Amanhã Será Outro Dia

Data: domingo, 24 de janeiro de 2010

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Preocupações compulsivas produzem neuroses que descambam para doenças graves.

Ninguém pode conviver com sistemática sensação de insegurança.

Eraldo Lima, na época com 40 anos de idade, tomado por um acesso de preocupação compulsiva, foi acometido de crise de insônia.

Ele achava que iria perder o emprego e aquilo, pouco a pouco, foi tirando sua paz.

Ele não acreditava que encontraria outra ocupação, na sua idade.

Desta forma, sua vida se transformou num autêntico tormento, com aquela idéia martelando sua mente.

Ele projetou imagens mentais de que seria despedido, e, pela força da mente alimentou o desfecho tão longamente acalentado.

Alguns meses depois, Eraldo Lima foi realmente despedido.

- E agora, Eraldo?

Nesta altura, algo será necessário acrescentarmos em favor do Eraldo, pois ele não permaneceu inativo:

Eraldo foi à luta, e conseguiu novo emprego, em tempo recorde.

Para surpresa geral, a nova ocupação lhe proporcionou salário mais alto e alegria dobrada.

O fantasma da fome e das privações fora apenas uma ilusão perigosa de sua mente.

A mudança - ao contrário - produzira notórias vantagens.

Eraldo Lima finalmente compreendeu que perdera tempo e saúde acolitando idéias errôneas quanto à sua capacidade.

Todos os raios e trovões ocorreram no copo de água de sua imaginação enfermiça.

Esta representa a grande surpresa, em quase todas as ocasiões em que menosprezamos nossas potencialidades.

Não existe atitude mais despropositada que a preocupação.

Aliás, uma coisa deverá ser acrescentada:

Ainda que eu passe a vida inteira me preocupando, nada do que está previsto para me acontecer será interrompido.

Ao nascer, nós trazemos um feixe de eventos pelos quais somos obrigados a atravessar.

São falhas de outras vidas que estão sendo cobradas pela Lei Maior.

Os nossos receios não contribuirão em nada para segurar as mãos implacáveis do destino.

Portanto, será inútil vivermos assustados e inseguros.

Ocupados com o planejamento de um futuro harmonioso - sim!

Esta aplicação de tempo saudável nós louvamos sem qualquer restrição.

Não é saudável, porém, desperdiçarmos energias no futuro e esquecermos de tomar medidas para consertar o presente.

Algo no futuro sobre cuja concretização ainda não temos controle não pode e não deve ser objeto de nossas angústias.

Eu falo de uma inutilidade absoluta - da aplicação de tempo vazia de resultados.

Além desta ausência de propósitos, deveremos acrescentar que a preocupação é uma das maiores fábricas de doenças que conhecemos.

- Ai! Meu coração pode falhar de uma hora para outra.

- Eu não posso viajar de avião porque os aviões estão caindo. Na Índia, semana passada, centenas de pessoas morreram.

- Será que a Florinha está sendo bem atendida pela babá?

Angústias e queixas são tecidas no vazio do imponderável.

Preocupações sólidas e doentias marcadas pelo desequilíbrio da mente fantasiosa.

Até o medo da terceira guerra mundial vai produzindo desassossego e pânico.

- Poderemos acordar agonizantes, alcançados pelo holocausto nuclear, pontifica o João das Farinhas.

Isto é bíblico, diz ele, categórico.

Se a guerra vai acontecer um dia, alguém acha que a nossa preocupação vai impedi-la? Interroga o João dos Anzóis, irônico.

Este é o dilema.

Não seria muito mais produtivo utilizarmos o nosso tempo na construção da paz que está mais perto de nós?

Aqui e agora poderemos proferir uma frase de esclarecimento, dissipando discórdias daquele casal em crise.

Seria atitude excelente de nossa parte, no campo das relações humanas.

Poderíamos até ser candidatos a um lugar ao lado direito do Cristo, no Dia do Juízo Final.

E por que não?

Vejam que no Sermão da Montanha, Jesus prometeu:

"Bem-aventurados os pacificadores porque serão chamados Filhos de Deus".

Mateus, 5 v 9.

