Imortalidade é conhecer Deus

Data: domingo, 23 de maio de 2004

[Página inicial] [Índice]


No imenso pavilhão, todos os sábios estavam reunidos.
O Homenzinho-de-Cavanhaque-Pontudo mantinha-se em silêncio, discreto e até mesmo tímido.
Todos discutiam, menos ele.
De repente, alguém deixou escapar a palavra Pompéia, e o Homenzinho-de-Cavanhaque-Pontudo ergueu-se de um salto.
Ele deu as informações de uma forma quase desordenada, mostrando temor de que outro falasse antes dele:
"Pompéia, cidade balneária romana, destruída pelo vulcão Vesúvio, no ano 79 da Era Cristã".
O Homenzinho foi longe, discorrendo sobre os mais insignificantes detalhes da cidade soterrada.
Parecia um morador antigo de Pompéia, que voltara ao mundo moderno, para fazer propaganda de sua terra.
Terminada a exposição, o Homenzinho voltou a sentar-se, na cadeira 22, e permaneceu silencioso por longo tempo.
De repente, alguém citou o nome Pompeu.
A cadeira 22 voltou a ranger, e o Homenzinho-do-Cavanhaque- Pontudo gritou suas explicações:
"Pompeu, general romano, responsável pela vitória sobre os últimos escravos, na revolta de Espártacus.
Júlio César o venceu, na batalha de Farsália...
...E ele foi assassinado no Egito".
Cada vez que surgia palavra com inicial "P", o Homenzinho da cadeira 22 dava o seu recado!
Ele esbanjava erudição, explicando tudo nos mínimos detalhes.
Pitecantropus eretus...
Peloponeso...
Platão...
Parmênides...
Estes, e dezenas de outros vocábulos, foram sendo esclarecidos por alguém que verdadeiramente conhecia o assunto.
O Homenzinho-do-Cavanhaque-Pontudo se revelou um verdadeiro mestre.
O segredo de tudo, porém, se encontrava no início das palavras: todas continham a inicial "P".
O presidente da assembléia não suportou a curiosidade.
Num dos intervalos, abriu o jogo.
- Não há muito a dizer, esclareceu o Homenzinho. Eu passei trinta anos na penitenciária. Encontrei, debaixo do colchão, um volume de enciclopédia que continha tudo sobre a letra "P". Dediquei estes anos ao estudo deste livro.
Contei esta história, meus amigos, porque ela é reveladora.
Em primeiro lugar, teremos que admitir:o estudo é uma prisão.
O estudante tem que se recolher, num isolamento voluntário.
Este isolamento o transforma num prisioneiro.
Em segundo lugar, o Homenzinho-do-Cavanhaque-Pontudo é semelhante ao pesquisador dos nossos dias.
A especialização é exigida, cada vez mais.
Médicos, engenheiros, físicos, biólogos e todos os demais cientistas ocupam espaços cada vez menores.
Enquanto o mundo se globaliza, derrubando fronteiras, o ser humano é confinado estudando a letra "P".
O panorama só não é totalmente igual, porque uns estudam o "P", outros o "B" ou alguma das demais letras.
O fato é que ninguém recebe enciclopédia completa.
A única coisa que iguala todos é a prisão.
Os seres humanos terminam emparedados, voluntáriamente, quando desejam se aprofundar em qualquer ciência.
O cárcere da especialização aprisiona a todos, por igual.
Tempo chegará em que precisaremos dez médicos para tratar somente de nosso rosto.
Aquelas figuras de Sócrates e Platão ensinando todas as ciências são coisas superadas...
Aquele velho de barbas brancas que respondia todas as nossas perguntas já morreu...
...não existe mais!
Certa vez, o califa Astor Murad estava num banquete, ao lado de embaixadores de cinco nações amigas.
Na conversa surgiram dúvidas sobre questões que precisavam ser esclarecidas.
O Califa não teve dúvida.
Convocou o sábio Samir para esclarecer a pendência.
Informado sobre as dúvidas do Califa e de seus convidados, o sábio disse:
- Eu ignoro por completo estas questões..
O califa Astor Murad ficou possesso.
- Como ousa responder eu não sei? Eu lhe pago salário para que saiba.
O sábio Samir esclareceu de imediato:
- Eu recebo salários pelo que sei. Se me pagasses pelo que eu não sei nem todos os tesouros do mundo seriam suficientes.

