Onde está o teu tesouro?

Data: quinta-feira, 13 de julho de 2006

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Não adianta o pai rico forçar o filho a estudar medicina.
Se ele nasceu inclinado para a música, acabará péssimo médico.
Os testes vocacionais são bolados para analisarmos nossas inclinações na escolha de um rumo para nossas vidas.
Dentro do enorme leque de opções, é necessário escolher com cuidado.
O pai pode ter sido médico famoso e bem sucedido.
É possível que o filho não tenha as mesmas inclinações.
Ninguém será feliz exercendo atividade sem prazer.
Isto vale para recreação, para leitura, e, acima de tudo, para escolha de uma filosofia religiosa.
Tudo o que fizermos em nossas vidas deverá ter o toque gratificante da emoção.
O nosso futuro poderá ser a soma destas preferências.
Vocês não acham que trabalhar com alegria é remédio para o próprio corpo?
Tudo o que praticamos com júbilo é bálsamo reparador, que atua profundamente em nossas almas.
É natural que esta terapia alcance nossos corpos e nos torne mais saudáveis.
Por esta razão, a genialidade do Grande Mestre inseriu no texto uma palavra mágica:
- "(...) onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração".
Mateus, 6 v 21.
Não resta dúvida que Jesus utilizou a palavra "tesouro" como pedra de toque.
Deveremos perseguir nossos objetivos, como quem procura um tesouro.
Em algum lugar da montanha nós o encontraremos.
O mesmo entusiasmo, a mesma paixão, o mesmo sonho.
Tesouro é uma palavra forte.
Ela acende todas as luzes, no palco da nossa imaginação.
Quem de vocês não volta ao tempo da infância, diante de tais palavras?
Uma ilha distante, mapa feito num papiro amassado, piratas com pernas de pau e aquela gruta misteriosa.
Por fim, aparecem arcas repletas de jóias.
Realmente, tesouro é uma palavra muito forte, que desperta nossa imaginação.
Jesus a utilizou exatamente por isso:
O Mestre gostava de palavras mágicas.
Palavras que abrem cortinas.
Palavras que invadem nossa intimidade, como as marés invadem as praias.
"Onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração!"
Ninguém consegue mascarar predileções.
Cada um de nós é arrastado pelas suas preferências.
O girassol acompanha a trajetória da nossa estrela maior.
Huberto Rohden repete, muitas vezes, em seus livros, a seguinte frase:
- "Ideal sensual torna o ser humano sensual; ideal espiritual espiritualiza o homem".
Quando todas as cordas do nosso violino interior começam a vibrar, descompassadas, o amor da nossa vida pode estar por perto.
O tesouro - em cujo altar depositaremos o nosso coração - pode ter sido descoberto.
Ninguém duvide.
Todos colocamos nossa paixão atrelada aos ideais que cultivamos prazerosamente.
Nós somos a figura completa do nosso idealismo.
Se um anjo do céu descesse a terra, para desenhar o nosso perfil, levaria consigo um mapa sem rosto.
O retrato esboçado pelo anjo conteria apenas as nossas preferências e sonhos.
Este seria o nosso verdadeiro perfil.
"Onde está o teu tesouro, aí estará também o teu coração", nas palavras sábias de Jesus.
Nós somos, verdadeiramente, aquilo que aspiramos, de todo o coração.
Numa aldeia no México, um garoto admirava, todos os dias, um rosto que um escultor anônimo desenhara.
Ele ficava longo tempo contemplando aquela face que se esculpira no rochedo.
A nobreza e austeridade do antepassado ilustre produziram verdadeira revolução na mente daquela criança.
Durante os anos seguintes, ela passou a venerar aquele rosto de pedra.
O patriarca da montanha tornou-se um semideus, presente em todos os seus sonhos.
Tão grande afinidade acabou produzindo estranho fenômeno:
Quando aquele garoto completou dezoito anos a sua face tornara-se absolutamente idêntica ao rosto esculpido na rocha.

Imaginem vocês a força deste poder transformador que se chama afinidade?
Quando nos identificamos com alguma coisa com amor, são formadas energias que estabelecem pontes.
Se aquilo verdadeiramente for o nosso "tesouro" pode estar certo que nosso coração tremerá no peito.
