Cabelos Brancos em Pauta

Data: domingo, 18 de abril de 2010

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No momento que a psicologia se torna matéria cada vez mais importante, a mente do homem tem sido devassada.

Uma coisa tem sido particularmente objeto de pesquisas.

E se trata de uma interrogação difícil de ser colocada em termos objetivos.

E a pergunta é bem coerente:

- Será que a média do ser humano tem sido feliz?

Este questionário abre caminho para outra cogitação válida.

- Alguém que se diz feliz, aos vinte anos, estará seguro de que continuará tendo alegrias na quadra dos setenta?

O desenho deste futuro incerto não será, de certa forma, um redutor de expectativas?

Depois de tantos debates e controvérsias, parece que não chegamos a uma conclusão satisfatória.

Em todas as idades, a criatura está numa ilha rodeada de incertezas.

Os finais felizes dos filmes e novelas podem ser estratagemas para agradar a galera e vender o produto.

Até hoje ninguém produziu consenso nesta matéria complicada.

- Ser feliz é um estado de espírito e ainda não foi inventado um aparelho para medir os humores da alma.

Considerando a média das pesquisas que analisamos, parâmetros tímidos podem ser estabelecidos.

Felicidade ou desventura não é subproduto nem da velhice, nem da infância e muito menos da mocidade.

Podemos gozar a vida em todas as fases da nossa existência.

Da mesma forma, será lícito aceitarmos a presença de dissabores em todas as faixas etárias.

Uma criança infeliz não significará um futuro adulto sofredor.

As muitas voltas do mundo poderão recuperar o paraíso perdido daquela criança.

Não existe uma inclinação fatal.

Cada idade tem suas vantagens e desvantagens.

Aquilo que registramos na cartilha da infância pode ser apagado com a borracha do tempo já na adolescência.

Uma pesquisa feita a nível mundial, no século vinte, revelou que o pico das preocupações com saúde estaciona aos 45 anos.

Aos 45 anos, decrescem as expectativas sombrias.

A tendência é se acomodar.

O ser humano parece dizer: Cheguei até aqui, e por certo irei longe.

Anos e anos se preocupando terão consumido as apreensões dos viventes.

A mente, tranqüilizada pelo exercício de tanto tempo, deixa de pensar no provável término sombrio.

Quando a aposentadoria chega, a adrenalina se espalha produzida pela expectativa, e o corpo reage com certo alívio.

É totalmente diferente o sentido da vida de uma criança, de um adolescente e de um velho.

Por incrível que pareça, uma criança, exatamente no momento de desabrochar, pode ser alcançada pelos tentáculos do desespero.

Adolescente, durante um período desfavorável de sua vida, Arthur Rubinstein tentou o suicídio.

Lembrando o passado, ele deplorou, na velhice, aquele seu gesto.

- Quando saí para a rua, explicou ele mais tarde, percebi que tolo eu tinha sido. Então compreendi a beleza do mundo, pessoas se movimentando, flores crescendo na pracinha.

Aprendi, então, continuou ele, que a felicidade não significa sorrir, ter dinheiro ou saúde.

A felicidade não será mais que viver.

Aceitar a vida como ela está desenhada.

Enxergar, falar, ouvir, andar, tudo isto é milagre.

Adotei fórmula de fugir do aborrecimento, procurando me empolgar de milagre em milagre.

Quando se aceita a vida como prodigiosa, em si mesma, a alegria de viver é diferente.

A vitória chega e se coloca aos nossos pés.

Então, o extraordinário pianista Arthur Rubinstein aproveitou cada minuto como oportunidade maravilhosa.

Com 80 anos, ele suportava apresentações pelo mundo inteiro.

Cada 3 dias, ele realizava novo espetáculo.

Artistas com menos 25 anos se aposentaram.

Com 60 anos, a maioria sente o declínio da capacidade e se rende ao pijama e aos chinelos.

Com 80, Arthur Rubinstein recebeu o titulo de "maior interprete de Chopin de todo mundo".

A razão desta capacidade foi descrita por ele mesmo:

- "Aceitar a vida como ela está desenhada".

