Data: sexta-feira, 14 de maio de 2004
O próprio nome do tema nos
assusta.
Imaginamos Jesus empunhando um lança-chamas.
Como é possível imaginarmos uma coisa destas?
Esta loucura, meus amigos, não é invenção minha.
O Evangelho a registra com todas as letras.
"Eu vim para lançar fogo à terra - e quisera eu que já estivesse
ardendo. "
Palavras de Jesus, em Lucas, 12 v 49.
Eu reconheço que é uma "bomba".
No primeiro momento, o anúncio nos pega de surpresa:
Imaginamos o planeta em chamas.
Todo o mundo correndo de um lado para outro em pânico.
A sirene dos bombeiros acionada em volume estridente.
Verdadeiro caos.
O pior é que até hoje não ouvimos uma explicação
convincente.
Quando muito, os estudiosos identificaram este "fogo" no sofrimento
dos mártires da fé.
De minha parte, eu discordo desta interpretação, por uma razão
muito simples:
O Mestre apontava este "fogo" como algo "positivo".
Suas palavras são claras: "Quisera eu que já estivesse
ardendo?"
Jesus deixa explicito o seu desejo de que a Terra incendiasse..
Exatamente com frases deste tipo, Jesus comprova o lado esotérico de
sua doutrina.
O culto ao fogo já nasceu, quando o homem habitava cavernas.
Para nossos irmãos primitivos, o fogo sempre foi divino.
O sol foi adorado, no Egito, como Deus.
Moisés viveu a experiência do fogo, no Monte Horebe.
"Apareceu-lhe o Anjo do Senhor, numa chama de fogo, no meio de uma sarça".
Êxodo, 3 v 2.
A sarça queimava...queimava, e não se consumia.
Foi deste fogo que Jesus falou.
Este fogo não destrói; ao contrário, é fonte de
vida.
Uma coisa é certa: O Mestre sempre gostou destas imagens. Imagens que
rasgam horizontes, afiadas como estiletes.
Suas palavras suscitam revoluções no campo das idéias:
"Eu vim para lançar fogo à terra - e quisera eu que já estivesse
ardendo" é só a primeira parte.
Vale continuarmos a leitura do texto, para aumentar a perplexidade de todos
nós:
"Pensais que vim trazer paz (...)?" Interroga Jesus. E Ele mesmo responde: "Não,
vos digo eu, mas a separação. Daqui em diante estarão cinco
divididos numa casa: três contra dois e dois contra três: (...)pai
contra filho, filho contra pai, mãe contra filha, filha contra mãe(...)".
Lucas 12, vv 51 a 53.
Realmente, depois desta todos nós vamos à "lona".
Nossa primeira reação diante de tais frases é ficarmos
perplexos.
No entanto, elas simplesmente provam que o cristianismo veio sacudir as estruturas.
A doutrina cósmica do Cristo nunca foi fácil, nem jamais será.
O Mestre não deseja iludir os outros.
Todos os cristãos seriam confrontados pela realidade.
Quando deu ordem de marcha aos apóstolos, Jesus foi claro:
"Eis que vos envio como cordeiros, para o meio de lobos!"
Os cristãos seriam desafiados, em suas relações humanas:
A honestidade não é benquista numa quadrilha de salteadores.
Num bordel, o respeito ao sexo oposto é mal compreendido.
Em planeta radicalmente violento, falar da "não violência" é certeza
de pagar "mico".
Em seu próprio lar, o seguidor de Jesus correria riscos.
Procurando esclarecer, eu repetirei uma notícia de jornal:
Abelardo e Zacarias eram irmãos gêmeos, muito parecidos, no aspecto
físico.
No entanto, moralmente, a semelhança terminava.
Abelardo era honesto e trabalhador.
Zacarias furtava, para sustentar a família.
Certo dia, Zacarias resolveu obrigar Abelardo a ajudá-lo num seqüestro,
que renderia milhões.
Abelardo se recusou, terminantemente.
Zacarias, enfurecido, assassinou o irmão.
Vocês acham que Abelardo, para conservar a paz, deveria concordar com o
seqüestro?