Não esqueçamos, dirá o pessimista, que no deserto aparecem miragens que enganam peregrinos sedentos e esfomeados.
Corremos para elas na certeza de que são nossos tesouros.
Esta busca frustrada não indicará um coração confuso, que estará nos iludindo?
O que acontece, meus amigos, é que nós acabamos de misturar as estações.
O que nos conduz a falsas realidades, neste caso, não é o coração: é a sede, é a fome...
A sede e a fome nos confundem e nos enganam.
Jesus não fala de miragens.
O Mestre nos aponta tesouros verdadeiros.
A fome e a sede podem nos enganar, em situações de emergência.
O coração, simbolizando nossa visão racional, jamais entrará numa falsa expectativa.
O coração só enxerga "tesouros" autênticos.
Por isso, este lado racional da nossa personalidade é sempre confiável.
Conta-se que um corvo, certa vez, ficou perdidamente apaixonado por uma pombinha.
- Como é linda! - exclamava o corvo, seguindo-a com o olhar coruscante de paixão.
Mas a pombinha nem fazia caso dos seus grasnidos de amor.
O pobre corvo desesperou, e já lhe passavam, pela cabeça, sinistras idéias, quando lhe ocorreu uma fórmula fantástica.
- Vou me transformar em pombo!
Numa loja especializada, comprou lata de tinta cinza claro, e pronto!
Pintou suas penas com capricho.
A pombinha estranhou dito pombo, mas, como estava em idade de casamento terminou aceitando o estranho noivado.
A festa do casamento foi farta: maionese de alpiste, alpiste frito, alpiste assado, suco de alpiste, etc. etc. etc.
Também os "etcteras" continham alpiste na composição
Foram três dias de fome para o pobre corvo que não gostava de alpiste.
O pior de tudo, porém, era disfarçar a fome.
No terceiro dia de festas, o cortejo seguiu para a cerimônia religiosa.
...E vocês não adivinham o que aconteceu?
Na beira da estrada, um bando de corvos devorava uma carcaça de burro, "falecido" dias antes.
Foi a conta!
O cheiro fez crescer água no bico do noivo.
Mais que depressa, ele abriu a porta da carruagem, e partiu, esfaimado, ao encontro da saborosa refeição.

- Esta é a verdade: Não adianta disfarçarmos as nossas inclinações.
Aquele corvo pensou que o seu maior "tesouro" fosse aquela pombinha.
Não era.
A pombinha não passara de miragem.
A pombinha fora oásis falso.
A carcaça daquele burro era o verdadeiro tesouro daquele corvo.
Corvo é corvo, pombo é pombo, elefante é elefante...
Ninguém escapa ao império das suas inclinações.
O ser humano é o único animal que recebeu diversidade de alternativas, quando foi criado por Deus.
E aqui nós entramos no verdadeiro sentido do tema de hoje:
O Mestre não falou em tesouros periféricos.
Ele ressaltou algo excepcional, acima de todos os valores.
Ele falou naquilo que deveria ser o centro das nossas vidas, o ponto convergente de todas as nossas aspirações.
"Seguir-te-ei para quer que fores", disse alguém.
Lucas, 9 v 57.
Jesus viu cobiça naqueles olhos e resolveu jogar água naquela fervura:
"As raposas têm seus covis, as aves do céu têm ninhos, mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça".
Palavras de Jesus, em Lucas, 9 v 58.
Outro candidato se atravessou em seu caminho:
"Seguir-te-ei, Senhor, mas deixa-me primeiro que me despeça dos meus parentes.
E Jesus lhe disse:
Quem coloca a mão no arado e olha para trás não é idôneo para o reino de Deus"
.
Lucas, 9 vv 61 e 62.
Esta parceria que o Cristo deseja dividir conosco parece ter um preço.
Tem que ser uma parceria de corpo e alma, uma entrega total e definitiva.
Aqui não cabe amor pela metade.
A rendição tem que ser completa.
No célebre encontro de Betânia, ressalta-se o calor de uma controvérsia:
"Maria escolheu a parte boa", esclareceu Jesus.
Vale perguntarmos: Neste caso, todas as outras partes não são boas? Como fica, no contexto, o trabalho que Marta realizava?
Vocês acham que somente Maria tornara-se detentora daquele "tesouro"?
