Data: terça-feira, 5 de outubro de 2010
Inspirado em desabafo do profeta Isaias, o apóstolo Paulo proclamou as excelências da pregação do Evangelho:
"Quão formosos são os pés dos que anunciam boas novas".
Romanos, 10 v 15.
Em todos os tempos, este excelente mister tem sido imposto aos filhos de Deus.
Divulgar as verdades eternas tornou-se algo inseparável da própria condição humana.
É uma forma de agradecer ao Senhor da Vida.
Recebemos a dádiva de um lugar no Reino, e teremos que nos tornar divulgadores desta vida eterna que o Pai Celestial nos concedeu.
O apóstolo Paulo deixou bastante claro que a difusão do Evangelho não pode ser aleatória.
Alguém diz: Se for possível levarei o trabalho adiante.
Outro intervém e completa o desabafo: Se surgirem dificuldades, eu pulo fora - em nome do sossego que é meu direito.
Será este o caminho certo?
Não, meus amigos: Este nunca será o procedimento adequado.
Em se tratando de coisas divinas, não será conveniente procedermos com displicência.
Será melhor prestarmos atenção ao que dizem as escrituras:
"Se anuncio o Evangelho, não tenho de que me gloriar. Sobre mim está pesando esta obrigação. Ai de mim se eu não pregar o Evangelho".
I Coríntios, 9 v 16. Palavras de Paulo.
Ninguém imagine que a evangelização possa ser um hobby.
Será melhor escutarmos o gemido do Apóstolo: "Ai de mim se eu não pregar o Evangelho".
I Coríntios, 9 v 16.
Todos nós estamos comprometidos com o Altíssimo, para realização de missões em diversos setores da vida.
Mas existem vínculos especiais, e são estes que justificam a insistência com que somos convocados.
Quem assumiu compromisso ainda antes de reencarnar, com certeza se encontra classificado nesta categoria.
Este não pode fugir.
Não adianta recalcitrar como fez o profeta Jonas, que fugiu da tarefa e terminou prisioneiro no ventre de uma criatura do mar.
Deus espera dos pregadores sacrifício cem - expectativa de recompensa zero.
"Depois de ter feito tudo, considerai-vos como servo inútil" - eis a recomendação feita pelo Mestre.
Ninguém reclame com pressa a posse do seu salário.
Ninguém se iluda com o cântico da sereia que aponta jornada cor de rosa, dinheiro no banco e mil facilidades.
Isto é conversa p'ra boi dormir.
A única garantia oferecida pelo Cristo é que Ele permanecerá com os seus obreiros até a consumação dos séculos.
A sua paz será recompensa para os seus servidores:
"Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou. (...) Não se turbe o vosso coração nem se atemorize". João, 14 v 27.
No meio da situação mais complicada, o verdadeiro discípulo conservará aquela paz como característica da sua personalidade.
Outro prefixo que identifica o verdadeiro discípulo de Jesus é o trabalho.
"Quem coloca a mão no arado e olha para trás não é digno do Reino de Deus".
"Olhar para trás" significa distração e pouco apreço pelo que se está fazendo.
Jesus deseja servidores antenados e dinâmicos.
Quem se distrai revela falta de interesse.
Também no reino de Deus existe uma palavra chave que é usada nas empresas: Produtividade.
Para alcançar a tão sonhada produtividade, não existe outra receita senão amor pelo trabalho.
A benção de Deus será um subproduto da dedicação.
Quem ama o que faz permanece antenado com o mundo espiritual.
De forma criativa, cada um dos peregrinos deverá encontrar fórmula de conduzir a mensagem quanto mais longe possível.
Seremos cobrados pelos talentos recebidos e desperdiçados.
Nosso procedimento está sendo alvo de observação.
Para que se tornem autênticos servos, os evangelizadores deverão interagir com o mundo em volta deles.
"Brilhe vossa luz, diante dos homens, para que os homens vejam as vossas boas obras, e glorifiquem ao Pai que está nos Céus".
Mateus, 5 v 16. Palavras de Jesus.
Quando alguém se torna porta-voz do Alto, isto não acontece para crescimento do ego.
Neste "brilhe vossa luz" - devemos enxergar a luminosidade do nosso Cristo Interno.
É Ele quem deve ser glorificado.
