Procurando Diamante no Cascalho

Data: domingo, 18 de maio de 2008

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Então disse Nabucodonosor a Asfenez, eunuco a serviço do rei:

"Dos filhos de Israel, eu quero uma seleção de meninos de gentil presença, instruídos em tudo o que diz respeito à sabedoria (...)".

Daniel, 1 vv 3 e 4.

O rei da Babilônia queria sangue novo para integrar sua corte.

Asfenez não teve a menor dificuldade.

Escolheu Misael, Azarias, Ananias e Daniel.

Ficou seguro de que fizera a escolha certa e teria aprovação de Nabucodonosor.

Percebam a qualidade exigida pelo rei para aqueles futuros componentes de sua corte.

Ele queria jovens de gentil presença.

E nós ficamos tirando conclusões sobre esta virtude peregrina.

Que será esta qualidade rara capaz de ser requisitada por um rei?

Os olhos rápidos de alguém que se interessa pelo bem estar do seu próximo.

A compaixão movida por autêntica solidariedade.

Isto talvez defina gentil presença daquelas pessoas antenadas com o Espírito de Deus.

As criaturas que desenvolvem esta qualidade tornam-se bem-vindas no palácio do rei Nabucodonosor e no casebre da pobreza.

Elas têm presença.

Elas têm luminosidade.

Elas sabem conviver e interagir com as pessoas.

Talvez possamos desenvolver esta faculdade em nosso cotidiano, mantendo-nos alertas e antenados.

Será bom exercitarmos, espreitando ocasiões oportunas.

Todavia, é bom que se diga: Isto aí é um verdadeiro dom, e é perfeitamente natural naquelas pessoas que os carregam de berço.

Para nós, desprovidos deste recurso de convivência, valerá nos esforçarmos com tenacidade para adquiri-lo.

Tomando conhecimento de exemplos, em nosso redor, será mais fácil absorvermos a técnica e a prática.

Uma senhora de Curitiba, Marlene Camargo, protagonizou episódio bastante pertinente.

Sem dúvida alguma dona Marlene expressa o perfil de alguém de grande coragem, que nunca se intimida.

Ela é dinâmica e encara a vida de frente.

No entanto, percebam a performance desta dama extraordinária no momento em que se defronta com alguém menos dotado.

Para valorizar a presença daquele menino de corpo doentio, ela disse:

- É claro que todos nós tivemos medo. Estamos tranqüilas, agora, porque você chegou, Joãozinho, e temos um homem na casa.

Houve um momento de silêncio e expectativa.

Depois o menino se levantou, com toda a pompa de alguém necessário no meio de tantas damas.

- Vou ver se tudo está em ordem, disse ele, estufado de orgulho sadio e recompensado pela apreciação enobrecedora daquela mulher.

E saiu da sala, mancando, assumindo um ar de dignidade.

No momento certo, uma pequena insinuação faz milagres no coração das pessoas.

Muitas vezes, por estarmos absorvidos por mil problemas não percebemos estes momentos mágicos.

Dizer algo que forneça coragem pode ser semente preciosa, que nascerá e poderá dar muitos frutos. .

Salientar a força que existe latente no companheiro tornado frágil pelas injunções da vida.

Alguma deficiência física ou mental não deve ser empecilho para alguém ficar proscrito e discriminado.

Este nosso irmão é um ser humano, e Deus pode fazê-lo crescer e sonhar alto: Por que não?

Uma simples frase solta ao vento produz renovação do ânimo.

Por esta espécie de magia, a senhora Marlene Camargo havia transformado um garoto tímido num homem confiante.

Teria sido uma bondade instintiva ou intencional?

Seria um tipo inusitado de compaixão, enternecimento ou estímulo para que o ego da criança despertasse?

Ou se tratava de uma combinação de todas estas coisas?

No meu entendimento, eu acho válida a ultima opção.

Referindo-se a este tipo de generosidade, um filósofo antigo usou esta expressão mágica: "coração gentil".

Rememorando o passado, todos nós poderemos lembrar de pessoas que nos brindaram com palavras ou gestos e nos colocaram p'ra frente.

Nos ergueram muitas vezes do chão.

