Data: domingo, 15 de agosto de 2004
Conta-se que um fazendeiro empobreceu tanto, que não tinha
mais dinheiro sequer para alimentar o seu burro...
Atravessava um período de vacas magras, e o seu animal definhava por
falta de comida.
Um dia, o fazendeiro encontrou, no campo, um tigre morto.
Na hora, surgiu-lhe uma idéia luminosa.
Vestiu o burro com a pele do tigre.
Foi a conta!
O falso tigre assustava todo mundo.
Ninguém ousava barrar-lhe o caminho.
Onde chegava, toda comida era sua.
O burro engordou, e ficou forte.
Um dia, porém, o caldo entornou.
Atraído pelo zurrar de algumas mulas, o burro não conseguiu disfarçar
o instinto...
... e zurrou, também!
A farsa foi descoberta.
E o burro foi morto a pauladas.
Por esta lenda, nós chegamos a uma conclusão:
É muito difícil esconder a "fala".
Pelo nosso falar seremos reconhecidos.
Não é possível usar os chifres do Cordeiro, se a nossa
voz é igual à voz do Dragão.
É claro que o burro não poderia enganar como tigre, quando zurrar é o
som natural de sua "voz".
Pela nossa "fala" seremos flagrados.
Por esta razão, eu adquiro o direito de afirmar: Constantino foi um
desastre para o cristianismo.
Ele "falava"de forma diferente.
Ele veio contaminar a inocência primordial dos primeiros seguidores de
Jesus.
Constantino destruíu o elo mais revelador do apostolado:
"Amai-vos uns aos outros: Nisto conhecerão todos que sois verdadeiramente
meus discípulos".
Palavras de Jesus em João 13 vv 34 e 35.
Emitindo com clareza a minha opinião, eu não posso faltar com
a verdade: Constantino criou religião com outro rosto.
O dilema se estabelece: Jesus ou Constantino?
Teremos que escolher entre os dois.
Os templos dos deuses romanos foram destruídos, mas o espírito
do paganismo permaneceu...
...E novos templos se ergueram para consolidar a vitória.
Os preceitos trazidos por Jesus foram desfigurados pela prepotência das
legiões romanas.
Não resta qualquer dúvida: a Inquisição é a "segunda
Besta"...
...E o iniciador do desastre foi Constantino.
Estado e Igreja se sustentando, numa única estrutura.
No ano 380, aquelas criaturas saíram das catacumbas para integrar a
elite do Estado Romano.
Nas palavras do Apocalipse: a segunda Besta fez "(...)com que a terra
e os seus habitantes adorassem a primeira Besta".
Apocalipse, 13 v 12.
Roma (primeira Besta), já agora governada por Teodósio I, recuperara-se
da "ferida mortal" de algumas derrotas..
Uma religião nova servia para levantar o moral.
Por isso, a aliança fora estimulada.
A força de operar "milagres" ainda se encontrava viva, nos
carismas que Jesus ensinara.
Abusou-se deste poder para reerguer o prestígio combalido dos imperadores.
- Uma mão lava a outra! - certamente exclamaram os césares, esboçando
um sorriso malicioso.
É claro que os imperadores comemoraram a valiosa ajuda.
Leitura atenta do texto profético não deixa dúvidas:
"E ela" ( a segunda Besta) "exercitava todo o poder
da primeira
Besta (...) e fez que os habitantes da terra a adorassem.
E obrou grandes prodígios, de sorte que até fazia descer fogo
do céu (...) à vista dos homens.
E seduziu (...) com os prodígios que lhe permitiram fazer diante da
Besta, (...) que tinha recebido um golpe de espada, mas ainda estava viva".
Apocalipse, 13 vv 12 a 14.
Aproveitando aquele carisma da "Segunda Besta", o Império
Romano sobreviveu, retardando o inexorável declínio.
A estória da cruz de fogo e as palavras escritas no céu reergueram
o animo de um exército desmotivado.
As palavras de "marketing" - "com este sinal vencerás" -
reacenderam a chama de uma nação decadente.
A "segunda Besta" (Inquisição) adubou a lavoura ressecada
da "primeira Besta".
As duas se fortaleceram na violência e no crime:
"E foi lhe concedido que comunicasse espírito à imagem da
Besta, e que falasse a tal imagem (...) e que fossem mortos todos os que não
a adorassem sua imagem..."
Apocalipse, 13, v 15.
Profeticamente, este versículo define o nascimento da Inquisição.
No versículo seguinte, os dois poderes unidos decretam a extinção
definitiva dos opositores.
"E todos os homens, pequenos e grandes, e ricos, e pobres, e livres, e escravos,
passarão a ter um sinal na sua mão direita ou nas suas testas.
E que nenhum possa comprar ou vender, se não tiver o sinal ou o nome
da Besta".
Apocalipse 13 vv 16 e 17.
Quem poderá viver sem "comprar ou vender"?
Pois saibam que este foi um dos decretos da Inquisição.
Os "herejes" ficaram proibidos de adquirir até mesmo provisões
para o sustento da família.