Ninguém esqueça da promessa do Grande Mestre - "Eu estarei convosco todos os dias(...)".
Nesta parceria entre o Cristo e a nossa pobre alma, terá surgido algum motivo de louvor?
Ninguém se engane com falsas aparências. Ninguém ouse colher o botão de rosas que não é seu.
Todo este brilho, toda esta luminosidade, todo este louvor pertencem ao Nosso Cristo Interno.
Qualquer trabalho que terminar amaciando nosso ego, melhor fora que nunca tivesse sido feito.
Será mais proveitoso alguém calado no seu canto do que alguém produtivo proclamando suas virtudes.
- Eu fiz isto, eu fiz aquilo, eu descobri a roda.
Todo o mérito poderá ser queimado, na voragem do orgulho, meus amigos.
Nas mãos do homem soberbo, a tocha representará incêndio que destrói.
Nas mãos do homem humilde, a tocha se transforma em claridade que salva. .
Esta é a diferença entre os dois incêndios.
Numa praia da Grécia, de repente se formou violenta tempestade, e se ergueram perigosas ondas.
Todas as embarcações, num raio de muitos quilômetros, estavam ameaçadas.
A escuridão cegava os timoneiros.
Alcides Zorba subiu os muitos degraus da torre desativada, e acendeu a chama do farol.
Aquele ponto luminoso no meio da escuridão da noite guiou os homens do mar.
Ninguém descobriu o autor daquele gesto anônimo.
Somente Deus foi testemunha do seu ato benemérito e o seu nome foi registrado no Livro da Vida.
Isto revela que existem apóstolos de Jesus exercitando afazeres anônimos nos mais diferentes campos da vida.
O Evangelho nos revela que o servo de Jesus não está confinado numa igreja.
O apóstolo João, certa vez, interrompeu a marcha da comitiva de Jesus, para fazer uma denúncia:
"Mestre, vimos um homem, que em teu nome expulsava demônios, e lho proibimos, porque não te segue conosco".
Ele não pertencia à mesma igreja, e, portanto, não gozava dos direitos que eram privativos dos apóstolos.
Esta era a opinião de João Evangelista, como tem sido o escudo preferencial de inúmeros agrupamentos.
A linguagem é a mesma, hoje e ontem.
A resposta de Jesus, porém, é diferente da opinião questionável de seu apóstolo amado.
Jesus nunca foi defensor de seitas, e sua resposta é um primor de universalidade.
- "Não lho proibais" - ordenou o Mestre, vetando qualquer providência castradora contra o pregador anônimo.
Que ninguém violentasse o direito de ir e vir daquele apóstolo sem rótulo, que fazia idêntico trabalho.
"Quem não é contra vós é por vós".
Marcos, 9 vv 38 e 39.
As palavras do Nosso Rabi constituem censura direta ao apóstolo João, perdido na estreiteza do seu espírito sectário.
Mesmo gigantes, como João Evangelista, podem ter a visão obscurecida pelas muitas paixões que provocam cegueira.
Lembramos Sansão apaixonado por Dalila.
Lembramos Salomão fascinado por mil mulheres.
Todos os tipos de paixões cegam, e, no campo religioso elas talvez se manifestem mais prejudiciais, pois provocam a cegueira da alma.
O fanatismo é uma cegueira perniciosa, minhas senhoras e meus senhores.
Por isso, abrir os olhos destes e de outros cegos, pela força da palavra, é missão primordial.
- Mas ninguém faça confusão.
Será indispensável repetir:
Não estamos falando da cegueira dos olhos.
Existe uma escuridão mais terrível: A cegueira do coração
Será necessário que os peregrinos tratem, antecipadamente, desta cegueira das almas.
Esta talvez seja mais perniciosa e destruidora, porque nos torna desatentos e insensíveis.
Os peregrinos deverão manter-se vigilantes. Jesus foi muito claro, na definição de rumos:
"Ide, eis que vos mando, como cordeiros para o meio de lobos".
Mateus, 10 v 16.
Esta será sempre a missão de difusão do Evangelho: Atuar no centro das contendas, onde se faz mais necessária a presença da Boa Nova.
Jesus não deu moleza aos seus servidores.
Ele apontou o ponto nevrálgico onde o ensinamento era mais proveitoso e necessário.
