Poder curativo do perdão
Data: quinta-feira, 1 de dezembro de 2005
Quantas pessoas estarão repetindo
as palavras do Pai Nosso, agora, neste preciso instante?
É muito difícil calcular.
Para responder esta pergunta, teríamos que ficar invisível e dar
uma volta ao mundo na velocidade da luz.
Violando a privacidade de bilhões de pessoas, nós invadiríamos
sua intimidade para obtermos o resultado.
Os que oram o Pai Nosso estarão ai pela casa do bilhão.
No recesso dos lares, nas igrejas, nos centros espiritualistas, e nas próprias
ruas, bilhões de pessoas estão repetindo as palavras de Jesus.
No ocidente, talvez seja a prece mais popular e a mais repetida.
Dentro dela, porém, sobram motivos que recomendam cautela.
Existem trechos comprometedores nesta oração ensinada pelo Divino
Mestre. .
De certa forma, nós somos surpreendidos falseando a verdade.
"Perdoai-nos, Senhor, assim como nós perdoamos os nossos ofensores”.
Será que você poderá formular uma promessa deste tamanho?
Será que todas as ofensas foram perdoadas por você?
Parcela enorme da humanidade não poderia repetir esta prece, se atentasse
para os compromissos que ela contém.
Quando torcemos a verdade, em nossas relações sociais, estamos
pecando contra o nosso próximo.
Quando torcemos a verdade, em nossas relações com Deus, estamos
pecando contra o Espírito Santo.
Vocês já imaginaram a extensão do nosso atrevimento?
Pedirmos a Deus "venha o teu reino", e, no mesmo momento, tentarmos
enganar a Deus?
Percebam que nós prometemos "perdoar os nossos ofensores" – sem
a menor intenção de cumprir a palavra.
Para utilizar o Pai Nosso nós teríamos que lançar fora de
nós o entulho do rancor e do ódio.
"Se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai Celestial
vos perdoará”.
São palavras de Jesus.
"Se, porém, não perdoardes aos homens, tão pouco vosso
Pai Celestial vos perdoará”.
Palavras de Jesus, em Mateus, 6 vv 14 e 15.
Estes dias eu escutei pregador, na Televisão, explicando que a salvação
vem de graça, sem cobranças, por parte de Deus.
Quando Jesus cobra o perdão de nossa parte, como condição
para sermos perdoados, Ele está exigindo algo.
Existe moeda de troca no contexto.
O perdão não chega de graça.
No primeiro tempo teremos que perdoar.
Somente num segundo tempo o perdão chegará em nosso favor.
Uma atitude firme de nossa parte está sendo cobrada.
“Se não perdoardes aos homens”, afirma Jesus “tão
pouco vosso Pai Celestial vos perdoará”.
Mateus, 6 v 15.
Existe uma exigência clara de reciprocidade.
Primeiro nós teremos que perdoar.
Somente após o cumprimento da exigência divina a benesse nos alcançará.
Quando nos aproximamos de Deus, para suplicar-lhe alguma coisa, precisamos, antes
de tudo, mostrar-lhe o “dever de casa” bem feito.
Vamos imaginar uma cena insólita: deitamos e rolamos na lama e a lama
adere ao nosso corpo.
Ficamos mais parecidos com bicho do que com gente.
A sujeira nos cobre até os olhos, e não enxergamos nada.
E eu pergunto para vocês: Que fazer agora?
Qualquer um responderá: Ora, não existe outro caminho além
de uma boa “chuveirada”.
A lama vai escorrer e desaparecerá no ralo.
Muito bem! Vamos ao chuveiro, desperdiçamos bastante água, mas
a lama e a sujeira continuam.
O que que é isto, minha gente?
É
simples: O sujeito colocou uma capa de plástico para se proteger da água.
A capa de chuva plástica protege a lama...
E a lama, protegida, permanece, teimosamente, nos tecidos das nossas almas.
Vocês sabem o que representa esta capa de chuva?
Esta capa de chuva é a desculpa que todos usamos para continuar alimentando
discórdias.
Fulano foi “grosso” demais. É impossível desculpar
tantas ofensas. Afinal, eu tenho meu orgulho.
A vizinha me bateu com a porta na cara.
Isto eu jamais esquecerei, nem que viva mil anos.