Há tradutores da Bíblia que escapam pela tangente, procurando fugir da controvérsia.
Eles traduzem da seguinte forma: "Maria escolheu a parte melhor".
O choque da controvérsia foi aliviado, mas a tradução não é correta.
Jesus falou mesmo em parte "boa"; Ele não quis dizer “parte melhor”.
E o incêndio se alastra.
Muitos se escandalizam:
Afinal, será incorreto se esforçar como fazia Marta?
O trabalho não poderá representar, da mesma forma, o nosso tesouro?
Trabalhar com afinco e perseverança representará transgressão da lei?
Como resposta, nós lembramos uma outra frase de Jesus, que esclarece o verdadeiro ponto fraco de Marta:
"Procurai, primeiro, o reino de Deus e sua justiça, e todas as demais coisas vos serão acrescentadas".
Começa que o Mestre não despreza as "demais coisas".
Elas "serão acrescentadas", diz o texto.
Simplesmente, Marta havia esquecido de procurar antes de tudo o "tesouro" da graça.
Aquele imponderável fazia falta.
"Marta! Marta! andas inquieta com muitas coisas.
Uma só é necessária"
, esclareceu Jesus.
Procurar primeiro este "tesouro" escondido é o segredo.
Quem trabalha com Deus no coração trabalha melhor.
Debruçada aos pés de Jesus, Maria procurava se forrar daquela força, para enfrentar o cotidiano.
Simplesmente, ela carregava as baterias da alma.
Marta, irritada, desabafou:
- "Senhor, não te importas que minha irmã me deixe servir sozinha?"
Lucas, 10 v 40.
E a genialidade de Jesus mostrou a Marta e a todos nós a grande verdade de que existe um "tesouro" escondido:
"(...) Maria escolheu a parte boa, que não lhe será tirada".
Lucas, 10 v 42.
É difícil para muita gente, inquieta como Marta, compreender esta grande verdade.
O nosso mundo ainda não despertou para este desafio de Nosso Rabi.
O "tesouro" ainda não foi descoberto.
No Evangelho nós encontramos pistas dispersas, desafiando a nossa argúcia.
Todas estas frases não foram registradas aleatoriamente.
Elas formam leque, mostrando as belezas do espiritual, a imanência de Deus, a consoladora proteção de Jesus.
Vejam só:
"Eu estarei convosco, todos os dias, até a consumação dos séculos"
"Onde dois ou três estiverem reunidos, em meu nome, Eu estarei no meio deles".
"A luz" (do Cristo) "ilumina todo o homem que vem a este mundo".
"Não sabeis que sois templos do Espírito Santo, e que o Espírito de Deus habita em vós?"
Todas estas verdades, meus amigos, nos falam do poder de Deus se oferecendo para compartilhar.
Deus nunca desejou trabalhar sozinho.
Por isso nos procurou, através de Jesus.
Cristianismo é Emanuel...
... E Emanuel significa Deus conosco.
Escritor do primeiro século chamado Tertuliano escreveu uma frase brilhante:
"A alma humana é cristã por sua própria natureza".
Quem duvidará desta verdade, considerando as citações do Evangelho que acabamos de fazer?
No fundo, no fundo, todos nós somos cristãos.
"Deitados, eternamente, em berço esplêndido", todavia, nós continuamos optando pela separação.
Horizontalidade, meus amigos, é o chão que nós pisamos.
Verticalidade é o divino que poderá nos libertar.
A cruz do Gólgota tem a madeira de apoio na vertical...
A haste onde os braços de Jesus foram pregados é horizontal...
Este tem sido o supremo segredo: Erguer a horizontalidade do homem que dorme para a verticalidade do homem que tem os olhos abertos.
Por isso Jesus conclamava os que tinham "olhos de ver e ouvidos de ouvir".
O apóstolo Paulo afirma que Jesus veio para "reconciliar com Ele todas as coisas, na Terra e nos Céus".
Colossenses, 1 v 20.
Jesus desceu para desgrudar a madeira que apodrecia na horizontal e elevá-la no rumo do infinito.
Jesus apostou nesta diversidade, quando ofereceu os seus inesgotáveis tesouros, para nos libertar da canga da maldição.
Por falta de entendimento ou de inteligência, nós continuamos recalcitrando, teimosos, fugindo aos apelos.
