Cristo versus Cristianismo
Data: sábado, 2 de dezembro de 2006
Stanley Jones, missionário
norte americano que conviveu com Gandhi, certa vez lhe fez uma pergunta:
- Por que o Senhor não aceita o cristianismo?
Gandhi riu, bateu com a mão no ombro do amigo, e respondeu:
- O Cristo eu sempre aceitei. O que eu não consigo mesmo é aceitar
o cristianismo de vocês. Quando os seguidores de Jesus resolverem seguir
seus preceitos, eu pensarei no assunto.
No momento, Stanley Jones ficou envergonhado de ter feito a pergunta.
Mais tarde, ele escreveria:
"Com Gandhi aprendi muito mais sobre Jesus do que com qualquer outro
homem.
O mundo, chamado cristão, conhece a verdade, falando nela.
Gandhi experimentou a Verdade e aqui se encontra a diferença.
Ninguém, na história, projetou tanta luz sobre o drama do calvário
como este homem, que nem sequer era cristão".
Stanley Jones falou a verdade, em poucas linhas.
Não é batendo no peito, que nós revelamos a nossa fé.
Atitudes piedosas não salvam.
Gestos dramáticos podem esconder hipocrisia.
No capítulo 21 de Mateus, Jesus faz uma pergunta perturbadora aos príncipes
dos sacerdotes:
- "Qual a vossa opinião:
Um homem tinha dois filhos.
Foi ter com o primeiro e lhe disse:
Meu filho, vai hoje trabalhar na vinha?
Sim, respondeu ele, mas não foi.
Do mesmo modo, aquele homem convocou o segundo filho.
Não vou, respondeu ele, de imediato, mas, posteriormente, se arrependeu,
e atendeu a convocação”.
E Jesus rematou a lição, perguntando:
“Qual deles cumpriu a vontade do pai?
Com toda a certeza o segundo, responderam os príncipes dos sacerdotes".
Este diálogo, entre Jesus e os padres do seu tempo, justifica a opinião
de Gandhi sobre o cristianismo.
Jesus e Gandhi focalizaram o mesmo tema:
Muito melhor é fazer do que prometer.
Os sacerdotes do tempo de Jesus tornaram-se exemplos de falsidade e desobediência.
Eles praticavam uma religião de fachada.
Prometiam tudo em cerimônias públicas e depois, simplesmente, esqueciam
os compromissos.
É muito fácil dizer eu vou, eu faço, eu aconteço.
O problema é realizar aquilo que se prometeu.
É muito cômodo assinar uma promissória, sem a mínima
intenção de resgatá-la.
Jorge Souza e Gaspar foram a uma alfaiataria no centro da cidade.
Gaspar precisava de um terno.
O alfaiate anotou suas medidas, o tipo de manequim, e o tecido de sua preferência.
A transação se desdobrava, normalmente, até o momento da
definição do preço.
Em três prestações, o valor subia.
- Total da fatura: duzentos e quinze reais.
Gaspar resmungou:
- É muito caro!
Não descansou enquanto o alfaiate não fez o desconto de quinze
reais.
- Números redondos - disse Gaspar, gozando a vitória.
Nesta altura, assinou todos os papéis, e se retirou, cantarolando.
Quando já estavam na rua, Jorge Souza encarou Gaspar, e disparou uma pergunta:
- Compadre, você vai pagar esta conta?
- Ora, compadre, você sabe muito bem que não. Eu vou dar o cano
naquele otário.
- Mas, então, por que tanta insistência em conseguir o desconto
de quinze reais?
- Ora, compadre... Insisti pelo desconto, para que o alfaiate perca menos. Eu
queria diminuir o prejuízo dele.
Na pequena estória, a lição da realidade:
Gaspar é um exemplo vivo da leviandade com que muita gente assina compromissos.
E o pior de tudo, é que esta leviandade atinge, também, as nossas
relações com Deus.
O problema, evidenciado pelo Mahatma Gandhi, é que nós, ocidentais,
não temos sabido honrar as palavras do Cristo.
Nós balbuciamos frases fervorosas, com os lábios, e agimos como
descrentes.
Não tem havido correspondência perfeita entre os nossos propósitos
e as nossas ações.
Eu me lembro, mais ou menos, das palavras de um hino que era cantado em igreja,
nos meus tempos de criança.