As queixas tornam as tarefas pesadas.

As murmurações empobrecem nossas reservas da Graça Divina.

Jesus disse: "Meu jugo é suave e o meu peso é leve".

Mateus, 11 v 30.

Mil coisas úteis estão diante dos olhos dos aposentados, e podem ser realizadas por eles.

É só escolher e se lançar de corpo e alma, e a bênção do Deus Poderoso vai alcançar você.

Eu já disse e repito:

- Os mais ativos gozarão de melhores condições de saúde. Quando alguém se lança numa tarefa em favor de todos, Deus derrama sua ânfora de bálsamos sobre a cabeça do tarefeiro.

Ninguém esconda os seus dons.

A omissão pode ser o grande pecado.

- "Procurai as ovelhas perdidas da Casa de Israel" foi a ordem do Nosso Rabi.

"Alertai, através da pregação, que está próximo o Reino de Deus".

Mateus, 10 vv 6 e 7.

Isto que Jesus disse não foi um simples apelo: Não!

Isto que Jesus disse foi uma ordem, lançada aos quatro ventos, para todas as criaturas.

Todos os seres humanos - de alguma forma - são destinatários desta convocação

Ninguém se considere velho demais.

Não será porque você já completou oitenta anos que está isento deste compromisso.

- Não! Esta incumbência tem caráter coletivo e não serão toleradas deserções.

O Pai Celestial e o seu Cristo estão recrutando judeus e gentios.

Ninguém tem o direito de fugir ao compromisso assumido antes de reencarnar.

Depois de convertido, Paulo disse: "Ai de mim se não pregar o Evangelho"

I Coríntios, 10 v 16.

No primeiro encontro, em Damasco, o Mestre reavivou a memória de Saulo censurando sua omissão.

"Dura coisa é recalcitrares contra os aguilhões", lhe disse Jesus.

Atos, 26 v 14.

Estas palavras mostram que o futuro apóstolo resistira quanto lhe foi possível.

Também o velho Jonas recalcitrara contra o aguilhão.

Diz a Bíblia que ele embarcou para Tarsis "para fugir da presença do Senhor". Jonas, 1 v 3.

Percebam a ingenuidade do pobre Jonas: Ele comprou passagem para Tarsis, numa tentativa de fugir de Jeová.

Foi uma atitude típica de um velho teimoso

E lembramos a voz de João Batista no deserto:

"O machado está posto à raiz das árvores. Toda a árvore que não produzir bons frutos será cortada e lançada ao forno".

Mateus, 3 v 10. Palavras do Batista.

O fato de alguém ostentar cabelos brancos não é desculpa para não se integrar ao exército do Cristo.

A árvore obrigatoriamente tem que produzir frutos, enquanto existe, para que se mantenha digna do chão que ocupa.

Manter-se solidário não representa privilégio da juventude.

Aqueles que viveram mais possuem dobrada experiência e a experiência representa enorme valor.

A mensagem que Jesus deseja ver espalhada é simples. Ela depende apenas de persistência e de sinceridade.

A tarefa será apontar, por todos os meios e modos, a necessidade do amor, do perdão e da paz entre todas as criaturas.

Na medida que alguém divulgar e exemplificar tais preceitos divinos estará exercendo sua tarefa.

O fato é que todos devem ter na mente as advertências do Batista:

"Toda a árvore que não produzir bons frutos será cortada e lançada ao forno".

Percebam que estas palavras foram proferidas pelo grande João Batista.

Portanto, elas são proféticas.

Deus não deseja apenas que nos abstenhamos do mal.

Deus está nos advertindo a todos para aproveitarmos o nosso tempo na tarefa de melhorar o mundo em que vivemos.

Ele não está nos impondo que sejamos missionários na China ou no Caribe, para ensejar arrecadações milionárias.

Ele deseja nossa colaboração, como instrumentos de difusão do Reino Dele, onde estivermos.

O Pai Celestial quer aproveitar a experiência dos mais velhos.

Nosso tempo disponível deve ser encarado como precioso.

É verdade que os nossos irmãos velhinhos são teimosos como Jonas e fazem coisas "arco da velha".

