Pistas Falsas Confundem

Data: domingo, 19 de abril de 2015

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Quando retornei do serviço, meu sogro me procurou, mostrando a mesma alegria de Colombo, no episódio do "ovo em pé".

- Resolvi o problema do chuveiro, ele me disse. Tomei banho sem a costumeira queda do fusível. O arame suportou. Estamos de parabéns!

Foi difícil explicar ao "velho" que o fusível era proteção e que um arame resistente poderia ocasionar verdadeiro desastre.

Que ele tinha que ser proporcionalmente fraco para interromper a corrente, em caso de anormalidade.

Naqueles tempos ainda não usávamos disjuntores. Qualquer problema o fusível derretia e a ligação era interrompida.

Pela cabeça do meu sogro arame grosso resolvera o problema.

Ninguém se surpreenda ou censure a inexperiência, pois todos nós temos limitações.

Todos somos aprendizes.

Até grandes pensadores podem mergulhar nas ondas do engano.

Mesmo especialistas, quando chamados a opinar em assuntos não muito conhecidos, pagam mico.

O incomparável historiador Gibbon observou que o cristianismo crescia enquanto o império Romano declinava.

Ele concluiu que o Cristianismo ajudou a destruir Roma.

Ele se encontrava de tal forma errado, que ninguém mais, posteriormente, insistiu no na mesma tese.

Mesmo provada como ideia errônea, muitas vezes certas teorias continuam sendo difundidas.

Nos Estados Unidos, o slogan de que o vencedor do Maine será eleito presidente sobreviveu mesmo após o registro de provas em contrário.

Toda a estatística, se não for manejada com cuidado, alimentará distorções.

À medida que a população se expande, e também a produção, os dados se multiplicam e se tornam mais complexos.

Alguém já disse maliciosamente, de forma tendenciosa:

- Cresce o número de estudantes em universidades, mas cresce paralelamente a internação de doentes mentais.

Análise apressada de repente aponta o ensino superior como causa de desajustes da mente.

- Os dados estatísticos não mentem, disseram estudiosos apressadinhos.

Qualquer par de resultados pode sugerir correlação.

Um deles é arbitrariamente apontado como causa do outro.

Assim, o manipulador de estatísticas "prova", entre aspas, que o ingresso em universidade causa doenças mentais.

Para ouvinte desprevenido, a observação adquire configurações de uma tendência.

A realidade dos fatos, porém, desmente a dedução tendenciosa.

E a experiência do cotidiano mostra inexistência de vínculo.

Os cientistas dizem que a maioria dos acontecimentos tem causas múltiplas que poderemos entender pensando num aglomerado.

Movimentos paralelos fornecem indícios, mas para cada indício correto ocorrem dúzias de indícios falsos.

E a ciência não se limita a indícios.

Ela é obrigada a continuar buscando até a demonstração de provas reais.

Por isso, antes de formularmos conclusões, deveremos investigar se todos os fatos foram levados em conta.

Se eles ainda não definiram rumo seguro, valerá aguardarmos maiores esclarecimentos para conclusão definitiva.

Os políticos, em época de eleições, e alguns pregadores em todas as épocas, são useiros e vezeiros em torcer os fatos.

Os primeiros para ganhar votos.

Os segundos para incentivar o fluxo de ofertas.

Dia destes escutei alguém interrogando certo pregador, através da Televisão:

- Qual o mais certo? Foi pergunta do telespectador: Entregar esmola ao pobre com fome ou direcionar a quantia para os cofres da igreja?

O doutrinador foi rápido no gatilho:

- A igreja deve ser a primeira contemplada, porque a igreja precisa de recursos para salvar almas. E almas valem mais do que corpos.

Esta última frase revela intensão de modificar a opinião do telespectador quanto ao destino mais acertado para entregar seu dinheiro.

O slogan "almas valem mais do que corpos" é o melado que serve de arrastão para desprevenidos contribuintes.

Eu vi no rosto do pregador a cobiçosa expectativa de embolsar eventual donativo. E ele se fez persuasivo quanto pode.

