alto.
Permitia que se enxergasse mais longe.
O batismo de João constituíra-se no último suspiro do "dente por dente" mosaico.
Naquele momento, implantara-se o "amai-vos uns aos outros" de Jesus.
Aliás, o próprio João Batista já falara de um batismo superior ao seu:
"Eu vos batizo com água, para arrependimento. Mas aquele que vem após mim é mais poderoso do que eu. (...)
"Ele vos batizará com fogo e com o Espírito Santo"
.
Mateus, 3 v 11.
Aos irmãos Tiago e João, que lhes pediram privilégios, o Mestre disse:
"Não sabeis o que pedis. Podeis beber no cálice em que eu bebo, e receber o batismo com que eu serei batizado?
Podemos, disseram eles.
Sim havereis de beber no cálice em que eu bebo, e sereis batizados com o mesmo batismo..."

Marcos 10, vv 36 a 39.
Profetizando o martírio dos filhos de Zebedeu, o Mestre apontava outro tipo de batismo.
Dali para a frente, todos conheceriam o batismo que realmente importa, no plano do espírito.
Muito depois de João Batista tê-lo abençoado, nas águas do Jordão, Jesus clamava:
"Tenho (...) um batismo no qual serei batizado, e é grande a minha expectativa de que ele se realize".
Lucas, 12 v 5.
Com certeza aquele era o verdadeiro batismo.
A têmpera dos catecúmenos era provada no fogo.
O Mestre jamais incentivou rituais vazios, desprovidos de emoção.
Quando se aproximou de João Batista, o Nazareno quis homenagear os velhos patriarcas e profetas antigos.
Prestigiando seu precursor, Jesus absorveu suas raízes populares e o amor que o povo lhe dedicava.
Isto explica por que João Batista era o seu "precursor"...
...e viera para "preparar-lhe os caminhos".
Vocês lembram daquelas corridas do facho?
Cada corredor, depois de alguns quilômetros, entrega o troféu para outro.
No episódio do rio Jordão, João Batista estava entregando o "facho" ao Mestre.
Pouco depois, o Profeta do Deserto estaria dispensando seus discípulos:
"É preciso que Ele cresça e que eu diminua..."
Sua missão terminara!
João Batista e Jesus se encontraram, no Jordão, para legitimar a tarefa que ambos receberam do Pai Criador.
Tudo estava previsto no livro Eterno de Deus
"Convinha" que tudo aquilo acontecesse.
"(...) por enquanto (...)" esclarecera o Nazareno.
Se alguém continuar vendo, no batismo de João Batista, algo definitivo, somos obrigados a perguntar-lhe:
- Por que Jesus falou para Tiago e João que seria batizado, no futuro, apesar da cerimônia nas margens do Jordão?
Contra fatos não há argumentos.
Cerimônia alguma tem poderes para modificar estruturalmente os espíritos.
Aliás, cada igreja tem maneiras próprias de fazer a cabeça dos catecúmenos.
Cada religião tem rituais diferentes.
E a briga começa nestas diferenças que os religiosos consideram fundamentais.
Alípio dos Anjos, motorista de caminhão, ficava longo tempo longe de casa.
Nascera-lhe o primeiro filho: um menino, que Alípio adorava.
Depois do nascimento da criança, a contra gosto, ele teve que viajar.
Ficou um mês fora.
Quando voltou, recebeu a infausta notícia: a criança morrera!
- Enterraram meu Vadinho, sem batismo! - berrava Alípio, desesperado.
E começou a surrar toda a família.
- A alma de meu filho morreu pagã! A alma de meu filho está perdida, por culpa de vocês...
Expulsou a esposa de casa, e terminou no hospício, com raiva de todo o mundo...
Alípio fora educado, infelizmente, com uma falsa imagem da justiça divina.
Aquele Deus cruel, que ele carregava, na consciência, explodiu no momento da provação.
Por falta de uma cerimônia na vida daquela criança, Alípio imaginava a perdição eterna.
Os seus professores de religião haviam semeado um Deus cruel em seu coração.
Quem morria sem batismo, era considerado "pagão" e réu de castigo eterno.
Não merecia o céu!
Aquilo foi demais para Alípio dos Anjos