É isto aí, meus amigos.
O que sabemos é finito!
O que não sabemos é infinito!
Em todos os cantos do planeta...
... em todos os minutos de nosso dia...
... alguém está desvendando novos segredos.
Na física,
Na química,
Na medicina,
Na astronomia...
E em todas as demais ciências.
As pesquisas não páram.
Dogmas de ontem são destroçados pelo rolo compressor de novas descobertas.
Mudanças radicais ocorrem todos os dias.
Nesta corrida maluca, os que não conseguem se especializar são deixados para trás.
Este é o aspecto cruel do progresso.
Este é o aspecto cruel da inteligência divorciada das coisas divinas.
Estão aí as filas de desempregados, sem rumo, incapazes de se ajustarem.
As empresas fixam cartazes:
"Precisamos de empregados com experiência".
"Sem prática é inútil se apresentar".
Desprovido de prática no ramo ninguém se emprega.
Os detentores de curriculo convincente ocupam os cargos.
Os demais caminham, de porta em porta, mendigando vagas.
Bem, meus amigos, já falamos na especialização.
Já abordamos o descompasso da tecnologia.
Agora, vamos ao aspecto espiritual da questão.
Numa conversa animada, um amigo nosso discorria sobre as excelências da educação.
No seu ponto de vista, só a cultura e a educação serão capazes de formar uma sociedade perfeita.
Dizia ele que o Brasil só estará salvo, quando todos os brasileiros cursarem universidades.
- A cultura é fundamental - exclamava este nosso amigo.
- Há controvérsia - eu lhe disse, brincando: Há controvérsia.
Contei-lhe a história dos três rapazes de Brasília, que incendiaram índio, que dormia num banco de praça.
Todos eles freqüentavam os melhores colégios da capital do país.
Agora, nós voltamos no tempo para lembrarmos a figura de Francisco de Assis.
Saibam que Francisco de Assis conhecia "poucas letras". A escolaridade naqueles moços não lhes impediu de praticar aquele bárbaro crime.
Em contrapartida, apesar da ausência de erudição, Francisco de Assis jamais praticou um ato de violência.
Neste ponto, eu acredito que todos concordam: Entre estes três rapazes e Francisco de Assis não existe termo de comparação.
Concluímos, portanto, que a cultura solitária pode não ser o remédio perfeito.
Ela demanda outro ingrediente.
É aquilo que o apóstolo Paulo escreveu com acerto:
"Se eu falasse a língua dos homens e dos anjos e não tivesse amor, nada seria".
I Coríntios, 13 v 1.
Inteligência sem amor pode até mesmo ser perigosa.
Nós conhecemos a história de um cientista, nos Estados Unidos, que assassinou dezenas de pessoas.
A ciência sem Deus pode ser uma bomba.
Concordamos que o homem precisa de aperfeiçoamento mental.
Acima de tudo, porém, o homem necessita do aperfeiçoamento espiritual e moral.
Certa vez, alguém perguntou a Confúcio:
- Mestre, poderia nos dizer qual a finalidade da sabedoria?
Confúcio respondeu, sorrindo:
- A finalidade da sabedoria é extinguir a ignorância.
- E a ignorância, Mestre... Que é a ignorância?
- A ignorância, meu filho, é o desconhecimento do bem - respondeu Confúcio.