"Para onde me mandares, Senhor, dizia o hino, eu irei.
Seja para montanha... planície... ou mar...eu irei.
Irei com alegria, Senhor.
Eu direi o que tu queres que eu diga...
Eu serei o que tu queres que eu seja...
Eu me entrego a ti, de alma e coração".
Se a memória não me traiu, eram estas as palavras daquele cântico.
Imaginem vocês, se Deus resolvesse utilizar tanta disponibilidade?
E nos despachasse para o Iraque, para o deserto da Líbia ou para o centro
de uma guerra num país africano?
Pelo menos é isto que as palavras do hino sugerem.
Elas exprimem nossa disposição de servir a Deus, em qualquer lugar
do planeta.
Por sorte, Deus conhece a leviandade das nossas palavras vazias e dá o
desconto.
O Pai Celestial sabe que a maioria nem se liga ao sentido das palavras que pronuncia.
Certa vez, eu falei a uma jovem senhora sobre o absurdo da doutrina da ressurreição
da carne.
Ela me encarou agressiva, e disse:
- A minha religião não defende este absurdo.
- Sim, senhora... Defende sim! Eu retruquei. A sua religião tem, como
ponto de fé, que o "brucutu" do tempo das cavernas vai levantar
do sepulcro, em corpo, no dia do juízo final.
- O senhor está tentando me confundir, disse ela, nervosa, vermelha de
raiva.
Neste ponto, eu pronunciei o "xeque-mate":
- Pois saiba que a senhora repete isto na missa quando reza o creio em Deus Pai...
Dentre todos os demais "credos” declarados, os participantes da missa
dizem: "creio na ressurreição da carne".
Nesta altura, a ficha caiu.
Ela lembrou que repetia estas palavras de forma maquinal, sem registrá-las.
Afastou-se, vexada, e nunca falou mais comigo.
Infelizmente, os devotos se perdem no labirinto de orações intermináveis,
de tal maneira que a coisa vai se complicando.
As multidões vão repetindo refrões decorados, sem qualquer
ligação com a consciência. .
Juram falsamente, prometendo o que não podem cumprir.
Fazem votos diante de Deus, sem compreender a profundidade do que estão
dizendo.
Declamam o Pai Nosso como se fosse uma fórmula mágica, um sortilégio.
É como se usassem o "abracadabra" ou qualquer outra fórmula
mágica.
Poucos cogitam o alcance do compromisso definido em palavras.
Aquilo sai decorado, bonitinho, mas completamente desprovido de realidade.
Um papagaio teria dito a mesma coisa.
É só treiná-lo.
Talvez aqui se encontre o erro fundamental das religiões chamadas cristãs.
Preocupadas com exterioridades, elas esqueceram o elemento fundamental.
Hoje, a importância das religiões se mede pelo número de
pessoas que conseguirem levar ao estádio, num dia de solenidade.
Sacrificaram o lado pouco rentável do individual, apostando no coletivo.
O cristianismo espetáculo vem sobrepujando o cristianismo espírito.
O essencial é impressionar as massas.
- "Pão e circo" têm sido prática moderna, imitação
da estratégia dos imperadores romanos.
Todo o mundo dança, mesmo sem conhecer o ritmo.
Às vezes, eu chego até a me questionar:
- Esta ignorância não será fundamental para que o circo continue
rendendo?
Pelo jeito, é mais importante manter a renda.
Todos os demais valores têm sido colocados em segundo plano.
E estes valores podem ser, eventualmente, a ética e a moral.
Nesta altura, alguém ofendido deve estar, mentalmente, me excomungando:
- Outra vez o “herege” Getúlio está faltando com a
verdade. Todas as religiões cristãs pregam a ética e a moral.
- Sim, eu concordo. Todas "pregam", mas são poucas as pessoas
dentro das religiões que praticam tais preceitos.
Se as religiões cristãs seguissem Jesus, em espírito e verdade,
o mundo seria outro.
Não teríamos sofrido tantas guerras por divergências doutrinárias.
Joana D’Arc, João Huss e tantos outros não teriam sido queimados
pela intolerância.
A inquisição não se estenderia por mais de mil anos, impedindo
a livre manifestação da consciência.
A noite de São Bartolomeu teria sido uma lenda.
Em todas estas ocasiões “as portas do inferno prevaleceram”.