Infelizmente, o mundo está cheio destas idéias fabricadas por educadores mal intencionados.
Espalhando fórmulas aterradoras, eles se impõe aos fracos.
A cerimônia do batismo se configura como panacéia milagrosa.
Sem ela não há salvação.
E o que é pior: só o batismo da igreja deles tem validade.
Todos os demais estão errados, na opinião destes líderes.
Quem se batiza em outra seita continua perdido.
Quando será, meu Deus, que o mundo despertará?
Já li e escutei debates intermináveis sobre a maneira de se ministrar o dito batismo.
Há quem determine a imersão; outros a aspersão.
Nunca houve consenso!
Há teólogos, porém, que chegam a extrapolar todas as medidas do bom senso.
Vejam o que eles tem a coragem de propagar:
"A primeira ressurreição equivale a passagem para a vida da graça, ou seja, a morte ao pecado, pelo batismo."
Encontrei este comentário numa nota ao capítulo 20 do Apocalipse.
Esta Bíblia é da Editora Ave Maria.
Segundo estes teólogos, a Primeira Ressurreição é o batismo...
Conseqüentemente, basta o sacerdote colocar óleo, sal e água, na cabeça de uma criança ... e pronto:
Salvação garantida!
Segundo opinião teológica, ocorreu, com esta criança, a primeira ressurreição.
Agora, vamos ao Apocalipse, para verificarmos quais os benefícios desta primeira ressurreição:
"Feliz e Santo é aquele que toma parte na primeira ressurreição.
Sobre eles a segunda morte não tem poder, mas serão sacerdotes de Deus e de Cristo.
E reinarão com Ele mil anos! "
Apocalipse.2O v 6.
Quem se batiza, encarnado, reina com Cristo na terra...
... depois de desencarnado, passa a reinar, com Cristo, no céu.
É o batismo, na opinião teológica, quem fornece tais dotes.
Por favor, não me coloquem nesta "canoa furada".
Repito: Esta é a opinião dos teólogos.
Eu não partilho destas idéias.
De minha parte, eu acho que os teólogos extrapolaram.
É muito milagre para pouco "santo".
Somos obrigados a apontar uma constatação:
Existem multidões de pessoas batizadas por aí - roubando, estuprando e matando.
De minha parte, eu não colocaria minha "mão no fogo", confiado em que o batismo matou seus pecados.
Cuidado!
Saiba que o batismo não garante sanidade.
Ele não passa de um rito de ingresso da pessoa na seita de sua preferência.
Cada um é livre para escolher religião.
Como ficha de cadastro, tudo bem...
Qualquer entidade precisa ter seus membros fichados.
Discordo, apenas, do aspecto discriminatório desta cerimônia.
Percebam uma coisa: Não existe religião que congregue maioria absoluta dos habitantes da Terra.
Imaginem o número de excluídos se somente o batismo de uma religião salvasse?
Que Deus é este que sonega ferramentas para seus operários?
Se Ele nos criou a todos, e é nosso Pai, por que viraria as costas para mais da metade do mundo?
Afinal, se alguém nasce na Ásia tem noventa por cento de probabilidade de não conhecer o batismo cristão.
Não podemos aceitar fórmulas incompatíveis com a realidade do próprio mundo em que vivemos.
O budista, o muçulmano e tantos outros são filhos de Deus.
Não será a falta do batismo que irá derrubá-los no Inferno eterno, inventado pela imaginação sádica dos "cristãos".
No meu entendimento, toda a discriminação é contrária ao espírito do Cristo.
Agora, se vocês me garantem que o batismo é um propósito de reforma íntima, com esta parte eu simpatizo.
O catecúmeno promete para cumprir:
- Dia quinze de fevereiro vou me batizar. A partir daquela data, eu deixarei de fumar, não vou mais me embriagar e nem lograr os outros.
Esta é uma fórmula que nós respeitamos.
Até Deus, lá no Céu, deve aplaudir este catecúmeno.
Verdade! Se o batismo (de qualquer igreja) visa reformas interiores só pode ser elogiado.
Lembremo-nos que João Batista pregava o "batismo do arrependimento".
Com este propósito, ele se torna muito mais que uma simples ficha de inscrição.
Neste caso, o batismo se torna um marco miliário, no caminho da ascenção espiritual.
Isto justifica que ele seja recomendado em algumas partes do Evangelho: sempre será tempo para criarmos vergonha...
...e abandonarmos hábitos perniciosos.
Quem pensa desta forma, pensa como eu.
Madre Tereza de Cálcuta não se engrandeceu na seara do Cristo, porque foi batizada.
Ela se fez grande pelo sua compaixão.
Madre Tereza de Calcutá seria uma das servas especiais de Deus, nos quadros de qualquer religião do mundo.
Certa vez, numa palestra, eu abordei o batismo.
Alguém, dentre os ouvintes, me abordou, nervoso, de Bíblia nas mãos.
Abriu, frenético, o Livro Sagrado, e leu:
"Quem crer e for batizado será salvo".
Marcos, 16 v 16
Calmamente, eu lhe disse:
- Amigo, continue lendo, também, os versículos 17 e 18, porque eles completam a lição de Jesus.
Você leu apenas a primeira parte.
Perturbado, esperando alguma cilada, ele permaneceu em silêncio, durante algum tempo.
Eu insisti:
- Amigo, você leu o versículo 16. Eu peço que leia também os versículos 17 e 18.
Meio vexado, ele continuou a leitura:
- "Estes sinais acompanharão aqueles que crêem:
Em meu nome expelirão demônios;
Falarão novas línguas;
Manusearão serpentes;
Se beberem algo mortífero, aquilo não lhes fará mal;
Imporão suas mãos sobre os enfermos e estes ficarão curados".
Palavras de Jesus, em Marcos, 16 vv 17 e 18.
Nesta altura, eu tomei a Bíblia das suas mãos, e lhe disse:
Meu amigo, você está indo diretamente ao batizar...
...Você está esquecendo uma "palavrinha" antes do batizar.
Esta palavra chave é "crer".
"Quem crer e for batizado será salvo..."
Veja bem a sequência das prioridades:
Primeiro - crer.
Depois - ser batizado.
Por último - salvação.
Pela bendita clareza do Evangelho, nós percebemos então o grau que teremos de alcançar para chegarmos ao batismo salvador.
Nesta altura, eu perguntei ao biblista enfezado se ele teria condições de "beber veneno" sem problemas.
Ele desconversou, e se afastou em silêncio.
Ele ignorava que o "crer" que precede o "batizar" fosse uma coisa para "iniciados" e não para criaturas comuns.
Quando alcançarmos a maturidade, podem ter certeza que todos nós seremos batizados diretamente pelo Pai Celestial.
Louvado seja Deus!

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