A ciência mais alta, o conhecimento perfeito - é aquela aspiração que nos conduz ao encontro de Deus.
Será irrelevante freqüentarmos liceus, colégios e universidades.
A nossa cultura somente se completará na esfera do espírito.
"Conhecereis a Verdade e a Verdade vos libertará"
"Vida Eterna é esta: que os homens te conheçam a ti, ó Pai, e a Jesus, o Cristo, a quem enviaste".
São palavras do Divino Mestre.
No primeiro texto, o prêmio é a Liberdade.
No segundo texto, Vida Eterna é a recompensa.
Torna-se evidente, que a busca do conhecimento é condição essencial.
Os valores dos prêmios mostram a importância desta demanda.
O apóstolo Paulo escreveu que a nossa edificação se faz de "glória em glória".
Cada quilômetro é um êxtase.
Cada quilômetro é o marco de uma nova esperança.
Bandeirante do espírito, quem começa esta peregrinação não sente mais vontade de interrompê-la.
A fascinação do mistério revela-se irresistível.
Borba Gato, o famoso sertanista de São Paulo, atravessou o sertão na busca de um sonho. ..
...o sonho verde das esmeraldas.
Dizem as lendas, que ele conversava com as estrelas, todas as noites, identificando as vertentes sagradas.
Os "duendes" da floresta colocavam em suas mãos o roteiro das pedras.
De manhã, ele traçava o mapa.

Como Manoel Borba Gato, nós temos a mesma chance.
Bandeirantes do espírito, bastará ensaiarmos os primeiros passos, e Deus irá nos revelando o mapa da mina.
- "Buscai e achareis" - ensinou Jesus.
Huberto Rohden nos diz que não há "luz vermelha" nem "trânsito impedido".
A estrada longa do conhecimento de Deus possui tão somente "luz verde" de "trânsito livre".
Bastará um ato de vontade.
Bastará uma disposição de querer.
Bastará darmos o primeiro passo, conscientes de que nos encontramos na trilha do conhecimento de Deus.
"(...) venha o teu reino (...)", ensinou Jesus, na oração do Pai Nosso.
Mateus, 6 v 10.
A propósito destas palavras do "Pai Nosso", vale a pena lembrarmos um fato que ocorreu anos atrás.
- Espera um pouco, Getúlio, me disse alguém: O próprio Jesus nos disse que "o reino de Deus está dentro de nós".
Você não acha que o "Pai Nosso" torna-se confuso quando pede "venha o teu reino"?
De certa maneira, a dúvida deste nosso irmão é pertinente:
Se o "reino de Deus" já está dentro de nós por que pedirmos que "ele venha"?
A explicação torna-se uma questão de consciência.
É na esfera da consciência que nós realizaremos o nosso encontro pessoal com o Espírito Divino.
A viagem para o conhecimento de Deus não se faz para o "além de fora".
É no "além de dentro" que nós encontraremos o Senhor, onde Ele sempre esteve...
Quando o Criador fez o nosso espírito, Ele o fez com faísca da sua própria luz.
Nós é que perdemos contato com esta realidade.
Tão perto e ao mesmo tempo tão longe.
"(...) a verdadeira luz (...) que ilumina a todo homem".
João, 1 v 9.
Ter consciência desta luz - eis a questão.
Parece fácil, mas, ao contrário, é extremamente difícil: Esta viagem equivale a diversas voltas ao mundo, de tão difícil que é.
O evangelista João define este roteiro do nosso "Eu".
"(...) a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus(...)".
João, 1 v 12.
Este "receberam" significa a disposição de buscar o conhecimento deste Deus interno...
...o primeiro passo...
...a primeira aula.
Se o Mestre nos recomenda insistir é sinal que o "reino" chegará um dia.
Embora pecadores, num ponto da jornada nós adquirimos certeza de que nos encontramos na trilha.
Isto conforta o peregrino cansado, reforçando esperança.
Todo o saber finito, medido, pesado e contado pelos cinco sentidos já não tem o mesmo valor...
Aparelhos
máquinas
esquadros
tubos de ensaio
balanças
serrotes e martelos...
Tudo isto pertence ao velho mundo das coisas perecíveis...
Dali para diante tudo vai ficando mais claro:
Os olhos do homem enxergam poucos metros...
Os olhos do peregrino vislumbram quilômetros!
As mãos do homem afagam no círculo de centímetros.
As mãos do peregrino se estendem pelas montanhas, confortando os filhotes das águias!
Aqui, o homem se tornará imortal.
Aqui, o homem se tornará filho de Deus.
"Conhecereis a Verdade e a Verdade vos tornará livres"
"Vida eterna é esta: Conhecerem-te a ti, ó Pai, por verdadeiro Deus, e a Jesus, o Cristo, a quem enviaste!"
Louvado seja Deus!

[Página inicial] [Índice] [Topo]