Infelizmente, estas condenações foram exemplos perniciosos.
Quando atos de violência são gerados pelas religiões, como
poderemos condenar as guerras?
A opressão praticada em nome do Evangelho é uma nota dissonante
contra o próprio Evangelho.
A descrença generalizada é fruto deste desvio.
As guerras têm sido justificadas por ele.
Estes e outros milhões de crimes levaram Gandhi a dar “cartão
vermelho” para o cristianismo.
Afinal, Gandhi era contra a violência.
Prestem atenção, por favor, a estas palavras pronunciadas pelo
Mahatma:
"A não violência significa sofrimento consciente.
Isto não quer dizer submissão à vontade do malfeitor, mas
um empenho ativo contra o tirano.
Assim, uma só pessoa pode desafiar um império injusto, para salvar
a própria honra.
Este método pode parecer demorado, mas eu estou convencido que é o
mais rápido.
Após meio século de experiências, eu sei que a humanidade
só pode ser salva pela não-violência.
Se eu consegui entender, esta é a lição principal do cristianismo".
Estas palavras eu encontrei registradas no livro "Gandhi, o apóstolo
da não-violência".
Aqui não há falsidade nem hipocrisia.
Sem disparar um único tiro, Gandhi libertou a Índia do domínio
inglês.
O exemplo da sua vida avaliza suas afirmações.
As últimas linhas do seu comentário merecem análise especial:
"Se eu consegui entender”, escreveu Gandhi, "esta é a
lição central do cristianismo".
Concordamos com ele.
Se não é primordial na doutrina modificada pelos homens, sem dúvida
nenhuma é o cerne da pregação do Evangelho.
"Amai aos vossos inimigos, fazei bem aos que vos maldizem, e orai pelos
que vos perseguem e caluniam".
Palavras de Jesus, em Mateus, 5 v 44.
Não é coincidência.
Eu estou convencido que foi o Cristo que mandou Gandhi renascer, para exemplificar
cristianismo fora da Religião Cristã.
A reencarnação de Gandhi foi obra de Jesus.
O Grande Mestre tomou o espírito de Gandhi pela mão, e lhe disse:
- Desce a Terra, filho... Os meus seguidores andam perdidos. Eles esqueceram
a essência da minha doutrina.
Estão brigando pela conquista de territórios, malas de dinheiro
e prosélitos.
Vai lá, filho. Diga a eles que a Não-Violência é a única
solução.
Desperta neles o Espírito do Sermão da Montanha...
Ensina ao mundo que só o amor constrói.
Por poucos que sejam os seguidores, a semente estará sendo lançada
e certamente produzirá frutos.
Infelizmente Gandhi já desencarnou há mais de cinqüenta anos.
O seu exemplo não conseguiu sobrepujar o ódio que destila fel,
no coração dos homens.
Todos sabemos que o espírito humano é recalcitrante e desobediente.
Há pouco tempo, nos Estados Unidos, um pastor de igreja recomendou o assassinato
de Hugo Chaves, presidente da Venezuela.
Basta surgir problema e o “cristão” resolve na bala.
Desprezar o essencial, para ficar com o secundário, não é conduta
aceitável...
As religiões cristãs têm que firmar posição:
Com a maior clareza, elas terão que esclarecer a vontade do Cristo, com
base nas suas palavras.
Certa vez, na minha cidade natal, eu percebi um devoto repetindo palavras do
Pai Nosso.
Tratava-se de alguém bastante jovem, e a cena era comovente.
Numa solenidade pública, aquele rapaz personificava a imagem da fé.
Todo ele transpirava espiritualidade.
Nesta altura, porém, numa troca de olhares, o rapaz se transformou por
completo.
A raiva tomou conta do seu rosto, apagando a imagem mística.
Ele se afastou da fila e agrediu garoto que transitava pela calçada.
Posteriormente, me contaram que a vítima da agressão furtara dele
alguns trocados, na semana anterior.
Agora eu proponho um enigma: qual a parte do Pai Nosso, que aquele moço
repetia, quando partiu para briga?
É fácil.
Ele estava repetindo a frase que recomenda o perdão.
"Perdoai-nos, Pai, assim como perdoamos os nossos devedores”.
Ele cortou a frase pelo meio e partiu para briga.
Isto vem provar que aquele devoto não prestava atenção ao
que dizia.