Elizabeth Byrd, em seu diário, deixou uma confidência.

- Quando eu tinha sete anos, minha mãe estava preparando um chá de cerimônia, e eu lhe levei um ramo de dentes de leão.

Eu mesmo alimentava expectativa de que mamãe colocasse as flores do mato num canto escondido daquela mesa exuberante

Não foi o que aconteceu, porém.

Minha mãe arrumou as flores singelas num bonito vaso e as colocou sobre o piano, para que todos a enxergassem.

O coração gentil deve ter, acima de tudo, profunda compreensão para com os sentimentos das pessoas.

Orlando Fragoso, um esportista profissional de São Paulo, foi vitimado por uma fratura nos pés.

Ele andava com certa dificuldade, mancando o tempo todo.

Por incrível que pareça, aquela situação proporcionou algo agradável, confidenciou Orlando:

- As portas se abriam para que eu passasse primeiro, explicou Orlando Fragoso.

- As pessoas me ajudavam a entrar no táxi, providenciavam lugar no elevador, abriam clareiras na multidão.

Alguém mutilado desperta em dezenas de pessoas esta compaixão que o ser humano esconde a sete chaves.

Meu espírito se deliciava sob este bondoso tratamento público, rematou Orlando, com os olhos enevoados.

Quando abandonei aquele símbolo da deficiência, porém, toda a gente voltou ao seu jeito de empurrar e passar na frente.

Ocorreu-me, então, disse Orlando, que todos nós temos alguma fratura invisível, que ninguém observa.

Estas fraturas da alma talvez produzam mais desconforto que as outras fraturas.

- Não seria o caso de que todos se olhassem, compadecidos, adivinhando estas deficiências ocultas?

Será que o amor fraterno nunca aprenderá a excogitar a dor silenciosa, que não tem forma física?

O companheiro que passa talvez não demonstre, mas ele pode estar minado pela desesperança e profundamente entristecido.

- Minha gente, rematou Orlando Fragoso, existem dias em que tenho mais carências do que quando andava de bengala.

- Minhas emoções em reboliço mental clamam por alguma consideração e apoio dos meus irmãos.

- Ninguém me percebe no burburinho, porém. Eu me encontro tão só, na cidade de São Paulo, quanto Jó naquele monturo.

Acredito que todos estejam neste mesmo barco.

Para que todos sejam salvos se faz imprescindível a presença do espírito solidário.

Todos nós, de uma forma ou de outra, somos carentes.

- Então por que não nos congregarmos numa cruzada internacional de ajuda mútua?

Bastaria que todos se olhassem como irmãos em Cristo...

...Como participantes de idêntica cruzada...

...Como filhos de Deus marchando para uma grande batalha.

Religiosidade não significa bater no peito, e permanecer surdos e insensíveis diante dos clamores.

Religiosidade deveria ser uma integração dinâmica.

Algo efervescente mostrando vivacidade.

Como escreveu o apóstolo Tiago:

- "A religião pura e perfeita diante de Deus é a seguinte: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações".

Tiago, 1 v 27.

Aquele ossinho quebrado que despertou tanto desvelo, no caso de Orlando Fragoso, deveria continuar produzindo efeitos.

Se tivéssemos uma visão diferenciada, a jornada de todos seria mais amena.

Imaginem se nos fosse dado visualizar as fraturas invisíveis dos filhos e filhas dos homens?

Se todos enxergássemos o pé quebrado da alma?

Que tal penetrarmos o coração de tantas pessoas que perderam o rumo?

Se não tivermos capacidade para solucionar o problema, ainda nos resta o recurso da prece.

O Evangelho não é coisa complicada, como muitos pensam.

O verdadeiro servo de Jesus deve exercitar a intuição para adivinhar dramas escondidos.

Uma peça chamada "Um Criador de Homens" conta história de um funcionário de banco.

Aquela tarde ele chegou e desabou no sofá.

Deprimido, o rapaz contou à mulher que a promoção com que ele sonhava outro a recebera.

- Sou um fracasso, disse o rapaz, chorando. Que fiz da vida?