Com toda a certeza, Jesus negava "trazer" este tipo de paz.
A paz que Ele traria para nós, não é aquela "paz que
o mundo dá", montada em conchavos desonestos e até mesmo
brutais...
Enquanto nosso planeta continuar fornecendo "casa e comida" aos violentos,
parece que a paz continuará sendo um sonho.
Esta notícia de jornal confirma isto.
Afinal, o próprio Jesus nos fala em "separação" e
discórdia, ocasionadas pelo choque de duas culturas diferentes.
Bastará analisarmos a história das perseguições e
da Inquisição, e compreenderemos as palavras de Jesus.
Os cristãos foram perseguidos e denunciados pelos membros de suas próprias
famílias.
Pais entregando seus filhos...
... filhos entregando seus pais!
Naqueles mais de mil anos de Inquisição, os laços de família
foram arrebentados pelo fanatismo religioso, em todos os cantos da Terra.
Se alguém desejava se livrar de um desafeto era fácil.
Bastava denunciá-lo como herege ao chamado "Santo Ofício".
Qualquer suspeita esmagava moralmente o "réu", embora tudo fosse
uma armação para destruí-lo.
Os tribunais eram tão sumários, que ele tinha poucas chances de
provar inocência.
Pronto: Aquele não incomodava mais.
Famílias de muitos irmãos viram-se dizimadas.
Bastava um deles denunciar os outros, e o Tribunal da Inquisição
se encarregava de eliminá-los.
O irmão perverso recebia a herança, sozinho.
Uma coisa é certa: Jesus não desejava estes males.
As palavras do Evangelho são apenas uma constatação.
Explicando no estilo popular: Estava escrito nas estrelas.
O cristianismo viera sacudir as antigas estruturas.
Quem é obrigado a mexer num ninho de vespas com certeza sofre as consequências.
Jesus visualizava os massacres de seus seguidores, quando falou de separação
e discórdias.
A Inquisição já desapareceu há séculos...
...e os circos romanos já não existem.
Alguém perguntará: qual a razão de que as famílias
ainda estejam desunidas?
A dúvida é pertinente.
Ninguém pode negar que as divisões familiares continuaram.
Nós ficamos felizes pela dúvida, porque ela nos permitirá completarmos
a interpretação do tema.
Faltava algo no contexto, e este "algo" apareceu.
Teremos que ampliar o nosso enfoque das palavras de Jesus, procurando completar
a explicação.
Olhamos em torno e percebemos uma coisa estranha.
Mães que não suportam seus filhos.
Filhos que hostilizam suas mães.
Os laços de família se apresentam cada vez mais precários.
Dia destes eu escutei uma frase muito triste:
- Aqueles dois brigam como se fossem "irmãos".
Vejam só que coisa desagradável: a palavra "irmãos" apontada
como sinônimo de discórdia.
Infelizmente, foi esta triste realidade que Jesus captou com suas antenas
divinas.
Por isso o Mestre levantou o perfil de uma família em guerra.
É neste ponto que aparece a reencarnação.
Ela explica a razão de tanta separação e discórdias.
Deus tem procurado reunir inimigos de outras vidas numa mesma família
para tentar a reconciliação.
Este não é um trabalho fácil, porém.
O ódio é uma pedreira muito difícil de quebrar.
"Água mole em pedra dura", porém, realiza milagres.
No aconchego da convivência, o perdão ganha sua chance.
Sem a reencarnação, os inimigos, ao morrer, levariam suas controvérsias
para o túmulo.
Renascendo na mesma casa, os adversários de ontem serão obrigados
a reciclar suas diferenças.
Jesus poderia fazê-los renascer em terras distantes...
...um no Japão, outro no Chile.
Nenhum deles, porém, teria oportunidade de reaprender a grande lição
da convivência fraterna.
Poderemos dizer a mesma coisa, também, no campo matrimonial.
Estamos assistindo o fracasso de inúmeros casamentos.
Será que as mesmas experiências tem sido feitas, reunindo
desafetos no leito conjugal?
Com certeza! Os cartórios das varas de família provam esta
realidade.