Uma coisa nos surpreende nesta história da perseguição:
Apesar da repressão violenta, estes "benditos herejes" foram
tantos que nos deixam assombrados.
Realmente, era preciso muita coragem para enfrentar tanta opressão.
Somente em Portugal, mais de trinta mil pessoas foram processadas pelos cardeais
do Santo Ofício.
Na Espanha, quando o preposto de Napoleão chegou, para assumir o governo,
a Inquisição ainda se encontrava lá.
Mais de mil anos este cancer destruíu as entranhas da sociedade.
E aqui nós chegamos a uma conclusão patética:
Os teólogos encarregados de interpretar as profecias nada encontraram
no texto do Apocalipse.
Para eles, a Inquisição não existiu.
Passaram a borracha em mais mil anos de história.
Taparam o sol com a peneira do esquecimento.
Infelizmente para os teólogos, porém, aconteceu um acidente de
percurso.
João Paulo II não somente apontou a Inquisição,
mas pediu perdão ao mundo pelos seus crimes.
De agora em diante, eu espero que os teólogos modifiquem a interpretação
do Apocalipse.
Afinal, sendo o Apocalipse um livro profético, a história é conseqüencia
das suas previsões.
De nossa parte, o texto em estudo é claríssimo:
"E vi outra Besta que subia da terra, e que tinha dois chifres semelhantes
aos do Cordeiro, e que falava como o Dragão".
Apocalipse, 13 v 11.
Alguns séculos antes do acontecido, o profeta João antecipou
a tragédia.
Gente fina, com aparência de "santo", não conseguiria
disfarçar a voz do Dragão.
Joana D'Arc foi queimada por este tribunal implacável.
Está muito claro, para ser desdenhado.
Em Apocalipse, 13, v 15, as duas Bestas, unidas, decretam a morte dos que não
rezam pela sua cartilha:
"(...) que fossem mortos todos aqueles que não adorassem a imagem
da Besta".
Em nossos tempos, é impossível esconder a história.
Qualquer criança encontra Inquisição nas enciclopédias
escolares...e na Internet...
Bastará acessarmos o vocábulo Inquisição.
A tela do computador ficará repleta de "irreligião".
O mundo globalizado escancarou este período negro da nossa história.
Ou aceitavam sem discutir o que eles decretavam ou a fogueira se acendia.
Eles não davam alternativas.
Era se ajoelhar...ou morrer!
Hoje, mais do que nunca, eu acho uma perda de tempo a simples tentativa de
dourar a pílula.
Eu tenho diversas Bíblias, traduções modernas e antigas.
Possúo a Bíblia, em 17 volumes, que o Papa Pio XII mandou publicar,
no Ano Santo de 1950.
Em quase todas as páginas, foram registrados comentários alusivos
ao texto.
Não encontrei a menor referência da Inquisição como
cumprimento das profecias apocalípticas.
É como se aquele tribunal não tivesse existido.
Invariavelmente, os comentários de pé de página ignoram
o assunto, por completo. .
Como aquelas crianças surpreendidas em flagrante, os teólogos
escondem as mãos atrás das costas.
Vocês perguntarão:
Mas, afinal, por que tanto empenho em esconder a verdade?
Hoje, todas as religiões são bem comportadas.
Se houve genocídio, o delito já prescreveu.
Não é tão simples assim, meus amigos...
No fundo...no fundo, o temor dos teólogos é válido.
Lembrem-se que, em Cesaréia de Filipe, Jesus disse que "as portas
do inferno não prevaleceriam sobre a sua Igreja".
Os catedráticos não desejam que os crimes da Inquisição
demonstrem o prevalecimento do inferno.
Afinal, na religião do amor pregada por Jesus não existe lugar
para opressão e violência.
Toda violência é incompatível com o Sermão da Montanha.
Toda violência é incompatível com a religião do
Cristo.
Antes de encerrarmos este trabalho, porém, uma dúvida precisa
ser esclarecida:
Afinal, as "portas do Inferno não prevaleceriam" sobre qual
religião?
No meu entendimento, o próprio Jesus já respondeu esta pergunta.
No diálogo com a mulher samaritana, o Mestre foi claro. "Senhor",
disse aquela mulher, "vejo que sois profeta: nossos pais adoraram neste
monte. Vós dizeis que Jerusalém é o lugar de adoração.
E Jesus lhe disse:
Já é chegada a hora em que nem neste monte nem no templo de Jerusalém
adorareis ao Pai(...).
Deus é espírito, e em espírito deve ser adorado".
João, 4 vv 19 a 24.
Não existe um lugar confinando os escolhidos de Deus.
Eles se espalham por todas as religiões da Terra.
O importante não é mais o que eles seguem: o essencial é o
que eles são.
Desde os tempos de Jesus, as enormes organizações revestidas
de granito e mármore deixaram de ser o essencial.
Esta religião que mora nos corações é a única
que não pode sofrer o "prevalecimento do Inferno".
"Deus é espírito, e em espírito deve ser adorado".
Louvado seja Deus.