Em vista desta resistência congênita, o homem moderno está colocando "os pés pelas mãos".
Está perdido, como Marta, correndo pela cozinha, no meio das suas panelas.
Os tesouros escolhidos pelo "homo sapiens" não valem tostão furado, sem Deus.
A economia vai mal...
Tudo parece dar errado...
Esta tem sido a causa das frustrações e do desânimo.
E o que é infinitamente mais trágico:
O homem chamado moderno não tem muitas coisas pelas quais viver.
Poucos têm um ideal que mereça o sacrifício da própria vida.
Preocupamo-nos muito mais com o sofrimento e com a dor do que com o pecado.
Exigimos vida farta...
Menos horas de trabalho...
Mais tempo para diversão...
Maior assistencialismo por parte dos governos...
Todos estão procurando algum privilégio, e isto vai criando especialistas na arte de burlar as leis...
"Onde está o teu tesouro aí estará o teu coração" - escreveu Nosso Rabi.
Infelizmente o tesouro nosso de cada dia tem sido um punhado de jóias falsas.
Tentem permanecer alguns minutos, parados, numa esquina movimentada de São Paulo...
E vocês verão o que acontece:
Vocês serão jogados, de um lado para outro, pela multidão desesperada.
Vocês serão transformados em bonecos de engonço, nas mãos da multidão.
Verão a efervescente massa de humanidade, sem rosto, correr ao seu lado.
Reparem as testas franzidas...
Os rostos marcados...
Os olhos ansiosos e aflitos!
Acima de tudo, observem como estão nervosos.
O sentimento de tensão parece fazer parte da própria atmosfera.
A luta para ser atendido...
A guerra contra o tempo!
Em toda a parte, esta tensão conduz ao histerismo.
A violência é um subproduto desta loucura.
Será que este tipo de vida é o tesouro que deveremos buscar em nossos corações?
Não acreditamos.
Quando Jesus caminhava pelas poeirentas estradas da Palestina, ele nos abriu os olhos:
"De que vale ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?"
Percebam o preço desta "integridade" que o Mestre define pelo vocábulo "alma"?
Isto, na opinião dele, superava todas as conquistas humanas, todos os prazeres, todas as glórias e todas as grandezas.
O Mestre sabia das coisas.
Ele sabia que costumávamos entregar nosso ouro legítimo, em troca de jóias falsas.
Nos tempos de Cabral, nossos índios foram ludibriados, trocando tesouros por quinquilharias.
No plano espiritual, será que nós não estaremos fazendo a mesma coisa?
Fascinado pelo brilho de bijuterias baratas, o ser humano perdeu o senso dos valores.
Jesus também foi desafiado.
Tentaram corrompê-lo com promessas falazes.
O tentador lhe disse:
"Eu te darei toda glória e autoridade dos reinos do mundo(...) se prostrado me adorares".
Lucas, 4 v 6.
A Serpente Rastejante que enganou a raça adâmica tentou enganá-lo, para receber o incenso do seu culto.
O Mestre foi claro, porém:
- Adoração e culto só devemos a Deus, disse Ele.
Lucas, 4 v 8.
Certa vez, o Jardineiro do paraíso desceu a terra, trazendo em suas mãos a Rosa Imortal.
- "Esta rosa refletia, em suas pétalas, o olhar de Deus", como cantavam as pastoras do Vale Azul.
A Rosa Imortal jamais perdia suas pétalas
Naquela manhã, o Jardineiro do céu visitou o Jardineiro da terra e lhe disse:
- Amigo, eu vim trazer-lhe a Rosa Imortal.
- Não posso aceitar a oferta, respondeu o Jardineiro da terra. Todas as minhas estufas estão repletas. Não tenho mais lugar.
- Certamente você não entendeu. As suas flores são perecíveis. Estou lhe ofertando a rosa que nunca morre.
- Hoje, eu não posso aceitá-la, afirmou, impaciente, o Jardineiro da terra. Amanhã, talvez?
- Amanhã poderá ser muito tarde. É muito breve o tempo das oferendas. Se a promoção for cancelada, ficarei lhe devendo a Rosa Imortal.
- Não importa! - respondeu o Jardineiro da terra, com indiferença. Eu sempre terei as minhas próprias flores.
Muitas luas passaram.