E o doutrinador foi longe na defesa da tese, passando pelo Antigo Testamento, pelos Evangelhos, e terminando na Epistola aos Coríntios.

Neste ponto o doutrinador interesseiro extrapolou.

Quem examina os capítulos 8 e 9 da Segunda Epistola aos Coríntios percebe de imediato que Paulo estava fazendo campanha para os pobres.

"O que muito colheu não teve demais," escreveu Paulo - "o que pouco colheu não teve falta".

II Coríntios, 8 v 15.

Isto significa que aqueles com depósito repleto descarregavam o excesso em favor dos menos favorecidos.

Os conselhos de Paulo apontam os benefícios da partilha.

Escutem este trecho conclusivo:

"Nesta ocasião" - escreveu Paulo - "o que tendes em demasia compensará o que eles têm de menos. No futuro, quando eles possuírem excesso, os socorristas de hoje serão beneficiados. E assim haverá igualdade".

II Coríntios, 8 v 14. (TEB).

Estas palavras não podem ser aceitas como recomendação de encher os cofres de organização religiosa.

Tal pressuposto é argumento de líderes dominados pela cobiça.

O raciocínio deles é falso e tendencioso.

É um ardil, sem apoio no texto que usou como base.

Este capítulo 9 da II Coríntios recomenda partilha.

-"Distribuiu, deu aos pobres, e a sua justiça permanece para sempre".

II Coríntios, 9 v 9.

Não existe o menor vestígio de favorecimento a entidades.

Ademais, Paulo, que enfrentou dificuldades sem patrocinadores, cortou pela raiz a chance de o tornarem patrono de arrecadações:

Atentem para o que ele escreveu:

- "A ninguém pedi prata nem ouro. Estas minhas mãos me sustentaram, a mim e aos meus companheiros".

Atos, 20 vv 33 e 34.

Paulo não se limitava ao desapego diante de mordomias.

Ele ainda utilizava recursos próprios para ajudar seus companheiros.

Em I Coríntios, 9 v 15, Paulo escreveu que "preferia morrer" a embolsar valores para difusão do Evangelho.

Curiosamente, em toda a minha vida jamais escutei pregador focalizando esta passagem: I Coríntios, 9 v 15.

Vocês já imaginaram viver viajando no primeiro século, sem avião nem automóvel?

Não era fácil.

O apóstolo Paulo fabricava tendas para o exército e tinha rendimento garantido aonde chegasse.

Depois de toda explicação, ficou evidente que a sementeira priorizava os pobres.

"Aquele que dá a semente ao que semeia, e pão para alimento, também suprirá e aumentará a vossa sementeira e multiplicará o fruto da justiça".

II Coríntios, 9 v 10.

Conhecendo o caráter do apóstolo, esta sua promessa só poderia ter se referido aos socorristas dos menos favorecidos.

A coleta nada tinha a ver com sustentação de pregadores.

Paulo sempre foi taxativo neste particular, como já expliquei baseado nas suas reações.

Ninguém se iluda com acenos patéticos, porque muita coisa que parece acontecer não acontece.

Vou contar historiazinha e vocês entenderão como são enganadoras algumas miragens da nossa imaginação.

A mulher telefonou para a delegacia e disse que estava falando com amiga.

De repente a ligação caiu e chegaram ruídos de pessoa ofegante.

- É quase certo que a Judite teve ataque cardíaco, explicou a mulher aflita, repassando suas preocupações ao delegado.

Policial correu ao domicílio, bateu, e não obteve resposta.

De repente, ele percebeu, pela janela, mulher deitada no chão ao lado do telefone.

- Opa! O caso é grave! Foi o pensamento do policial.

Ele pensou duas vezes, antes de arrombar a sólida porta, avaliando o enorme prejuízo que eventual destruição causaria.

Resolveu insistir, batendo na porta, vigorosamente, outra vez.

Para sua surpresa, a suposta vítima levantou e veio, ela mesma, atender.

Explicação: Judite estava muito cansada e dormiu, embalada pelo bate papo.

Deslizou para o chão, onde ficou entregue a profundo e gostoso descanso.

Se o policial fosse do tipo apressadinho, movido a indícios, teria estraçalhado aquela porta.