Assim, o fato de ocuparmos os pensamentos para harmonizar o nosso pedaço de chão torna-se credencial para nos entronizar no Reino de Deus.

Quem se ocupa na semeadura da concórdia poderá esquecer até mesmo eventuais dissabores de sua própria vida.

O pregador do Velho Testamento afirma:

- "De tudo o que se tem dito, podemos resumir - Teme a Deus, e guarda seus preceitos". Eclesiastes, 12 v.13.

Se você tem compulsão para viver tremendo de medo, o temor suscitado pela majestade Divina será um derivativo benéfico.

Além de mais saudável, você colocará seus receios no lugar adequado.

- Temer a Deus, num sentido de fazer o que Ele manda.

No momento que você canaliza suas incertezas e inseguranças para o Alto, as angústias da horizontalidade se encaminham para segundo plano.

Quando os egípcios tinham o Deus-Sol para descarregar seus temores, as preocupações eram pulverizadas nele.

Os Egípcios enxergavam aquele astro magnífico, e tremiam diante da sua majestade e poder.

Canalizar nossos receios poderá ser um gesto de parceria com a divindade.

No livro Provérbios, é feita uma aposta nas vantagens da Sabedoria que se curva diante do Pai Eterno.

"Eu, a Sabedoria, tenho a prudência por morada. Eu descobri o senso de oportunidade - Temer o Senhor e odiar o mal".

Provérbios, 8 v 12.

E a Sabedoria continua definindo o que existe de mais desejável:

"Eu odeio o orgulho, a arrogância, a trilha do mal e a boca perversa".

Provérbios, 8 v 13.

Se o temor a Deus nos reveste de energia positiva para vencermos nossas inclinações maldosas, está na hora de admitir o temor sagrado.

Por que não?

Este "temor e tremor" - apontado pelo apóstolo Paulo - pode nos libertar de todos os demais terrores que nos atormentam.

Vocês não acham que seria doce convívio, ficarmos imantados pela energia gostosa e avassaladora do mundo espiritual?

Acocorados no doce aconchego do Redentor que nos ama.

Arquimedes dizia: "Dai-me uma alavanca e um ponto de apoio, e eu removerei o mundo".

Muitas pessoas não gostam desta expressão - "Temer a Deus".

Eu também prefiro o termo "Respeitar a Deus".

No entanto, eu me reservo o direito de aconselhar aos que insistem no pavor diante do trovão:

- Se apavorem diante do Criador, minha gente, que é o Senhor do trovão. Muito acima do trovão, se encontra Deus. Nunca esqueçam que o Pai Celestial foi quem fez o trovão.

São totalmente despropositados os receios nutridos por coisas deste mundo, fora do verdadeiro foco de poder.

É aquilo que Jesus disse:

"Não deveis temer os que matam o corpo e não podem matar a alma. Temei antes Aquele que pode fazer perecer em tormentos tanto o corpo quanto a alma".

Mateus, 10 v. 28.

As próprias pessoas que condenam a expressão - temor de Deus - vivem tremendo de medo de aparições do outro mundo.

Não admitem receio diante da Divindade, mas ficam rastejando, paralisadas, quando defrontadas por perigos infundados e inexistentes.

Eu já deparei pessoas gritando e fazendo cenas diante de uma simples barata ou pequenino camundongo.

É o fim da picada!

Eu já escutei criança de seis anos censurar babá apavorada diante de um ratinho:

- Você, com todo o seu tamanho! Foi o desabafo irônico da criança, depois de uma sonora gargalhada.

As crianças também sabem ser sádicas, quando deparam cenas deprimentes.

Ninguém fique soberbo, porém, considerando-se vacinados contra o medo, porque o medo pode ser uma fraqueza de todos nós.

Quantos receios secretos não são camuflados em nosso íntimo, para não sermos flagrados e ridicularizados.

Até pessoas cultas e destacadas tem suas fraquezas, neste campo das preocupações e receios.

A nossa mente inferior vai produzindo ciladas.

O escritor Wayne Dyer foi contratado para ministrar aulas numa universidade da Turquia.

Restando intervalo nas atividades pedagógicas, ele carregou material para escrever mais um romance.