Eles se envolvem em cada enrascada que até parece anedota.

Diante do quadro mais valioso do Museu Grenoble os seguranças flagraram um velhote muito estranho.

Parecia duende dinâmico numa tarde inspirada.

Tinha na mão um pincel ameaçador e no braço uma caixa de tintas.

- Seria um doido varrido? - Foi a pergunta dos vigilantes.

Por sorte eles o pegaram antes que fizesse besteira e ocasionasse prejuízo.

Ele já se preparava para retocar famosa pintura de Bonnard, cujo preço se elevava a alguns milhões de francos.

Todos ficaram horrorizados com o atrevimento daquele velho.

Alterar um quadro de Bonnard representava autêntica insanidade, um atentado contra a beleza, uma sórdida demonstração de desrespeito pela arte.

O funcionário do Museu emitiu verdadeiro grito de cólera, e arrastou o vândalo para uma central de polícia.

Isto criou confusão sem precedentes, pois o homem que a polícia algemara era o próprio Bonnard, o pintor genial que produzira o quadro.

Ele sofrera pesadelo, no repouso da tarde, exatamente por causa daquele quadro:

Sua imaginação detectou algo imperfeito na mistura das cores.

Não teve dúvidas.

Sem pedir licença para ninguém, avançara, como se fosse Dom Quixote, contra aquele castelo imperfeito.

Avançou compulsivamente para fazer os retoques.

Por este incidente envolvendo Bonnard nós reforçamos a tese de que a idade pode mexer com nossos neurônios.

De propósito, eu o comparei a Dom Quixote de La Mancha.

A semelhança não poderá ser contestada.

Existe uma pontinha de insanidade, tanto na atitude de Bonnard quanto nos combates de Dom Quixote contra moinhos de vento.

Nos dois lados da balança nós encontramos uma carga exagerada de ingenuidade.

Este aspecto patético nos velhinhos, eu enxergo como inocência e até mesmo como criancice.

O mais antigo, por ter vivido tanto tempo, certamente adquiriu o direito de ser excêntrico.

Estas crianças grandes de cabelos prateados parecem viver numa zona neutra, onde a censura não deve penetrar.

Aliás, eles detestam a notoriedade, para não serem feridos pelas setas da indiscrição.

Einstein era violinista, por gosto e vocação.

Nas horas vagas, ele exercitava seu pendor musical.

Conhecendo a vocação musical de Einstein, repórter de uma revista alemã começou a assediá-lo para que ele escrevesse sobre Bach.

A insistência foi tamanha que Albert Einstein ficou irritado.

E ele foi incisivo no desabafo:

- Eis o que tenho a dizer sobre a obra de Bach: Ouça, toque, admire-a e cale a boca!

Foi um "chega p'ra lá" para o repórter abelhudo, que considerou o cientista um velho ríspido e mal educado.

A ordem para calar a boca, conquanto aparentemente exagerada, talvez não tenha a conotação que lhe emprestamos.

Ela poderá significar um apelo ao silêncio.

Afinal, a música de Bach será sempre um apelo ao mais completo isolamento possível.

Será indispensável calar a boca.

O Sagrado deverá ser ouvido de boca fechada.

- Calar é o primeiro requisito para aproveitamento da música. Talvez tenha sido a razão do apelo do velho Einstein. Quem sabe?

- "Cale a boca" poderá perder o seu tom agressivo quando interpretamos desta forma.

Nunca esqueçamos: Quando se trata de alguém mais velho é preceito de caridade afastarmos a reprimenda desprovida de caridade.

Santo Onofre conta, em suas memórias, que no início da carreira serviu velho penitente chamado Nilo.

O derradeiro discípulo de São Nilo o abandonara, de volta ao pecado, acompanhando um bando de sarracenos.

Nilo era uma figura espantosa.

Tinha na época cento e vinte e três anos.

Tão longa solidão naquele deserto o tornara quase um vegetal.

Ele não era mais que um arbusto vergastado pelo vento.

Ele já não temia a Deus nem orava.

Simplesmente se arrastava pelas pedras, usando as mãos e os pés, de rastros, como as feras.