Definitivamente precisamos nos precaver de explosões da imaginação, porque pistas falsas enganam.

Cautela e atenção a todos os detalhes são recomendações para desmistificar possíveis miragens.

Isto explica nossa discordância diante deste pregador que colocou o socorro aos pobres em plano secundário.

Quem expressa ideia deste tipo desconhece o Espírito da Bíblia.

Assistência aos necessitados está no vértice das preocupações do ser humano.

"Qual será o proveito, se alguém disser que tem fé, mas não produzir obras? Pode, acaso, semelhante fé salvá-lo?"

"Alguém carecido de roupas e com fome o procura. Você lhe diz: Ide em paz, aquecei-vos e fartai-vos!"

Tiago, 2 vv 15 e 16.

Seus votos em favor do pedinte foram expressos em belos termos, mas inegavelmente faltou o essencial.

Será que esta omissão de socorro substituída por bonitas palavras será mais importante que a entrega de alimento e agasalho?

A interrogação não é nossa:

- A interrogação é de um dos apóstolos de Jesus chamado Tiago.

Tiago também disse o seguinte:

"A fé, se não tiver obras, por si mesma está morta. Alguém poderá dizer: Tu tens a fé e eu tenho as obras. Mostra-me esta tua fé sem as obras, e eu com as obras te mostrarei a minha fé".

Tiago, 2 vv 17 e 18.

Isto nos fornece respaldo para proclamar:

- "Fora da Caridade não há salvação".

E não é só matar a fome e a sede que se encontra neste preceito de vida eterna.

A caridade envolve espírito solidário que alcance todos os seres vivos.

Ninguém duvide: Ricos e pobres se encontram na fila de carências.

Todos merecem solidariedade.

"Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e o amor. O maior, dentre eles, porém, é o amor".

I Coríntios, 13 v 13.

Movidos pela fé, multidões se congregam nos templos, onde sacerdotes tomam posse de suas prerrogativas.

Eles sinalizam pistas de que a "salvação" é resultado de disciplina religiosa, e, especialmente, da generosidade nas contribuições.

- "Sem fé é impossível agradar a Deus", repetem eles.

Eles deixam claro que a fé será demonstrada pela intensidade das ofertas.

- Os templos são alicerces da fé. Ninguém pode crer ausente dos ofícios ministrados por sacerdote ungidos.

E as recomendações tendenciosas vão se multiplicando.

Se a Bíblia diz que é "impossível agradar a Deus sem fé"- e a fé é subproduto das igrejas, os devotos devem "salvação" aos templos.

E eles proclamam suas últimas pistas falsas:

- Antes dos esfomeados e carentes são os cofres da religião que devem receber ofertas e dízimos.

- Getúlio, nos informa o Crispim dos Anjos, com o rosto afogueado de excitação: Sabe que o gajo está certo? Veja que ele se encontra fundamentado na Bíblia! Tudo o que ele disse forma sentido. A fé é o cimento da devoção e a devoção só é aprimorada nas igrejas, e, portanto, ninguém fugirá aos tentáculos da religiosidade:

"Sem fé será impossível agradar a Deus", remata o Crispim, pensativo.
Quando o Crispim acabou de falar, eu lhe perguntei:

- Meu caro Crispim, você está lembrado do tema que estou tratando hoje?

- Sim, Getúlio. O tema é "Pistas Falsas Confundem".
- Exatamente, caríssimo Crispim: Tudo o que foi dito por este pregador da Televisão se encontra na categoria de "pistas falsas".

Se vivêssemos nos tempos de Davi e Salomão, eu concordaria com este pregador de que o templo e a religião eram centros de tudo.

O Salmista diz com entusiasmo e fé:

"Prefiro estar à porta da Casa do Meu Deus".

Salmo 84 v 10.

- Nós, entretanto, meu caro Crispim, nem estamos vivendo nos tempos de Davi e Salomão nem preceitos antigos tem validade para nossas vidas.

Jesus é o Nosso Cristo Planetário e o Evangelho deve ser nosso roteiro.