Deixou a filhinha Tracy Lynn com sua esposa, e seguiu para Ancara.

Passou um mês e o seu romance continuava no zero, sem nenhuma imagem digna de ser aproveitada.

Ele sentia-se totalmente desestimulado para escrever.

As poucas frases que transferiu para o papel eram consideradas, na sua opinião, como verdadeiro lixo.

Ele não produzia absolutamente nada que o tornasse satisfeito.

Não conseguia o beneplácito da sua musa inspiradora.

- O que estaria acontecendo? Wayne se interrogava, aflito.

Foi nesta altura que caiu a ficha.

A sua filha Tracy Lynn, de seis anos, era o embargo que castigava sua mente e dificultava o seu trabalho.

- E se ela saísse de bicicleta pela rua movimentada, sem alguém para lhe exigir cuidado?

- E se a mãe a deixasse brincar sozinha na piscina?

- E se a menina rebelde se perdesse na cidade grande, e fosse raptada por pedófilos?

Uma série enorme de tragédias atravessava o espírito conturbado do pai aflito.

E assim, aquele escritor desperdiçava seu tempo precioso em cogitações tenebrosas.

Parece que o subconsciente ganhava algum lucro na inatividade do escritor.

Quem sabe?

O fato é que a maioria das preocupações não se justificava.

O próprio Wayne possuía bagagem para entender que se tratava de uma fantasia do subconsciente.

Este é o drama do intelectual e também do cidadão comum.

A camisa de força das preocupações nos imobiliza e nos torna incapazes de reagir.

Nestes momentos, chegamos a esquecer a forte presença do Pai Celestial.

- Não posso fazer nada, diz alguém. Estou preocupado, e não tenho maneiras de desenvolver qualquer trabalho.

E existem figurinhas preguiçosas que se valem da preocupação para interromper o trabalho.

Esta será desculpa, quando repetimos o pretexto para fugirmos da realidade.

Alguém deseja imobilizar-se, se diz preocupado, e os demais terão que completar também as suas tarefas.

- Coitadinho! Ele está com problemas. Deixe que ele fique na cama até mais tarde.

Mães, tias e avós acorrem, apressadas, para consolar o aflito.

Por favor, me corrijam se eu estiver exagerando.

Evidentemente é muito mais fácil se isolar, e se dizer preocupado, do que agir e resolver os problemas.

Jesus foi claro, e de nenhuma forma nos prometeu moleza:

"Não vos preocupeis com o dia de amanhã. O dia de amanhã trará seus próprios cuidados. A cada dia já basta o seu próprio mal".

Mateus, 6 v 34.

Vejam que Jesus também é expectante diante dos eventos que seriam trazidos pelo dia seguinte.

O que interessa, portanto, é o dia de hoje, aqui e agora.

Pergunte a si mesmo:

- Estarei feliz e sereno realizando as minhas tarefas, sem me perturbar com os problemas de amanhã?

Qualquer vacilação mostrará mistura de estações, sintonia imperfeita, dispersão da mente.

Nunca esqueçamos: amanhã será outro dia.

Hoje será o tempo adequado de resolver problemas.

Uma coisa, entretanto, devemos conservar na mente, quando ocupados no afã da continuidade da vida.

As palavras de Jesus revelam problemas, mas elas não definem que os problemas são insolúveis:

- "O meu jugo é suave" - diz o Mestre. "E o meu peso é leve".

Mateus, 11 v 30.

Ausência de alegria e a fronte enrugada serão sinais evidentes de que ainda não entendemos a mecânica do processo.

Se nos revelarmos apreensivos, é que ainda não nos desligamos da sombra do futuro assombrando nosso presente.

O desenho do nosso porvir mais parece ave de rapina, imóvel nos ares, espreitando galináceos desprevenidos.

Será possível até mesmo sentirmos o cheiro do perigo.

Jugo suave e peso leve não se coadunam, com gemidos e queixumes.

E nós vamos repetir a pergunta que fizemos há poucos minutos:

- Estarei feliz e sereno realizando a tarefa, sem me perturbar com os problemas de amanhã?

Se realmente Jesus está no leme, a nossa resposta será positiva, porque o seu "jugo é suave" e o seu "peso é leve".