E assim, continuamos de mal com nosso vizinho, com nossos irmãos, com
nossos pais, e assim por diante.
Os culpados estão sempre o lado de lá.
De nossa parte, nós nada fizemos contra eles...
Somos inocentes, verdadeiro santos.
Santos de “pau oco” é isto que nós somos...
Ninguém se iluda com este ar de superioridade.
Esta pretensa inocência é a capa de chuva que não deixa escorrer
a lama das nossas almas.
Consideramos tão justo o nosso rancor que não desejamos que ele
escape pelo ralo.
Hipnotizamos a nossa consciência.
Este é o grande mal.
E assim, sem culpa nem mazela, nós continuamos a repetir tranqüilamente
as palavras do Pai Nosso:
"Perdoai-nos, Senhor, assim como nós perdoamos os nossos ofensores".
Somos tão inocentes que não acreditamos que Jesus tenha se referido
a nós.
Em nosso caso, a animosidade de nossos ofensores é imperdoável.
Eles é que são os nossos carrascos.
Eles é que estão nos perseguindo.
Nós somos vítimas.
O fato é que ninguém admite parcela de culpa.
Uma coisa é certa: se todos fizéssemos um exame de consciência
nós entenderíamos a verdade.
Se não usássemos a capa de chuva da desculpa, a água do
chuveiro nos lavaria com certeza a pele da alma.
Os olhos de muita gente se abririam como bola de tênis, e eles enxergariam
o tamanho da sua maldade.
Inegavelmente, os dois lados de um conflito têm sua culpa.
No momento que reconhecermos esta realidade, estaremos perto da solução
de todas as guerras.
Em síntese, a grande verdade é esta: reconhecer que somos pecadores.
Isto é o básico em matéria de doutrina cristã.
Conta-se que Jesus, certa vez, precisou de alguém, para cumprir missão
muito difícil.
O emissário deveria caminhar até o norte, além da Galiléia
dos Gentios, e pregar a mensagem do perdão.
Tribos nômades haviam massacrado aldeias indefesas.
O Mestre queria que fossem alertadas.
- A missão não será fácil, disse Jesus. O escolhido
enfrentará perigos... Terá minha benção, porém.
E a proteção do Pai. Levante o braço quem se achar em condições
de realizar este trabalho.
Foi um alvoroço. Empolgados com a oportunidade de servir ao Senhor, e
se destacar em seu futuro reino, todos ergueram o braço direito.
Todos, menos um.
Torcendo as mãos, nervosamente, aquele homem tentava esconder-se no meio
da multidão.
O Rabi o procurou, com os olhos, e perguntou-lhe, suavemente:
- Filho... Tu não desejas servir-me?
- Mestre, servir-te seria verdadeira honra. Mas eu não posso. Não
mereço. Sou um grande pecador.
- Bem sabes, filho, que eu vim para os pecadores.
- Ouvindo tuas palavras de amor e de perdão, Senhor, agravaram-se as minhas
culpas. Sigo-te, de longe, para não manchar com minha presença,
a terra onde pisas!
Jesus aproximou-se dele, colocou as mãos sobre seus ombros, e lhe disse,
sorrindo:
- Tu és o escolhido, filho. Ainda hoje viajarás para o norte. Deus
te abençõe e te guarde!
Todos os demais se consideravam justos e merecedores.
Só aquele homem teve a coragem de confessar-se indigno da honrosa missão.
Pela humildade, ele foi escolhido por Jesus.
Por incrível que pareça, quem se considera indigente é o
mais rico.
Quem se diz errado tem maior capacidade de aceitar o erro dos outros.
Na matemática da bem-aventurança, os números podem parecer
diferentes.
O Rico da Parábola amanheceu paupérrimo.
O Lázaro da Parábola, que comia migalhas, amanheceu próspero.
Os números podem surpreender o senso analítico dos nossos estudantes.
Na matemática divina os dois centavos oferecidos pela viúva, no
Templo, transformaram-se em milhões.
“Ela deu mais que todos os outros”, nas palavras do Nosso Rabi.
O perdão, pelos números do Cristo, deveria ser repetido setenta
vezes sete.
Setenta vezes sete, na matemática divina, aponta o infinito: perdoar sempre.
Já que estamos falando em números, vamos analisar um problema pertinente.
Deus nos tem perdoado dívidas que somam o valor mil.