Nada de seleção de grupinhos bem postos e politicamente corretos, todos com o mesmo crachá na altura do peito.
"Os sãos não precisam de médico", disse o Nosso Rabi.
Será preciso levar a palavra o mais longe possível, para tocar nas cordas de velhos violinos já esquecidos no lixo.
Almas desalinhadas com a ética sempre foram o móvel e objetivo do Nosso Rabi.
A Escritura diz: "(...) quem acredita nele não será confundido". Romanos, 10 v 11.
Tudo bem!
Você sabe disto. Eu também sei.
Mas e o povo, a massa daqueles que não pagam o dízimo e não freqüentam igrejas?
Aqui fora existe um bando de gente de sangue vermelho, que ninguém das religiões considera nobre ou fidalgo.
Entre eles, eu me incluo.
Estes também precisam ouvir uma voz independente, falando de um Deus de Misericórdia, sem ameaça da eternidade do Inferno.
Por que não conceder o benefício da atenção para estes pregadores anônimos?
Alguém que tenha coragem de dizer que o Diabo não existe.
Que Satanás é uma invenção dos teólogos.
Que Deus é essencialmente amor.
Se não fosse amor não seria Deus.
Sendo amor e sendo Deus, Ele não pode ser o autor desta falta de caridade que se chama Inferno Eterno.
.Será indispensável que a pregação apresente autêntico Pai Celestial, para que haja segurança na misericórdia do seu perdão.
Ninguém poderá invocar o seu nome sem conhecê-lo.
Como escreveu o apóstolo Paulo:
- "E como acreditarão naquele de quem nada ouviram? E como ouvirão se não há pregadores? E como haverá pregação se ninguém for enviado?"
Romanos, 10 vv 14 e 15.
Este foi o questionamento do apóstolo.
E logo em seguida, surge a sua fórmula para solucionar o dilema:
"(...) a fé vem pela pregação", diz Paulo.
"Sem fé é impossível agradar a Deus" é advertência das Escrituras.
E o pregador é convocado para divulgar o Evangelho.
Numa cidade do norte da Rússia viveu sapateiro pobre que se chamava Martin Avdéich.
Ele morava num porão, abaixo do nível da rua.
Através de meia vidraça, enxergava somente os pés de quem passava na rua.
O resto do corpo das pessoas ficava acima da sua linha de visão.
Pelos calçados, porém, ele reconhecia alguns transeuntes, pois muita gente usava calçados que eram consertados por ele.
Martin já vivera a bênção da vida familiar, mas a morte da esposa e dos filhos fora um golpe implacável.
O desespero do pobre homem, na época, fora tão grande, que ele se revoltara contra o próprio Deus.
Martin abandonou suas orações, e a descrença não tardou a tomar conta de sua alma.
Descrença e revolta o levaram até mesmo a pensar em suicídio.
Não fosse encontro que teve com amigo dos tempos da infância, e ele não teria suportado o golpe implacável.
- Por quê viver? Perguntara ele ao colega de escola. Se o destino nos reserva sempre o pior, será melhor morrer para fugir ao sofrimento.
Este amigo se tornara peregrino a serviço de Deus, e corria mundo divulgando as belezas da doutrina do Cristo.
- Leia e medite sobre os Evangelhos, lhe disse Ivan, e tenho a certeza que você voltará a viver em paz.
Foi tão eloqüente e sincera a prédica de Ivan, que aquele homem atormentado cedeu aos sábios conselhos.
Martin assumiu o compromisso de ler a Bíblia nos domingos e dias santos, mas, em pouco tempo, transformou aquilo uma prática diária.
Uma noite, bem tarde, ele chegou ao trecho em que um fariseu rico convidou Jesus para jantar em sua casa.
Naquela ocasião, mulher pecadora se aproximara do Mestre, lavando os seus pés com lágrimas.
E terminou por enxugá-los usando seus longos cabelos.
Martin ficou extremamente comovido com as palavras que o Nazareno disse ao fariseu:
- "Tu vês esta mulher, Simão? Entrei em tua casa, e não me forneceste água para lavar os pés. Ela, ao contrário encharcou meus pés com suas lágrimas e os enxugou com os seus cabelos. Não ungiste a minha cabeça com óleo; ela ungiu meus pés com bálsamo".