Ninguém colhe os benefícios de qualquer ação constrangido e amargurado.

"Se alguém quer ser meu discípulo", explicou o Mestre. "Renuncie a si mesmo, tome sua cruz e me siga".

Marcos, 8 v 34.

Ninguém consegue dar este passo importante, sem renunciar ao ego, que carrega todas as preocupações do mundo.

"Renunciar a si mesmo" - significa zerar todas as contingências do passado e acreditar.

Mesmo que você entregue um simples pãozinho para uma criança, isto só alcançará o retorno maior se o ato for espontâneo e alegre.

Bem-aventurança significa interagir com espontaneidade nos mais variados estágios da vida.

Nunca deveremos antecipar dores do dia seguinte, do próximo mês, do novo ano.

Melhorar o agora deve ser a meta principal.

Uma dor no peito sempre revela algo errado no coração.

Então, eu pergunto p'ra vocês: Será mais acertado me preocupar ou ir ao encontro de recursos para alcançar a cura?

É claro que a preocupação nada resolverá.

Apenas irá desgastar o nosso organismo produzindo ainda maiores enfermidades:

Um receio sistemático produz úlceras, dores de cabeça, dores nas costas, hipertensão, cãibras e uma série enorme de outros males.

Você precisa urgentemente se libertar da compulsão perigosa de sempre esperar o pior.

Se você cai na areia movediça, poderá enxergar um galho de uma árvore, ao alcance das mãos.

Isto acontece no momento em que você é colhido pelas areias.

Nas suas expectativas, você só enxergava o acidente e a morte.

Aquele galho salvador não fazia parte do desenho das suas premonições.

Você percebeu?

Seus palpites só registravam negatividades.

Existe discrepância, portanto, entre os seus pesadelos e o panorama real.

O maligno nunca será tão feio quanto se imagina.

Agarrar naquele galho com unhas e dentes por certo será um desmentido para o fatalismo da tragédia.

Aquele galho é o presente que o Pai Celestial lhe entrega.

Aquele galho é o agora, que foi colocado naquele local, para garantir a sua salvação.

Desde o berço, o Pai Eterno conhece todos os nossos passos de criaturas livres e conscientes.

E o Pai das Alturas se mantém vigilante, embora respeitando o nosso livre arbítrio.

Só nos resta, portanto, confiar em Deus, e esperar com paciência.

Se todos nós seguíssemos os ensinamentos básicos de Jesus, com toda a certeza não entraríamos nesta visão neurótica do futuro.

Não vos preocupeis pela vida com o que comereis, nem pelo vosso corpo com o que vestireis.

A vida não vale mais do que o alimento e o corpo mais do que as roupas?

Olhai os pássaros do céu: eles não semeiam nem ceifam, não ajuntam em celeiros. E vosso Pai Celestial os alimenta!

Acaso não valeis mais do que eles?

E quem dentre vós pode, à força de preocupar-se, prolongar por pouco que seja a sua existência?

E com a roupa, por que tanto receio?

Olhai os lírios do campo, como crescem.

Eles não se afadigam nem fiam.

E eu vos digo: Nem Salomão, em toda sua glória, jamais se vestiu como um deles.

Se Deus veste, assim, as ervas do campo, que hoje existem e amanhã são lançadas ao forno, fará Ele muito mais por vós, homens de pouca fé.

Não vos preocupeis, portanto, dizendo: Que comeremos? Ou que beberemos? Ou com que nos vestiremos? Mateus, 6 vv 25 a 31.

Surge uma oportuna história nos revelando o quanto o Senhor Deus é Providencial..

Aquele casal de velhinhos esperava os netos com certa impaciência.

Afinal, eram mais seis bocas para sustentar, e a situação deles era precária.

A preocupação castigava o espírito hospitaleiro de dona Mafalda.

- Dá-se um jeito - ponderava o seu Agenor. Até lá talvez eu receba os atrasados da aposentadoria.

Apesar da promessa do advogado, todavia, os dias passavam e a crise continuava preocupando aquele casal.

Todas as alternativas para arranjar recursos falharam.

Empréstimos bancários foram negados.

Todos conheciam a situação dos pequenos agricultores.