A esposa voltou-se para ele, e lhe disse:

- Eu sei o que você fez da sua vida. Fez uma mulher amá-lo. Deu lealdade e compreensão para sua família. Eu posso dizer: você é um vencedor.

Esta esposa, sem qualquer dúvida, possuía um coração gentil.

Palavras simples como estas podem aplainar decepções, construir coragem, trazer de volta o ânimo perdido.

Nós não podemos protelar o elogio sincero, o registro de nossa afeição por alguém, a proclamação de quanto aquela pessoa é importante.

Amanhã pode ser tarde para expressarmos as coisas que realmente sentimos.

Segundo escreveu Santo Agostinho:

"Deus prometeu perdão para vosso arrependimento, mas não prometeu amanhã para vossa protelação".

Quem atrasa indefinidamente o impulso de incentivar o companheiro inseguro poderá perder o trem.

A morte não é único impasse, quando adiamos o louvor e o incenso para quem merece.

Isto é parte integrante do ramalhete de flores.

É o cartão que nos identifica.

Quem atrasa indefinidamente o impulso de incentivar o companheiro inseguro poderá vê-lo perdido no abismo do insucesso.

A nossa chance pode não retornar, por uma série de motivos, e terminaremos frustrados.

O engenheiro Rogério Donato conta algo que aconteceu num acampamento administrado por ele.

Imediatamente após sua posse, ele pensou em despedir trabalhador mal-humorado chamado Tony.

A função do Tony era cobrir de areia uma colina.

O proprietário da empresa, percebendo impasse entre os dois, interviu, antes que a coisa se agravasse.

- Haja o que houver, Donato, nunca mexa com o Tony. Ele é birrento e muitas vezes insuportável. No entanto, em vinte anos, nunca houve acidente envolvendo homens e animais, na esfera do seu trabalho.

Naquela manha, numa temperatura gelada, Donato observou Tony de pé junto à fogueira.

Ele não estava se aquecendo, porém.

Tony estava todo ele absorvido esquentando areia para espalhar pela colina gelada.

O engenheiro viu o zelo e a concentração do operário inteiramente absorto no que estava fazendo.

Aproximou-se e lhe disse:

- Sou o novo administrador. O patrão me disse que você é uma figura exemplar e incomparável na função.

E revelou, palavra por palavra, o que o proprietário dissera:

Agradecendo a Donato, Tony absorveu a surpresa, e exclamou:

- Por que cargas d'água, o patrão nunca revelou que apreciava o meu trabalho?

Doze anos depois, Donato encontrou Tony trabalhando como superintendente da construção de uma ferrovia.

- Obrigado, disse ele a Donato, apertando-lhe a mão. Naquele mesmo dia eu mudei de atitude. Compreendi minha competência, e desapareceu insegurança que me tolhia como profissional.

Tony se tornara um "bicho do mato" porque perdera a confiança em si mesmo.

Por considerar o seu trabalho um lixo passou a defender-se com agressividade.

Imaginava a rejeição de todos, e cada dia se tornara mais insuportável.

Uma coisa puxa outra, e Tony se viu perdido no seu mundo particular, sem amigos e sem passa-tempos.

O doutor Donato, sem compreender, fora sua tábua de salvação.

Donato lhe revelara o alto grau de confiança que o patrão depositava nele.

Foi uma espécie de redenção para aquele homem.

Muitas vezes pequeno empurrão e ocorre a partida em nosso carro.

Nesta altura, alguém poderá estar pensando: Terá Jesus encontrado alguém digno de elogio?

Nesta cloaca chamada Terra terá existido um privilegiado capaz de provocar elogios do Rabi Galileu?

Embora Jesus tivesse o coração gentil, o mais gentil de todos os corações humanos, entendemos difícil encontrar alguém merecedor.

No entanto, este alguém existiu e o episódio se encontra descrito no Quarto Evangelho, com as seguintes palavras:

"Filipe encontrou a Natanael e lhe disse: Achamos aquele de quem Moisés escreveu na Lei, e a quem se referiram os profetas: Jesus, o Nazareno, filho de José".

João, 1, v 45.

"Perguntou-lhe Natanael: De Nazaré pode sair alguma coisa boa? Respondeu-lhe Filipe: Vem e vê. Jesus viu Natanael aproximar-se e disse a seu respeito: Eis aí um israelita em quem não há falsidade".