Lucas, 7 vv.44 a 46.
Martin sentiu uma pontada de inveja daquele fariseu, pelo Senhor lhe ter concedido a honra de visitá-lo em sua casa.
- No lugar dele eu me desdobraria em quatro, para honrar o Nazareno com todas as cortesias. Ah! Se Jesus batesse em minha porta, meu Deus... Eu nem posso imaginar o que faria para agradá-lo e honrá-lo.
Embalado por estes pensamentos, Martin se deixou cair pesadamente sobre o catre onde repousava.
E dormiu. Dormiu e sonhou.
Jesus se aproximou dele, no sonho, dizendo-lhe apenas uma frase:
- Amanhã, eu estarei em sua casa, para uma visita.
Martin acordou sobressaltado.
E passou o resto daquela tarde e noite, numa excitação incontrolável.
O sonho fora tão real, que ele não tinha a menor duvida quanto ao aparecimento glorioso do Divino Amigo.
Na manhã seguinte, antes do sol nascer, o sapateiro já se encontrava tomando sua sopa de legumes.
Todas as vezes que passava alguém com botinas não identificadas, ele corria para fora para ver o estranho de corpo inteiro.
Poderia ser Jesus!
Numa destas idas e vindas, ele percebeu o velho Stepánich limpando a neve em frente da casa do patrão.
O pobre operário tremia de frio.
Martin percebeu que ele não estava bem.
- Entre, venha beber uma xícara de chá, amigo.
Stepánich esvaziou o copo e se serviu dos biscoitos, dando sinais evidentes que se encontrava em jejum.
Martin tornou a encher o copo.
Ele dava atenção ao velho, mas não perdia de vista a meia janela.
Mantinha-se atento às botinas que transitavam por ali.
- Você está esperando alguém? Perguntou Stepánich, curioso.
E Martin desabafou:
- Ontem, eu li que Jesus foi jantar na casa de um fariseu, e este não o tratou como devia. Suponhamos que o Senhor me procurasse em minha casa. Pois saiba que eu sonhei com Jesus. E ele disse que hoje estaria aqui para me visitar.
Quando Stepánich ouviu aquilo, as lágrimas escorreram pelo seu rosto enrugado e envelhecido.
- Obrigado, Martin Avdéich, disse ele extremamente comovido. Você hoje me reconfortou na alma e no corpo.
Stepánich foi embora e Martin sentou-se para consertar botina.
Foi nesta altura que ele percebeu uma camponesa, lutando para agasalhar sua criança.
Ela apertava a criança em seu regaço, quanto possível, mas não conseguia agasalhá-la inteira.
A pobrezinha estava roxa de frio.
Martin foi ao encontro da mulher e a convidou para entrar.
Uma sopa quente acompanhada de pão foi colocada na mesa, e a moça lhe contou os motivos do seu desespero.
- Sou mulher de soldado, disse ela. Meu marido foi arrastado para a guerra, há oito meses. E não tenho notícias. Não consegui trabalho, e fui obrigada a vender tudo o que possuía. Ontem, entreguei na loja de penhores o meu último xale.
Para aquele homem que sofrera privações a vida inteira, o desabafo da mãe desesperada calou em seu coração como se fosse um punhal.
Profunda e desesperada piedade tomou conta da alma do pobre homem.
Martin, pressuroso, correu para os fundos e reapareceu com embrulho que continha casaco de seu uso pessoal.
- Pode levá-lo, mulher. É quente e confortável. Eu possuo outro igual e este não me fará falta.
A mulher pegou o casaco e rompeu em pranto:
- Que Jesus possa abençoá-lo, senhor, disse ela, demonstrando sua gratidão com lágrimas.
Martin revelou a mulher o seu sonho e a visita prometida pelo Divino Mestre.
- Quem sabe? Disse ela. E completou: Neste mundo tudo é possível.
Vestindo o agasalho quente, aquela mãe se afastou com o semblante mais desanuviado e feliz.
O casaco amplo e de tecido grosso, era suficiente para ela e para o menino.
- Tome isto, lhe disse Martin, entregando-lhe algum dinheiro: Ainda hoje, retire o xale da loja de penhores.
Quando a pobrezinha se afastou, por incrível que pareça, ela já ostentava um sorriso nos lábios.