Os anos se derramaram pela ampulheta do tempo.
Quando o Jardineiro do céu retornou encontrou chorando o Jardineiro da terra.
- Por quem você está chorando? indagou, compassivo, o Jardineiro do Paraíso.
- Choro pelas minhas flores mortas. Pereceram todas. Estou só, de mãos vazias, diante da morte. Agora eu aceito aquela Rosa Imortal, que você me ofereceu.
- Que pena, pobre homem. Agora já é muito tarde. O tempo das oferendas já passou.

Semelhante ao jardineiro da nossa pequena estória, talvez nós também estejamos confiando em rosas perecíveis.
É possível estarmos rejeitando a Rosa Imortal.
E o tempo das oferendas pode passar.
E nós, também, ficaremos chorando, as rosas que morreram.
Não esqueçamos que o Filho de Deus se fez carne para trazer a rosa imperecível da imortalidade.
Deus nos entregou o tesouro do seu Evangelho.
O quê nós temos feito para honrá-lo, agradecê-lo e amá-lo?
Será que temos correspondido a tantas provas de misericórdia?
Nós cremos na existência de Deus, mas, pelo jeito, não temos acreditado em suas palavras.
Temos recusado, sistematicamente, o tesouro que ele insiste em nos entregar.
O nosso coração está repleto de bugigangas, e não há lugar para mais nada.
Lembre-se de uma coisa, meu amigo:
Se você duvida que Deus possa resolver quaisquer dos seus problemas, estará duvidando da Sua vontade em ajudar você.
Ele insiste e você recusa;
Ele quer e você não quer...
Duvidar seja do poder de Deus, seja do amor de Deus, é o mesmo que dizer, sem palavras:
- Senhor, eu não creio em tuas promessas.
Não é exatamente isto que acontece com você?
No fundo, no fundo, você está dizendo:
- Não penso que as tuas promessas foram feitas para mim, meu Deus.
- Eu não acredito que sejam concretizadas.
Elas seriam válidas para a Palestina, há muito tempo atrás.
Aqui no Brasil as coisas se tornaram diferentes, Senhor.
No século vinte e um não há mais lugar para divagações e sonhos.
Certamente, este é o grande pecado dos nossos dias:
A falta de fé.
A crise da auto-suficiência global.
Eu tenho tudo para viver, eu tenho tudo para vencer.
O cofre tem sido verdadeiro Deus para grande parcela da humanidade.
Embora tiritando de frio, dentro das quatro paredes do seu enorme cofre, o homem recusa-se a sair dele para um banho de sol.
É o meu tesouro, exclama o infeliz, acariciando o cofre.
A musica das moedas tilintando é o seu acalento...
Ele não quer sair da prisão dourada.
- O sol está lindo, aqui fora, gritam seus amigos.
Ele se recusa abandonar aquela perpétua adoração.
Aliás, por quê contemplar o Sol?
Ele veria, com certeza, no lugar do astro maior, uma enorme moeda reluzente perdida no firmamento azul.
Não esqueçamos a lenda do rei Midas...
Tanto fez que conseguiu.
Onde ele tocava tudo se transformava em ouro...
E o ouro, que o seu coração desejava, com tanto ardor, transformou-se no seu delírio e na sua desgraça.
Minha gente: As lições estão diante dos nossos olhos...
O Evangelho nos aponta o legítimo tesouro.
Quem recusará o verdadeiro, para aceitar o falso?
Nossos dois braços realizam maravilhas.
Imaginem vocês o que faremos com Deus ao nosso lado?
Nós geramos "quantidades".
O Pai Celestial, ao contrário, produz "qualidade".
Por isso a divina parceria será sempre bem-vinda.
Marta, distraída, esqueceu desta grande verdade:
Faltou Deus para suavizar o esforço de Marta.
Esta é a grande falha da humanidade de todos os tempos.
Antes de ser corpo, nós sempre fomos espíritos.
A nossa grande transação deve ser feita com o elemento espiritual que predomina em nós.
Uma faísca da divina graça palpita em nosso interior.
É nesta faixa da nossa personalidade que encontraremos o "tesouro" supremo da nossa realização como gente.
Por isso Jesus disse:
"Onde está o teu tesouro aí estará, também, o teu coração".
Louvado seja Deus.

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