João, 1 vv 46 e 47.

O elogio saiu com todas as letras: "Eis aí um israelita em quem não há falsidade".

Por alguma razão que não cabe comentarmos, o Mestre usou o seu coração gentil para levantar o ânimo daquele homem.

Aqui cabe um comentário ligeiramente fora do nosso tema.

Alguém, certa vez, apontou este Natanael como prova contrária à minha pregação de que todos nós somos pecadores.

- Ele não tinha falsidade, disse o nosso crítico: portanto era um sujeito sem mácula: Não era pecador.

Quando Jesus deixou escapar aquele elogio se fez notório que nós precisamos buscar o diamante bruto no cascalho.

A honestidade brutal daquele homem, porém, não significava que se tratava de um anjo.

Todos temos qualidades e defeitos e Natanael não era exceção.

Ressaltar as coisas boas é forma de ajudar o nosso próximo.

Ninguém vai esperar a perfeição para depois elogiar.

A criança que consegue escrever as três primeiras letras do alfabeto - ABC - deve ser elogiada.

Quem escutou com atenção a narrativa do Evangelho verá que Natanael, apesar da sua integridade, tinha um defeito clássico.

Natanael mostrou que era preconceituoso quando deixou escapar palavras indevidas:

- "De Nazaré pode sair alguma coisa boa?" Perguntou ele.

Estas palavras marcadas pelo preconceito mostram que Jesus resolveu fechar os olhos para os defeitos de Natanael.

O Nosso Rabi, com certeza, deixou escapar aquele comentário positivo para incentivar a edificação do israelita.

Será fácil lembrarmos que Jesus escolheu a casa de Zaqueu para jantar, e Zaqueu não era "flor que se cheirasse".

Os critérios do Mestre para distinguir alguém estão completamente fora dos nossos parâmetros.

Assim acontece na vida.

De repente, Deus resolve sacudir o marasmo de uma pessoa, injetando ânimo e coragem para que ela volte a ser feliz.

Em festas, sempre existe uma "gata borralheira" esquecida num canto.

De repente, alguém de coração gentil, a convida p'ra dançar.

Vocês nem poderão imaginar o que eventualmente poderá acontecer:

Aquela "gata borralheira" poderá ter os pés ajustados ao sapato do príncipe, e transformar-se, e sorrir e se tornar bela.

Eu já testemunhei metamorfoses espantosas.

Moças tímidas readquiriram confiança, e, em seguida dançaram durante toda noite.

Eu já disse, mas vou repetir:

- Uma palavra faz milagres.

- Um gesto de aprovação levanta o ânimo.

Galanteio aplicado em hora certa dará brilho ao casamento.

Restabelece relações que estavam perigando...

Traz de volta o afeto e o carinho.

No dia que completou quarenta anos, Márcia Gonzaga sentia-se profundamente deprimida.

Previa cabelos encanecendo, rugas se aprofundando, e a batalha incessante para se conservar esguia.

Na hora que o marido voltou do trabalho, ela se fez forte, mas a tristeza pairava, dançando em seu rosto.

Depois do jantar, o marido lhe disse, com ar misterioso:

- Venha ver seus presentes.

Márcia Gonzaga não se entusiasmou tanto.

Os dois sempre trocaram presentes práticos, e ela esperava um aspirador de pó de que estavam precisando.

Com surpresa, desembrulhou um par de chinelas bordadas, um conjunto completo de lingerie e uma camisola deslumbrante.

Ele não explicou a razão do presente, e nem precisava.

Márcia Gonzaga entendeu a mensagem:

O cartão dizia tudo:

- Você é linda!

O curioso da história é que Márcia Gonzaga, dali para frente, começou a se sentir poderosa.

O coração gentil modifica as pessoas, fornece seiva para perpetuação de uma relação agradável e harmoniosa.

O coração gentil consolida a afeição recíproca.

Afirma verdades escondidas que a boca não saberia pronunciar.

O coração gentil é um toque de requinte.

Um garoto chamado Rafael morava numa favela do Rio de Janeiro.