Como papagaio, simplesmente, ele repetia palavras da oração, sem
perceber o seu verdadeiro sentido.
É justamente esta consciência que faz falta.
Os religiosos se perderam nos detalhes – gestos piedosos para divulgação
da própria imagem - e esqueceram o essencial que é o amor.
O exemplo vem de cima, porém.
Ninguém se iluda: assim como nós, individualmente, sofremos os
efeitos carmicos, também as religiões têm seu carma..
É por esta razão que o Mahatma Gandhi afirmou aceitar o Cristo
mas vetou o cristianismo.
O nosso cristianismo, desde o quarto século, deixou de ser um prolongamento
de Jesus.
No plano divino, a impunidade não existe, nem para as pessoas nem para
as instituições.
Vocês acham que as famosas Cruzadas pesaram pouco no carma coletivo do
cristianismo?
Soldados enterravam a espada no peito dos chamados “infiéis” gritando:
- Viva Jesus!
Como se Jesus se alegrasse com o crime.
Isto ficou grudado na intimidade das religiões de origens cristãs,
como a ferrugem se liga ao ferro.
O carma não se apaga com esguicho nem com “varinha de condão”.
O carma é coisa séria.
O carma é semelhante aquela substância que adere aos cascos dos
navios, e que ninguém consegue remover.
Ele gruda e cola...
Não existe detergente que o remova.
O carma é conseqüência do pecado.
Quando Davi planejou a morte de Urias para tomar sua mulher, Deus o repreendeu
pelo profeta Natã.
Perguntou Deus:
“Por quê desprezaste a palavra do Senhor praticando tamanha maldade? “
Percebe-se, no conjunto da frase, a extrema comiseração do Pai
Celestial pelo filho transviado.
E o lamento do Senhor escapa, outra vez, pela voz de Natã:
“Eu te ungi rei sobre Israel e te livrei das mãos de Saul”.
II Samuel, 12 v 7.
Apesar de todas as provas de afeto, o rei Davi traíra Javé.
Ele desprezara todas as provas de carinho do Senhor Deus.
“Então disse Davi a Natã:
- Pequei contra o Senhor.
E Natã disse a Davi:
- O Senhor perdoou o teu pecado. Todavia, porque foste motivo de escândalo,
o filho que te nasceu morrerá”.
II Samuel, 12 vv 13 e 14.
Aqui nós encontramos a essência da pura doutrina:
O perdão já existia...
...mas o carma continuava.
O carma continuava queimando, mesmo depois do perdão.
Por favor, amigos, eu quero que vocês memorizem esta passagem.
Por mais que Deus fique triste com a nossa queda, Ele não irá contemporizar
com o crime.
A Justiça Divina jamais será a favor da impunidade.
Se nós semearmos espinheiros – por certo colheremos espinheiros.
Depois de lançada na terra, a semente escolhida fatalmente produzirá seu
fruto.
O Apocalipse também é claro:
“Aquele que escravizar terminará escravo. Aquele que matar pela
espada, pela espada será morto”.
Apocalipse,13 v 10.
O Evangelho sempre confirmou a doutrina do carma.
Ou vocês acham que o estuprador deverá dormir tranqüilo depois
do estupro?
E a criança estuprada? Perguntamos.
Alguém já parou para pensar na vítima do criminoso, quando
proclama absolvição compulsória do pecador?
O trauma da violência perdura, muitas vezes, para o resto da vida.
Esta é uma das razões que eu não aceito esta doutrina da
lavagem automática do carma.
Isto é estelionato.
O rei Davi se obrigou a sofrer a morte do filho, apesar de já ter sido
perdoado por Deus.
É inevitável sofrermos o “choque de retorno”.
O apóstolo Paulo recebeu um “espinho na carne”, e Deus lhe
respondeu que não ia curá-lo.
Sua soberba ocasionara o mal.
Mesmo sendo quem se tornou o antigo Saulo, o apóstolo Paulo teria que
conviver com o sofrimento como qualquer mortal.
Ademais, todo o pecado pode espalhar espinhos em outras pessoas.
Quem rouba tira o sustento de alguém.
Quem agride causa dores físicas ou morais.
Quem despreza os humildes cava fossas de isolamento em volta da casa do pobre.
Enquanto nossas setas continuarem ferindo alguém, nem Deus terá condições
de curar as nossas feridas.