Como um obreiro que completou a obra, Nilo se contentava olhar o céu, silenciosamente a espera do seu salário.

Durante os três anos que serviu aquele santo terrível, Onofre nunca recebeu um sorriso, consolação ou agradecimento.

De tanto viver naquela solidão arenosa e pedregosa, aquela alma ganhara a secura das areias e a rigidez do cascalho.

Não havia doçura alguma naquela virtude medonha.

Aquele santo terrível parecia ter absorvido toda a secura do deserto.

Se Onofre se alongava, em suas orações ou meditava com pouca pressa os olhos do Solitário o transpassavam numa repreensão feroz.

Aqueles seus olhos pequeninos rebrilhavam nas pestanas brancas, reclamando pela água fresca que demorava para chegar.

Onofre se tornara mais que um escravo.

Nilo era mais que um carrasco.

Onofre não conseguia entender aquela incompreensível virtude:

Nilo era adorado pelos sarracenos que vinham tomar sua bênção.

A fama da sua velhice e da sua santidade se espalhara além do deserto, invadindo as planuras do Egito.

Das montanhas e das cidades chegavam caravanas, e até pagãos o procuravam, com doenças estranhas para serem curadas.

O terrível ancião nem mesmo consentia que eles se aproximassem de sua caverna.

Espantava os insistentes com ameaças e pedras.

Os peregrinos contentavam-se em vê-lo, de longe, bocejando ou coçando as feridas do corpo coberto de chagas.

Certa manhã, Onofre foi à caverna para ajudá-lo a erguer-se.

O Solitário estava morto.

Morto, como adormecido, na postura de uma criança, tão pequenino que as ervas secas do leito eram mais alongadas do que ele.

Com suas mãos, Onofre o sepultou junto à grande cisterna, e o cobriu com pedras, por causa das feras.

Durante aqueles três últimos anos, Onofre se mantivera escravo daquele santo terrível.

Depois de cobrir seu corpo com as últimas pedras, Onofre percebeu que o penitente o premiava com sua formidável presença.

O agradecimento chegara com atraso.

Somente depois de desencarnado, São Nilo dizia da sua gratidão - usando a mesma rudeza da sua velhice.

- Mais de cem anos de deserto, pensava Onofre.

E tirou o barrete, respeitando a memória do Velho.

Não admira que Deus o poupara da morte, esquecido de mandar buscá-lo naquela medonha solidão.

Onofre recolheu então a túnica de pele que Nilo usara.

E carregou também o rolo das escrituras, o bordão e a cabaça.

Pelo pensamento, Nilo profetizou para o discípulo:

- Quase cem anos também tu servirás ao Senhor.

O fato é que a Bíblia não tem sido generosa com a velhice.

O Salmista apontou dissabores e provações.

"Setenta é a duração da vida", disse ele. "Alguns mais vigorosos chegam aos oitenta. A agitação da vida não passa de aflição e miséria. Tudo se escoa rapidamente e nós voamos".

Salmo 89 v 10.

Este Salmo tem sido atribuído a Moisés, e nós percebemos que ele considera a velhice como doença.

Talvez o retrato seja verdadeiro.

Muita coisa é fruto de sementeiras do passado.

A terceira idade já será tempo da colheita.

Salomão envelhecido é um exemplo perfeito.

Nos últimos anos, atormentado por mil esposas exigentes, Salomão ofereceu retrato pouco lisonjeiro de alguém que envelheceu de forma errada.

Quando os cabelos embranqueceram, o velho Salomão debilitado se voltou contra as mulheres.

Ele queria responsabilizá-las por todos os seus desvios de conduta e os seus fracassos como ser humano.

"Entre mil homens achei um só, mas entre mil mulheres não encontrei nenhuma".

Eclesiastes, 7 v 28. Palavras de Salomão.

O fato comprovado é que cabelos brancos nem sempre são sinais de bom caráter.

E este velho Salomão é um exemplo clássico de alguém frustrado, que não teve sabedoria para construir uma convivência feliz.

Salomão é um dos velhos que pisou na bola.

Suas palavras amargas reprovando as mulheres desfazem sua fama de sábio.