Pistas falsas não podem travar a caminhada ascensional dos filhos do Sermão da Montanha.

- "Senhor, disse a mulher samaritana para Jesus: Nossos pais adoravam neste monte. Vós, entretanto, dizeis que Jerusalém é o lugar onde se deve adorar?"

E Jesus lhe respondeu:

- "Mulher podes crer que a hora vem, quando nem neste monte nem no Templo de Jerusalém adorareis ao Pai. Já é chegada a hora quando os verdadeiros adoradores o adorarão em espírito e em verdade, e são estes que o Pai prefere".

João, 4 vv 19 a 23.

Perceba caríssimo Crispim, a revelação do Cristo:

Nem no monte Garizin, nem mesmo no Templo de Jerusalém, que foi apontado como "Casa do Meu Deus" pelo Salmista.

Para ele - o Salmista - no seu tempo, existiam liturgias especiais em lugares especiais.

Com Jesus, porém, nos tempos novos do Cristo, a coisa se modificou por completo.

Jesus foi peremptório:

Jerusalém e aquele monte haviam sido substituídos pela avalanche da "hora chegada".

Adoração, agora, é coisa íntima, no recôndito das almas, como ensinou Jesus.

"E quando orardes não seja como aqueles que gostam de orar, de pé, nas igrejas para serem vistos (...). Quando orares, entra no teu quarto, e, fechada a porta, orarás ao Teu Pai em secreto, e o Teu Pai que vê em secreto te recompensará".

Mateus, 6 vv 5 e 6. Palavras de Jesus.

Cada ciclo tem suas caraterísticas.

"Os profetas e a Lei vigoraram até João Batista. Desde este tempo vem sendo anunciado o Evangelho do Reino de Deus (...)".

Lucas, 16 v 16.

Dá pra percebermos a enorme diferença no padrão doutrinário entre Jesus e os antigos?

"Deus é Espírito e importa que O adorem em Espírito e Verdade".

Não serão cerimônias, hinos, danças contorcionistas, fórmulas litúrgicas, juramentos e exóticas invenções que modificarão esta realidade.

Nosso contato com o Divino é coisa íntima, espiritual.

O investimento do cristão é aqui, nas baixadas humanas, onde existem pessoas gemendo e chorando.

O Evangelho é claro:

- "Se alguém disser - eu amo a Deus e desgostar seu irmão - não passa de mentiroso, pois quem não ama o irmão que enxerga não ama Deus invisível".

I João, 4 v 20.

Usaremos o mesmo argumento do Evangelho, modificando ligeiramente as palavras:

- Será mais legítimo entregar ofertas a Deus que não precisa delas e sonegá-las ao necessitado que tem fome?

Este Pregador diz que o primeiro dinheiro pertence a Deus.

Será que o Pai das Alturas partilha idêntica opinião?

Jesus não partilhava.

A minha resposta também é negativa:

O Senhor entregou seu Filho Dileto para resgatar a dívida da raça.

Não fosse o sacrifício de Jesus e a Terra explodiria pelo crescimento da maldade e corrupção do homem.

Tamanha mostra de compaixão invalida esforços dos que se intitulam tesoureiros de Deus.

O amor Divino jamais esteve em vitrinas para venda.

Você nunca viu Deus sofrendo, mas entre os humanos o sofrimento é visível.

Será que o Altíssimo ficaria feliz, vendo alguém desviar recursos de assistência para engordar os cofres de confrarias religiosas?

Pistas falsas confundem caríssimos!

Tudo aquilo que ocorre debaixo do sol está sujeito a variadas interpretações.

Algumas até bastante divertidas.

O jornalista Arthur Brisbane vivia irritado com o teor dos palpites dos redatores turfísticos.

- Todo o bom cavalo tem ossos e coração fortes, explicava ele. Eu venceria sempre se examinasse as radiografias dos animais.

Para provar acerto da sua afirmação, mandou repórter tirar chapa radiográfica de cada um dos cavalos competidores.

O repórter novato não conseguiu radiografias, mas, temendo demissão alugou velho pangaré e tirou tantas chapas quantos eram os competidores.