As ofensas que teremos de perdoar aos outros é zero, vírgula, zero,
um. (0,01).
Até o mais avarento dos banqueiros aceitaria trocar estas dívidas.
Trocar um centavo por mil.
Grande negócio.
Pois é exatamente isto que Jesus nos propõe através do Pai
Nosso.
"Perdoai-nos, Senhor, assim como nós perdoamos os nossos ofensores".
Deus está disposto a nos perdoar.
Limpar-nos da falta de integridade.
Zerar a nossa conta corrente.
Mas ele deseja um trocadinho por conta desta dívida.
Este trocado é o esquecimento das ofensas...
...É o perdão incondicional.
O mundo inteiro clama por perdão.
As nações precisam dele.
O comércio, a indústria, o capitalismo, os operários, a
sociedade inteira...
Todos os seres humanos estão carentes desta mágica:
Dar e receber perdão.
O perdão desintegra o ódio, levando a luz para os conflitos.
Se nós, os pequenos, iniciarmos a batalha, um dia os G-7 e os G-8 da vida
acabarão aderindo.
O fato é que todos deverão ser submetidos à profilaxia do
perdão
Os nossos lares...
Cada coração humano...
Os nossos amigos...
...e também os que se consideram nossos inimigos.
Lembremo-nos das palavras geniais de Jesus:
"Amai vossos inimigos, fazei bem aos que vos maldizem, e orai pelos
que
vos perseguem e caluniam(...)"
Ninguém pode ser feliz, guardando mágoas no coração.
Perdoar é uma chave, que abre o cadeado da porta da paz.
Quando Jesus perdoou a mulher adúltera, ela ficou tão surpresa,
que o Evangelho nem registrou o seu agradecimento.
Se ela o fez, o fez tão baixinho, que somente Jesus ouviu.
Depois disto, ela desapareceu no anonimato.
Não sabemos para onde foi.
Assim como desconhecemos quem era.
Uma coisa, porém, todos têm certeza: ela jamais foi a mesma.
Ela mudou completamente.
Aquele homem puro e perfeito poderia condená-la.
Ele tinha todas as condições para lançar a primeira pedra.
Não o fez, porém.
Deixou-a livre, para seguir, em paz, o seu caminho.
E aquela marca, com toda a certeza, ela guardou em todos os dias da sua vida.
Presa em flagrante, ela foi acusada, julgada, mas não foi condenada.
Jesus perdoou aquela mulher.
Ela foi perdoada.
Mais do que a guilhotina...
Mais do que a cadeira elétrica...
...O perdão esmaga o pecador, abalando-lhe as estruturas.
O pecador fica sem ter o que dizer nem o que fazer.
Ele fica em silêncio.
Não existe coisa mais poderosa para reformar alguém do que o perdão.
Quando Gandhi era adolescente, envolvido com más companhias, ele acabou
contraindo dívida de vinte e cinco rúpias.
Desesperado, o garoto Mohandas serrou bracelete de ouro que o pai lhe emprestara.
Aquilo abalou profundamente o seu senso de honestidade.
Maltratado pelo remorso, resolveu confessar.
Escreveu bilhete ao pai narrando a transgressão.
Gandhi esperava violento castigo.
A cena que ocorreu marcou profundamente aquele que seria o futuro Mahatma.
Depois da leitura da confissão, o pai chorou sobre o papel, chegando a
encharcá-lo de lágrimas.
Depois, olhando firme e ternamente para o filho, Kaba rasgou o papel da confissão,
sem proferir nenhuma palavra.
Imaginem a cena patética:
As lágrimas do pai substituíram as palavras de censura.
Como resultado, ressaltamos a lição imperecível.
Uma lição de amor e de perdão.
Mohandas Gandhi escreveria mais tarde:
“Esta lágrima de ternura de meu pai purificou o meu coração
e lavou minha falta”.
“Na oportunidade, eu só enxerguei o gesto de afeição,
mas hoje, muitos anos depois, eu sei que se tratava do mais puro amor”.
Se o pai de Gandhi não tivesse perdoado o filho, talvez a história
dele fosse outra.
Em todas as ocasiões, meus amigos, sempre existirá um atalho generoso
para usarmos bom senso e misericórdia.
O perdão cabe inteirinho nas dimensões da nossa vontade.
O escritor Coelho Neto fez parte de uma delegação para tomada de
posse de uma zona conflituosa no território da Bolívia.