A velhice é uma quadra de avaliação e análise.

Não será porque alguém revelou inteligência na juventude, que iremos incensá-lo para sempre.

Mais do que em todas as outras fases, os muitos anos nos obrigam a crescer no equilíbrio e na integridade.

É o ponto em que o Pai Celestial dá sua nota, pela maneira certa ou errada do nosso procedimento.

Salomão só pode ter recebido um caprichado zero.

Existem velhos nobres e sábios, todavia, que compensam o mau exemplo do rei Salomão.

Esquecê-lo é mais acertado.

O genial escritor Vitor Hugo é autor de conceitos célebres sobre esta matéria controvertida:

"Existem abortos de cabelos brancos" - escreveu Vitor Hugo. "Já no útero materno eles envelheceram. Da mesma forma que há octogenários que conservam todo a magia da juventude".

Na opinião abalizada de Vitor Hugo, não é nossa idade que representa o espinho.

É a falta de ideais.

É a falta de fé.

O mal não se encontra na velhice, mas sim no desânimo e na ociosidade.

O nosso poeta Olavo Bilac usa outra frase oportuna - "envelhecer sorrindo" - para que a tocha das conquistas não se deprecie.

A "terceira idade" pode ser uma quadra de grandes realizações.

A "terceira idade" pode se tornar o coroamento das provas de uma vida inteira.

- Vim ver seu cachorro, disse o Veterinário.

E o dono da casa sorriu, aliviado, apontando o pobre Bob.

- Não repare, doutor. Minha mulher morreu há um ano, e eu moro sozinho. Ela também gostava muito do velho Bob.

Mestiço de labrador, o cão deveria ter sido grande e forte, alguns anos atrás.

Agora, porém, tinha os cabelos brancos em volta do focinho e os olhos mostravam-se opacos e inflamados.

- O velho Bob é um cachorro maravilhoso, doutor. E eu ficaria muito feliz se o senhor o curasse.

- Ele esta sem apetite? - perguntou o veterinário.

Dino abanou a cabeça, confirmando.

- Mas ele comia bem, doutor. Ele se sentava nos meus joelhos, e demorava mastigando. Por último nem mesmo se aproxima do alimento.

O Veterinário olhava o animal com crescente ansiedade.

Ele notava o abdome distendido, e claros indícios de muita dor.

Quando seu dono falava, a cauda batia no cobertor, e o cão voltava seus olhos esbranquiçados para ele como se fosse um semideus.

- É muito difícil, doutor, ficar andando pela casa sem o Bob me acompanhando.

E o senhor Dino fez a dolorosa pergunta: Será que ele vai ficar doente por muito tempo, doutor?

O Veterinário já completara o diagnóstico: Deveria ser um tumor no baço ou no fígado.

Ele procurava palavras para diminuir o sofrimento do Velho.

- O senhor quer dizer câncer, doutor? Foi a pergunta angustiada do velho Dino.

- Receio que sim, respondeu o médico. E tudo indica que está muito adiantado. Não há nada que eu possa fazer.

Os lábios do Velho tremeram, acompanhando a pergunta: - Então ele vai morrer, doutor?

Achei que devia ser realista, esclareceria o Veterinário mais tarde. Fui direto ao ponto:

- O senhor não acha que seria caridade encerrar suas dores agora? Este cachorro deu tantas alegrias que não merece continuar sofrendo.

O velho Dino confirmou com a cabeça, desolado.

Pediu que o Veterinário esperasse um pouquinho.

Ajoelhou-se. Não disse nada, mas acariciou muitas vezes o focinho cinzento, antes de liberar o doutor para sacrificá-lo.

Sentindo as carícias, Bob batia com a cauda no cobertor, homenageando pela última vez o seu querido amigo.

Uma velha mulher que partira produzira o primeiro vazio.

Um velho cachorro que também se afastava daquela casa ampliava a solidão.

Homens e animais envelhecem.

Homens e animais perdem a força física.

Uma coisa é certa, porém:

Enquanto existir afeição e carinho, no relacionamento das criaturas, estará assegurado o triunfo do amor.

Louvado seja Deus.



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