Ignorando tratar-se de um único animal, Brisbane fez sua escolha e escreveu artigo explicando a teoria infalível.

Por uma destas coincidências incríveis o cavalo escolhido por Brisbane foi o vencedor do páreo.

Dali para diante, ninguém suportou a gabolice do chefe.

Este caso mostra como são controvertidos os problemas humanos.

Todas as pistas podem terminar numa tremenda confusão.

Nada no mundo é líquido e certo! Nada no mundo é unanimidade.

- Opa Getúlio, não avance o sinal - é o enérgico protesto do Crispim dos Anjos.

E ele continua suas observações, tentando me convencer.

- As virtudes de alguém moralmente justo são líquidas e certas, afirma o Crispim. Este que pratica justiça cem por cento é melhor ser humano que os outros.

- Pois saiba caríssimo Crispim, que mesmo neste ponto existem controvérsias.

A própria Bíblia aconselha:

- "Não sejas demasiadamente justo nem exageradamente sábio, porque te destruirias a ti mesmo". Eclesiastes, 7 v 16.

Eu li, alhures, sobre este assunto, o depoimento de mulher notável, que me impressionou: Ela disse:

- Se você tiver uma fraqueza faça dela uma força. Se, ao contrário, sentir-se muito forte, não abuse desta força, para não transformá-la em fraqueza.

Analisando este assunto, esclarecemos o seguinte:

Uma pessoa que se considera franca e sincera pode resvalar, de repente para falta de tato e até para crueldade.

Ela arrisca perder a delicadeza de conviver com harmonia pela excessiva franqueza.

Outra que ostenta esmerada educação pode descambar para falsidade, quando lhe fogem motivos para agradar o interlocutor.

Alguém de conversa franca e sincera não está longe de se tornar conhecido como turrão e mal educado.

Viventes extremamente equilibrados correm o risco de terminarem inseguros, indecisos e vacilantes.

Defesa sistemática de hábitos de saúde conduz à hipocondria.

Lealdade compulsiva fábrica fanáticos.

Cautela exagerada reforça o isolamento dos tímidos.

Humildade elevada ao cubo gera caráter fraco.

Pense nisto, com frequência, meu caro Crispim, para evitar a queda nos extremos.

Rompa seus hábitos, de vez em quando, evitando a fixação em arestas agudas que poderão machucar você.

Não force a barra nem se julgue herói.

Analise o que Jesus disse para o moço rico:

- "Bom é só Deus".

Ninguém se valha de indícios para condenar ou absolver.

- Pistas falsas confundem.

O que é pode deixar de ser e o que não é acaba sendo.

Dionísio Escobar, somente depois de envelhecido, tomou conhecimento do que acontecera.

Perturbado pelo remorso, o mordomo confessou autoria de furto, que acontecera trinta anos passados.

Cofre fora arrombado naquela tarde distante, na casa de Escobar.

Série de pistas incriminou seu filho único, e, na ocasião, o pai o expulsou de casa.

Nunca mais Dionísio tivera notícias do filho.

O moço desaparecera sem deixar vestígios.

Consciente de que cometera enorme injustiça, Dionísio, arrependido, contratou detetives para procurar o rapaz.

- Por favor, ele disse: Traga meu filho de volta.

Dispunham apenas de única pista: Nos tempos de escola, o menino Tito Escobar participara de torneios de xadrez e foi apelidado Paredão.

O detetive apostou nos torneios mais importantes.

Num domingo a tarde, em São Paulo, ele teve a sorte de chegar quando alguém estava recebendo prêmio. Seguindo impulso irresistível, fruto de intuição, o detetive aproximou-se e cumprimentou o vencedor do torneio, dizendo:

- Parabéns, Paredão. Hoje foi sensacional!

Por alguma razão desconhecida, o detetive acertara na mosca.

Tito Escobar finalmente fora encontrado.

Pai e filho se abraçaram, ambos felizes pelo reencontro, e não se falou mais no assunto. O perdão se encontrava de tal forma amadurecido que ocorreu tão natural como chuva de verão. Nem mesmo explicações de tornaram necessárias.

Louvado seja Deus.



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