Controvérsia de fronteira com todas as suas implicações.
A região havia sido ganha, pelo Brasil, em foro internacional, o que desagradou,
profundamente, os bolivianos.
Por isso foi surpresa o convite recebido:
Banquete com participação dos embaixadores da América do
Sul estava previsto.
A surpresa desagradável aconteceu na abertura da solenidade:
Os bolivianos haviam colocado no salão as bandeiras de todos os países,
menos a bandeira do Brasil.
A delegação brasileira ficou em pé de guerra: estavam prontos
para revidar a provocação com violência.
- Vamos quebrar tudo, gritaram os mais afoitos.
Coelho Neto pediu calma, dizendo aos companheiros que deixassem tudo por sua
conta.
O escritor percebera, num dos cantos da sala, um vaso contendo um pé de
café.
Pediu a palavra e pronunciou um discurso inflamado, saudando os bolivianos.
A palavra “hermanos” escapou fluente dos seus lábios.
Disse a eles que entendera a beleza e a profundidade da homenagem, que eles estavam
prestando ao Brasil.
Sendo o Brasil o país homenageado, fora lisonjeira a forma adotada por
eles.
E apontou para o pé de café.
Sim, bradou Coelho Neto, isto ressalta a grandeza da intenção de
vocês.
Substituir a bandeira pelo nosso maior produto de exportação é homenagear
os próprios trabalhadores do Brasil.
Os bolivianos, que jamais esperavam aquela reação, ficaram paralisados,
e em silêncio...
Coelho Neto lhes dera uma lição.
Brasileiros e bolivianos terminaram o banquete, mais amigos e mais irmãos.
Alguém jogara água no incêndio.
Alguém acendera uma lâmpada e exorcizara as trevas.
Se soubermos procurar, sempre existirá um "pé de café" para
interromper o caudal da discórdia.
O Evangelho tem isto de belo.
"Bem aventurados os pacificadores, por que serão chamados filhos
de Deus".
Palavras de Jesus em Mateus, 5 v 9.
Não restam múltiplos atalhos, não!
Ou você esquece as ofensas, ou você sobrecarrega o seu coração
com o peso das mágoas.
Neste ponto Jesus não era sentimental quanto a alternativas.
Ele sempre foi brusco e direto.
- "Se você perdoar os outros, o Pai Celestial perdoará você!"
- "Se você não perdoar os outros, então o Pai Celestial
também não perdoará você".
Não existem outros caminhos.
É impossível vencermos ódio com ódio.
Ninguém apagará o fogo jogando gasolina sobre ele.
Para extinguir o fogaréu nada melhor que água.
Não existe cerimônia que lave a alma da sujeira do rancor.
Perdoar é a única profilaxia disponível.
Oração alguma terá força, enquanto nosso coração
estiver contaminado pelo ódio.
“Se estiveres diante do altar para apresentar tua oferenda, e te lembrares
que o teu irmão tem queixa contra ti,
deixa a tua oferenda ao pé do altar,
e vai reconciliar-te primeiro com o teu irmão.
Depois poderás entregar tua oferenda”.
Palavras de Jesus, em Mateus, 5, vv.23 e 24.
“Não hesites em fazer as pazes com o teu adversário,
enquanto
estiveres em caminho com ele,
para que não te entregue ao juiz,
e sejas lançado no cárcere.
Em verdade te digo que não serás libertado, enquanto não
pagares o último vintém”.
Mateus, 5, vv 25 e 26.
Jesus queria nos abrir os olhos.
Percebam que o ódio é um cárcere que só termina depois
do resgate da dívida.
O melhor negócio do mundo é resolver tudo neste plano, quando existem
mil maneiras de acertar as contas. .
O melhor negócio do mundo é não ter desafetos do lado de
lá.
Além da marca do nosso desamor, eles têm a vantagem de nos enxergar
e podem nos atingir.
Para nós eles são invisíveis.
Ai de nós, portanto, se deixarmos viajar para o além aquele que
prejudicarmos, sem acerto de contas.
Ai de nós se não buscarmos o perdão, e se não fizermos
tudo para reconciliar-nos com ele.
São as palavras sábias de Jesus:
“Não hesites em fazer as pazes com o teu adversário, enquanto
estiveres em caminho com ele(...)”.