Os divórcios representam tentativas frustradas...
O romantismo popular fala que todos têm suas "almas gêmeas".
As "almas gêmeas" de muita gente devem ter reencarnado na Sibéria
ou no Japão...
Vale repetirmos: nós vivemos num planeta de provas.
O casamento se afigura autêntico "martelo do carma".
Foi realizado para estimular a paciência redentora.
Principalmente agora, quando nos aproximamos do Juízo Final, é urgente
que todos acordem.
As "porteiras" estão se abrindo no Armagedom.
Criaturas mutiladas pela vingança continuam chegando, e vão
se ombrear, reunidas, no mesmo teto.
No mundo espiritual, elas aprenderam a importância do perdão.
Agora, terão que provar seu aproveitamento.
Ninguém se salvará carregando alforjes repletos de contas
a pagar.
É urgente resgatar nossas dívidas até último centavo.
Jesus disse:
"Entra em acordo com o teu adversário, enquanto estás caminhando
(...), antes que sejas recolhido ao cárcere.
Em verdade te digo que não sairás dali, enquanto não pagares
o último ceitil".
Palavras de Jesus, em Mateus, 5 vv 25 e 26.
Ficou claro: não é por "sadismo" que Deus reune adversários,
numa única família.
Abençoada oportunidade se esconde atrás da cortina.
Ai daqueles que não aproveitarem a chance.
Nesta altura, vocês deverão estar pensando: o Getúlio ainda
não abordou o assunto principal.
Que será este incêndio desejado por Jesus?
A raiz de tudo, meus amigos, se encontra no Quarto Evangelho:
Ele (o Cristo) "era a luz verdadeira que ilumina todo o homem que vem a
este mundo". João, 1 v 9.
Esta luz é o Cristo!
Explicando melhor: Este fogo é o Cristo!
O mesmo fogo divino que queimava a sarça diante de Moisés, está em
Cristo...e também no interior de todos nós.
O nosso espírito é uma faísca do Deus Eterno, não
importando a nossa religião.
O Evangelho deixa claro que a chama que se manifestava em Jesus dorme nas
profundezas de todas as suas criaturas.
Por isso ninguém é totalmente mau.
Os ímpios são Filhos de Deus, e também eles serão "salvos" a
seu tempo em outros ciclos de aprendizado.
Toda a maldade é fruto da ignorância espiritual.
E aqui se encontra a diferença entre os chamados bons e os chamados
maus:
O "Fogo Divino" que existe no coração dos chamados "maus" ainda
não acendeu.
Os ímpios - ainda não conscientes da sua origem divina - são
semelhantes a um pedaço de lenha largado em nosso terreiro.
Lembrem-se de uma coisa muito importante:
A lenha é passível de combustão, mas ela só incendeia
quando alguém se aproxima com tocha acesa.
Foi deste incêndio que Jesus falou.
Todos nós poderemos ser este tipo de incendiário.
Espalhar este "fogo" é o trabalho dos seguidores de Jesus.
O consciência deste "Fogo Divino" reflete nossa estatura, e abre
a primeira página da nossa imortalidade.
A nossa imortalidade começa no dia em que tomamos consciência
deste fogo interno, que pode ser atualizado.
Jesus é um enorme facho crepitante.
Nós não passamos daquelas lâmpadas de pinheirinho de
Natal.
Mas o fato é que, na essência, todos somos portadores da mesma "luz" ou
do mesmo "fogo".
O nosso espírito é uma faísca do "Fogo Divino" ...
... o mesmo fogo que queimava a sarça, sem consumi-la, conforme a narrativa
de Moisés.
A diferença reside na capacidade de "refletir" o fogo.
Alguém poderá perguntar: Neste caso, a solução será mudarmos
a lâmpada?
Exatamente!
Jesus ordenou aos discípulos: "Brilhe a vossa luz..."
Para realizar suas tarefas, portanto, os apóstolos terão
que ampliar o fogo das suas lanternas.
O que se propaga não são as letras de forma das Escrituras.
O Evangelho do Cristo precisa transformar-se em fogo.