O Mestre foi claro:
“Quem fizer tropeçar os pequeninos (...) melhor fora que lhe atassem
ao pescoço uma grande pedra e fosse lançado ao mar”.
Marcos, 9 v 42.
O preço da violência tem que ser pago.
E Jesus, logo no versículo seguinte, estabeleceu o preço:
“Se tua mão te faz tropeçar, é melhor cortá-la,
pois é preferível entrares na vida sem mãos, do que ires
para o fogo inextinguível”.
Marcos, 9 v 43.
Por favor, ninguém interprete isto ai pela “letra” cortando
a mão transgressora com afiada machadinha.
Idéias deste tipo só podem ter quem não crê na reencarnação.
A ordem de Jesus tem outro significado.
Percebam suas palavras: “é preferível entrares na vida sem
mãos”.
Isto só se torna plausível pela reencarnação.
Quando reencarnamos abre-se a chance de pleitear o nascimento sem mãos,
para resgatar o mal feito.
O “entrares na vida” de Jesus só pode significar renascimento.
O carma negativo gerado numa existência é queimado pelo desconforto
de um corpo sem mãos.
Alhures, eu vi, em Curitiba, um ser humano totalmente mutilado, dentro de uma
caixa, na calçada.
Ao reencarnar, este homem demonstrou coragem.
Com certeza, quando chegou de volta ao mundo espiritual, por razões pessoais,
ele sentiu pressa de pagar a dívida carmica.
Desenhou seu corpo talhado para resgate rápido.
Cada um de nós é livre para tomar suas decisões.
O fato é que não existe castigo sem crime, nem crime sem castigo.
Eu não aprecio esta palavra “castigo”.
Prefiro mais o vocábulo “correção”.
Seja o rei Davi, seja o profeta Elias, seja o apóstolo Paulo, todos são
alcançados pela Lei do Retorno.
Jesus disse para o paralítico de Betesda.
“
Perceba que já estás curado. Não peques mais para que não
te aconteça coisa pior”.
João, 5 v 14.
Acreditamos ter estabelecido uma ligação bastante clara entre o
sofrimento e as transgressões.
A Lei de Causa e Efeito é a balança da Justiça Divina.
Também as religiões são enquadradas neste balanço
de crédito e débito.
É neste vai e vem da história, que Gandhi enquadrou o cristianismo.
“Cristo sim, cristianismo não”, disse ele.
Não será um pedido de desculpas de um chefe religioso que vai queimar
o carma de crimes seculares...
As vítimas da intolerância são testemunhas mudas reclamando
justiça.
A família Oliveira viveu em Portugal, no século quinze, em plena época
de perseguição religiosa.
Casal e três filhos.
Manoel e Maria viviam felizes, trabalhando felizes.
Montaram pequeno comércio e alcançaram relativa prosperidade.
As idéias de Manoel de Oliveira, porém, destoavam da maioria dos
seus conterrâneos.
Manoel de Oliveira acreditava em Deus de forma diferente.
Temerosa da perseguição, Maria o advertira:
- Os padres são implacáveis, Manoel.
Ele não fez caso da preocupação da esposa.
Continuou sem freqüentar a capela da aldeia, adorando ao Pai Celestial do
seu modo.
- Afinal, eu sou honesto e cumpridor dos meus deveres, exclamou Manoel.
Denúncia anônima o apontou, como “herege”, porém,
e a esposa e os filhos nunca mais o viram.
Manoel de Oliveira foi apenas mais um elo no carma da instituição
perseguidora.
A história, no entanto, revela um dado escabroso:
“Na torre do Tombo em Lisboa estão registrados trinta e seis mil
processos” contra hereges.
Isto só em Portugal.
Se Jesus descesse a Terra, disfarçado, em nossos tempos, por certo o cristianismo
não iria recebê-lo.
Justifica-se, portanto, a cautela de Gandhi.
- O Cristo de vocês eu aceito. O que não posso aceitar é o
cristianismo que vocês tem vivenciado.
Em pleno Terceiro Milênio, o ser humano ainda não compreendeu o
Sermão da Montanha.
Dois mil anos de cristianismo ainda não bastaram.
Foi preciso que alguém reencarnasse fora do cristianismo, para exemplificar
a “não violência” ensinada por Jesus.
Louvado seja Deus.