Este menino vivia solitário e sem amigos.

Todo seu amor ele dedicava a um ursinho de pelúcia, que ganhara três anos antes, numa distribuição do Natal dos Pobres.

O urso já estava muito maltratado pelo uso, sobrando apenas um olho naquele rosto dilacerado.

Rafael, de repente, adoeceu com as amídalas inflamadas.

- É caso para cirurgia, disse o médico.

A enfermeira lutou para tirar o urso de pelúcia das mãos da criança, mas ela resistiu, bravamente.

O médico percebeu, num relance, a cena insólita, e teve uma inspiração.

- Deixe o ursinho nas mãos do Rafael, disse ele. Afinal, o ursinho também precisa de uma cirurgia.

A criança se aquietou, nas mãos do médico, e, dali para frente não deu mais problema.

Quando o menino acordou da anestesia, na cama do hospital, o ursinho estava ao seu lado.

Um olho novo se instalara, com capricho, pelas mãos compassivas daquele médico de coração gentil.

Pelo jeito, aquele médico foi o primeiro amigo que apareceu na vida de Rafael, depois daquele ursinho de pelúcia.

Ninguém pense que faltam oportunidades para exercer este trabalho de vigilância afetiva.

À nossa volta, em todas as horas do dia, existem seres humanos cansados e desiludidos.

Bastará ter olhos para identificar o desalentado, e tentar de alguma forma penetrar naquela couraça de solidão.

Nós possuímos as mãos e a palavra mágica.

Resta pedirmos sabedoria para utilizarmos bem estes recursos que Deus nos emprestou.

Certa vez, eu estava fazendo compras numa feira, quando presenciei uma cena que deveria ter melhor desfecho.

Uma criança ajudava o pai a vender legumes.

Com muito orgulho, o menino entregou uma couve-flor para freguesa apressada, e estendeu a mão para receber o dinheiro.

A mulher afastou, num gesto impensado, os braços da criança, e fez questão de entregar o dinheiro ao dono da banca.

O sorriso do menino morreu em seu rosto.

Outra mulher por perto percebeu o desapontamento da criança.

Ela chamou o menino e escolheu um maço de couves, outro de cebolinhas verdes e ainda um terceiro de tomates.

Deu uma nota mais alta que o valor da compra, nas mãos do menino, que rapidamente lhe deu o troco certo.

- Obrigada, disse ela. Com certeza eu não teria calculado tão depressa.

- Que nada, disse o garoto, sorrindo, feliz pela aprovação do pai que assistiu a cena.

Sempre existe um jeito de aplainar as arestas criadas pela nossa desatenção.

O coração gentil possui este dom especial.

Ele sempre chega na hora certa.

Ele tem voz para dizer a palavra adequada.

Ele sabe calar quando calar possa ser mais conveniente.

- "A porta da felicidade se abre para fora" - escreveu um teólogo dinamarquês - "E entre as muitas maneiras de abrir esta porta, nenhuma é mais eficiente do que tratarmos a todos com gentileza".

Quando voltamos do trabalho, e nosso filho vier correndo, excitado, para nos contar uma notícia, cuidado!

Está na hora de calar.

Ele diz com excitação, atropelando as palavras:

- Pai, você sabe o que aconteceu na Rua das Tropas com a Avenida Central?

Você já recebeu esta mesma notícia, muitas vezes, naquele dia, através do rádio e de cinco testemunhas oculares.

No entanto, você percebeu o prazer do seu filho em ser o porta-voz da boa nova, e você permanece calado, escutando com atenção.

Você cala para alimentar a alegria da criança.

Você espera o menino contar o fato, com todos os detalhes, e se rejubila, com ele, pela novidade.

- Que bom, meu filho. Especialmente pelo fato de que você está atento para sempre me trazer boas novas. Obrigado, meu garoto.

Você mostra no rosto a gratidão por ele correr ao seu encontro para dividir expectativas.

Há neste mundo uma soma infinita de amor se oferecendo para extravasar.

Não será benéfico colocarmos diques para conter esta chuva benfazeja.

Será adequado deixarmos que corra como cascata e que inunde o planeta, como bênção divina.

Louvado seja Deus.



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