O cristão precisa carregar uma tocha, em forma de relâmpago.
Sem este tipo de paixão, ninguém alcançará o
mestrado.
Vejam vocês outra coisa importante:
Se Jesus tivesse usado a palavra "luz", ao invés de "fogo" teria
dito a mesma coisa.
No entanto, o vocábulo não refletiria o impacto que o grande
Mestre tinha em mente.
Alguém poderia imaginar a chama de uma vela...
...Ou talvez o pálido clarão da lua.
Não, meus amigos, isto seria muito pouco para expressar tudo o que
era preciso dizer.
Por isso, Jesus falou em fogo, esboçando a imagem do planeta em
chamas.
Uma coisa parece clara: O Mestre não se conformava com seguidores indecisos,
que conservam os pés em duas canoas.
Ele queria gente fascinada...incendiária.
Eu entendo o que Jesus queria.
Sem medo de errar, eu digo:
O Mestre queria seguidores apaixonados?
É verdade!
Jesus exigia que a luz de Deus que existe em todos nós se transformasse
em chama crepitante...
...em fogo vivo...
...em fogo verdadeiro...
...em fogo atualizado.
"E por não serdes nem frio nem quente"- diz o Apocalipse, "Eu
vos expelirei da minha boca".
Apocalipse, 3 v 16.
Para Deus e para Jesus, o pior pecado é ser morno.
As cinco virgens tolas, quando ouviram as vozes dos noivos, tentaram, desesperadamente,
acender suas lâmpadas...
...mas não conseguiram.
Suas lâmpadas estavam vazias.
Faltava-lhes combustível para acender a chama.
Esta negligência custou-lhes a reprovação e a expulsão
para outro mundo...
Einstein e outros estudiosos de física, também falam nesta preponderância
da luz...
A matéria é "energia congelada", e as energias são "luz
condensada".
Portanto, tudo é luz (ou fogo) no universo.
O Livro Eclesiástico diz que todas as coisas foram criadas de uma só vez...
O Livro Gênesis aponta sete dias, ou sete ciclos.
Por incrível que pareça, os dois livros estão certos:
Deus criou o fogo primordial (Fiat lux) e todas as coisas vêm sendo
criadas e recriadas por este gabarito.
Quando Jesus disse - "eu vim (...) lançar fogo à terra" -
Ele expunha a grande arma do Criador:
Recriar o mundo pela força da luz.
Um pedaço de lenha é fogo potencial, mas não é fogo
atualizado.
Todos nós somos como um pedaço de lenha: Temos o fogo no recesso
das nossas almas, mas este fogo está adormecido.
Aqui surge o valor do Mensageiro do Evangelho:
Ele usa o palito de fósforo da palavra, e acende a chama.
Não basta que o fogo do Cristo esteja presente em nós, pequenino
e apagado.
É necessário que acenda, que se atualize e que produza frutos.
Certamente é por isso que o Evangelho desdobra a frase em duas partes:
Primeiro o lançamento do fogo; depois, a expectativa prazerosa de que
se espalhe por todo o planeta.
Na Grécia antiga existiu um pintor de quadros, fascinado
pelo fogo.
Acaico era o seu nome.
Suas telas versavam, todas elas, sobre chamas e incêndios.
De repente, uma idéia obsessiva tomou conta de Acaico.
Ele queria pintar uma tela tão perfeita, mas tão perfeita, que
o próprio fogo tivesse vida.
Anos e anos, Acaico se gastou no trabalho, de tal maneira que todos os seus
cabelos embranqueceram.
Envelheceu sozinho, fechado no seu atelier, rodeado de sonhos.
Por mais que trabalhasse, jamais conseguiu espalhar fogo real em suas telas
pintadas...
Foi esta a grande frustração da sua vida.
Com apenas cinqüenta anos, Acaico morreu louco.
Moral da estória:
O fogo do Cristo não pode ser traduzido nem pelo escritor, nem pelo
poeta e muito menos pelo pintor.
Ele só é visualizado e compreendido por aquele que conhece
intimamente o amor na forja do trabalho.
Louvado seja Deus.