Principalmente aquele casal estava sob suspeita, pois resgatara conta alta no hospital.

A cirurgia de dona Mafalda representara golpe imprevisto.

O feijão e o milho da safra passada fora vendido até o último grão, para diminuir a dívida da operação cirúrgica.

Em resumo, aquele casal estava zerado em matéria financeira.

Agora, porém, a situação se agravara:

Os netos chegariam na próxima semana e o super mercado não tinha crediário.

Os dois velhinhos foram dormir bastante preocupados.

Em silêncio, procuraram esquecer a miséria, para que o sono trouxesse o esquecimento e o descanso.

- Daremos um jeito, mulher, disse o seu Agenor, mas nem ele acreditava que seria possível superar a crise.

Mafalda dormiu logo e não tardou a sonhar.

Sonhou com uma entidade que brilhava no escuro.

- Mafalda, disse o anjo. Eu conheço toda a extensão das suas dificuldades. Amanhã você deverá ir ao supermercado, colocando no carrinho tudo aquilo que julgar necessário.

- Mas eu nada tenho para pagar a conta, senhor. Terei a barreira do caixa diante de mim. Qual será a solução?

- Em troca, só lhe peço uma coisa, Mafalda: Confiança! Você terá de confiar em Deus. O Cristo está providenciando recursos para que você hospede seus netos. O seu papel será colocar as mercadorias no carrinho e se encaminhar para caixa. Só isto!

Mafalda acordou assustada e contou o sonho ao seu Agenor.

Os dois permaneceram envolvidos por longo silêncio.

E agora?

Seu Agenor foi o primeiro a falar:

- Mafalda, você terá coragem?

Petrificada de medo, a mulher não respondeu.

Embora o sonho tenha sido bastante real, ela sentia um frio na barriga.

Enfrentar o caixa, o gerente e os seguranças do mercado?

Só em pensar naquela hora de confrontação, e um arrepio de pânico atravessava o seu corpo.

Ela tinha noção das conseqüências: algemas e o camburão da polícia.

Do outro lado, imaginava os netos, felizes, festejando, comendo e bebendo do bom e do melhor.

Abraçada ao marido, Mafalda hesitava em tomar a decisão.

O sol já ia alto no horizonte, quando ela resolveu.

Foi ao supermercado e só abandonou a coleta de mercadorias quando faltou lugar no carrinho.

Então ela se dirigiu ao caixa, e a lista de números desceu pelo outro lado, e foi se amontoando no chão.

Foi quando Mafalda se assustou com a pergunta da moça:

- A senhora vai pagar com cheque, cartão ou dinheiro?

Gaguejando, a velhinha respondeu algo inaudível.

E a moça do caixa não entendeu e repetiu a dolorosa interrogação:

- A senhora vai pagar com cheque, cartão ou dinheiro?

Mafalda tomou coragem. Ergueu-se e disse, confiante naquele anjo que provocara o confronto:

- Daqui a pouco, moça, um anjo de Deus virá trazer o dinheiro.

Todo o mundo ficou extremamente incomodado, julgando tratar-se de alguma demente.

Uma interrogação intraduzível se espalhou pelos ares.

Todos se olhavam, mas ninguém tinha coragem de emitir opinião.

Naquele exato momento, todavia, uma voz se ouviu pelo alto-falante:

- Senhoras e senhores! O nosso glorioso supermercado está fazendo trinta anos hoje, e nós acabamos de sortear o freguês que esteja no caixa 13. Todas as mercadorias compradas são oferta nossa a custo zero.

Verdadeira ovação acolheu o pronunciamento do diretor.

Alguns, que se encontravam mais perto, agora entenderam. Realmente a generosidade da direção daquele mercado recebera direta influência das forças divinas.

Diante de almas aflitas, Deus nunca falha.

Dona Mafalda fora a feliz contemplada daquele prêmio.

A um jornalista que se encontrava no local ela declarou:

- Bem-aventurado é quem confia no Pai Celestial.

Por maiores e insuperáveis que sejam os problemas, existe alguém maior e mais poderoso do que todas as nossas carências.

É só confiar, esperar e acreditar.

Louvado seja Deus.


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