Martin tornou a sentar-se na banca, para recomeçar o conserto da botina, tantas vezes interrompido.
O dia já ia alto e ele redobrou a vigilância.
Não queria que Jesus passasse desapercebido.
De repente, ele viu uma vendedora de maçãs, a poucos metros.
Quando ela colocou a cesta na calçada um menino de boné esfarrapado agarrou uma fruta e tentou fugir.
A mulher foi rápida.
Agarrou o garoto pelos cabelos, e já tinha nas mãos um cabo de vassoura para surrá-lo, quando Martin se aproximou.
- Vou levá-lo à delegacia, disse ela, demonstrando rancor.
Martin correu e interviu com brandura, mas energicamente:
- Deixe que ele vá embora, vovó. E, se dirigindo ao garoto, disse: Peça perdão a vovó, menino.
Ele obedeceu de forma desajeitada.
Chorando, o menino explicou que estava com fome.
Martin pegou maçã do cesto e a entregou ao garoto.
- Eu já lhe pago, vovó.
- Este capeta deveria mesmo era levar uma surra, disse a velha, bastante irritada.
- Ah! Se ele devia ser surrado por roubar uma fruta, o que deveria acontecer a nós pelos nossos pecados? Deus ordena o perdão exatamente para que nós também sejamos perdoados. Ele é uma criança, vovó. Nós somos adultos e a nossa obrigação de entender as leis da vida é bem maior.
- Isto é bem verdade, concordou a mulher. Mas eles estão ficando cada vez mais levados da breca.
Quando a vovozinha fez menção de levantar o saco às costas, o garoto deu um salto à frente.
- Deixe que eu carregue o fardo para a senhora, vovó. Estamos na mesma direção e não me custa.
Aquele menino aprendera com rapidez a lição do Evangelho.
Ela colocou o saco das maçãs nas costas do menino, e os dois caminharam juntos até que desapareceram na encruzilhada.
O Evangelho reunira mais aquelas duas almas.
Martin foi assaltado por enorme alegria considerando as intervenções felizes, que haviam acontecido naquelas horas de expectativa.
De repente, ele percebeu que não conseguia mais enxergar os furos no couro para passagem da linha.
Estava na hora de encerrar o expediente e Jesus ainda não chegara.
Então juntou suas ferramentas, varreu o chão e colocou lampião na mesa.
Depois, pegou a Bíblia e começou sua leitura.
Pretendia abrir o livro na seqüência do dia anterior, mas uma força estranha conduziu seus dedos para outro lugar.
Então, Martin ouviu passos, e olhou em volta.
- Sou Eu, disse alguém. A voz era sonora e límpida como gorjeio de pássaros em dia de primavera.
Embora não O enxergasse, ele acalentou a certeza que era Jesus.
Stepánich surgiu no canto da sala, para logo em seguida desaparecer sorridente.
- Sou Eu, repetiu a mesma voz.
E logo em seguida surgiu a mulher que o visitara, com a criança nos braços, e que ele agasalhara.
Ela sorriu para Martin, o bebê também sorriu, e os dois desapareceram na escuridão da noite.
- Sou eu, repetiu a voz mais uma vez.
E a velha da maçã e o menino apareceram, numa visão fugaz, diante dos seus olhos.
Os dois acenaram, juntos, sorridentes, para depois desaparecerem nas sombras.
A alma de Martin se alegrou.
E ele voltou à leitura do Evangelho, no trecho que se encontrava aberto, sobre a mesa.
As palavras do Livro Sagrado mais pareciam refrigério para o seu coração cansado.
"Porque tive fome e me destes de comer; tive sede e me oferecestes água; estive nu e me vestistes".
Mateus, 25 v 35.
Poucas linhas depois, Martin leu:
"Quantas vezes vós fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim que o fizestes".
Mateus, 25 v 35. Palavras de Jesus.
Martin compreendeu que Jesus, realmente, estivera em sua casa, naquele dia.
E o mais importante: Jesus mostrara o seu contentamento.
O Divino Amigo se alegrara com cada um dos seus gestos.
O Grande Mestre aprovara sua intervenção oportuna aplicada no socorro dos filhos da pobreza.
E o que era mais importante: Jesus fora bem tratado na casa do Sapateiro Pobre.
Louvado seja Deus.