Mateus, 5 v 25.
Judite Esteves encontrava-se irredutível.
Seu pai agonizava, no hospital, chamava por ela, mas Judite se recusava visitá-lo.
- Eu não tenho pai, explicava aos parentes e amigos.
Manoel Esteves sempre fora violento com ela.
Entre os dois o clima era de coisas mal resolvidas.
Muitas brigas ocorreram entre pai e filha, prenunciando iminente rompimento...
...até que Manoel Esteves a expulsara de casa.
Trinta anos transcorreram desde aquela tarde violenta.
- Você não pode namorar o Zeca, dissera o pai. Ele não presta.
- Não lhe dou o direito de manipular a minha vida, respondera Judite,
no mesmo tom agressivo.
Manoel muniu-se de chicote, e avançou, raivoso.
Judite escapou da agressão, depois de um corte no rosto.
Trinta anos não bastaram para apagar aquele ódio.
Depois da visita de todos os seus familiares, seu irmão mais velho veio
tentar vencer a teimosia de Judite.
- Nosso pai está muito doente, Judite. Ele deseja lhe pedir perdão,
para morrer em paz.
- Agora é tarde, respondeu ela. Diga ao velho que não tenho a menor
disposição para encará-lo.
Quando o irmão se afastou, extremamente frustrado, Judite Esteves sentiu
estranho torpor.
Por sorte ela alcançou o sofá, onde caiu desmaiada.
No portal daquele sono, Judite teve uma visão.
Embora com outra pele e outro rosto, ela teve a certeza que aquele escravo amarrado
ao tronco era o seu pai.
Dois homens o açoitavam furiosamente.
- Surrem este demônio sem parar, ela gritava da sacada. Eu quero vê-lo
morrer! Eu quero vê-lo morrer!
O escravo a procurava com os olhos, desesperado, clamando pelo seu perdão,
mas ela se manteve irredutível.
Afastou-se dele sem a menor piedade.
Deixou que o matassem.
Quando acordou do letargo, toda aquela sua vida passada lhe surgiu na mente como
na tela de um cinema.
Agora, Judite compreendeu a grande verdade.
O ódio viera de longe.
Ela e o pai alimentaram aquela raiva durante toda a vida.
Haviam desperdiçado a maravilhosa oportunidade de reconciliação
que Deus lhes oferecera.
Violento e desesperado remorso cresceu, dentro dela, com a força de uma
tempestade.
Judite correu para o hospital.
Lançou-se nos braços de Manoel Esteves, lavando seu rosto com suas
lagrimas de arrependimento.
- Pai, por favor: me perdoe.
Manoel Esteves sorriu para ela, e a fitou longamente com seus olhos embaçados.
Pouco depois desencarnou tranqüilo nos braços da filha.
São dramas da vida, meus amigos, que nos devolvem uma certeza: nada prospera
sem o perdão.
No Evangelho de Mateus, 19 v 9, Jesus concorda que um dos cônjuges pode
requerer divórcio, no caso de adultério.
Num programa na Rádio Clube, alhures, a propósito do perdão,
alguém me formulou esta pergunta:
Esta abertura do Mestre para o divórcio lícito não tornará o
adultério agressão imperdoável?
A frase “salvo em caso de adultério” parece sugerir esta idéia,
rematou o meu consulente.
Realmente, todas as agressões são difíceis de perdoar, incluindo
obviamente esta da traição. .
Se fosse fácil perdoar nós não estaríamos mais aqui.
Permitindo a separação para quem pratica adultério, Jesus
não sugeriu qualquer tipo de represália.
Ele apenas desligou o casamento da tomada.
O adultério quebrou o cristal da união.
Não existe cola para refazer o cristal.
Ninguém pode ser obrigado a cultivar uma intimidade que já não
existe.
Ninguém pode ser obrigado a persistir numa afeição que foi
ferida e violentada.
O adultério revela um casamento falido.
Cada um poderá seguir o seu caminho, mas é importante dizer que
este caminho deve ser trilhado em paz.
O cônjuge agredido não deverá ficar ruminando pensamentos
negativos contra o outro.
Perdoar – ainda e sempre – é o procedimento correto.
Lembremos que Jesus falou que o adultério justifica a separação.
Ele jamais disse, porém, que o adultério favorece a violência
e o desamor.
Louvado seja Deus.